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Estupidez no trânsito, os pedestrem são os que mais sofrem

Dois atropelamentos com vítimas fatais no domingo de Páscoa chamam atenção para as maiores vítimas da violência no trânsito

Por Camila Antunes
Atualizado em 5 dez 2016, 19h27 - Publicado em 18 set 2009, 20h31

Dito e repetido freqüentemente, o dado de que um motoqueiro morre nas ruas de São Paulo todo dia parecia difícil de ser superado. Porém, a morte de quatro pessoas atropeladas estupidamente no feriadão da Semana Santa trouxe à tona uma estatística ainda mais triste: na metrópole dos 6 milhões de veículos, registram-se em média dois pedestres mortos diariamente, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). No domingo (23), a dona-de-casa Maria Aparecida Possenti, de 35 anos, foi com o marido, Edilley, e o caçula, Anthonny Daniel, 8 anos, ver o filho mais velho, João Victtor, de 15, jogar futebol americano no gramado do Obelisco, perto do Parque do Ibirapuera. Nunca mais voltou ao modesto sobrado onde vivia, no bairro da Luz. Quando atravessava a Avenida Pedro Álvares Cabral a caminho de seu carro, ela se assustou com uma moto que avançava em alta velocidade na sua direção – apesar do farol vermelho. Seu marido conseguiu evitar que os dois meninos corressem para a calçada oposta, como Maria Aparecida, que acabou atingida em cheio. “Pelo estrondo, achei que seria difícil minha mulher sobreviver”, afirma Possenti. E estava certo. Com hemorragia interna, ela teve uma parada cardíaca e morreu quinze minutos depois. “Não me conformo com a irresponsabilidade dos condutores”, diz o agora viúvo. Por ironia, ele ganha a vida no trânsito: é motorista do Palácio dos Bandeirantes. Marcelo Capdevilla, o motociclista, alegou que furou o semáforo porque escapava de uma tentativa de assalto, versão confirmada por testemunhas.

No outro extremo da cidade, mais uma tragédia. Marcelo Macera, funcionário de um ferro-velho, foi com a mulher, Daiane Reinaoux da Silva, ao aquário de Itaquera. Levaram o filho, Pedro Henrique, de 2 anos, porque além de se distrair com os peixes o menino poderia aproveitar o parquinho que existe no local. “Meu neto adorava brincar nos balanços”, conta Ademir Macera, pai de Marcelo e avô do garoto. O casal resolveu aproveitar o dia ensolarado para, com Pedro no colo, encarar quase uma hora de caminhada até sua casa, no Jardim Helena. Perto do número 250 da Avenida Jacu-Pêssego, o passeio foi encerrado por uma camionete Ford Ranger desgovernada que subiu a calçada onde estavam. Os três foram atropelados. Testemunhas relataram que atrás da picape havia outro carro em alta velocidade, como se disputassem um racha. A polícia, no entanto, afirma não acreditar na hipótese de o acidente ter sido provocado por uma dessas corridas. Daiane morreu na hora. Seu marido e seu filho, apesar de levados às pressas para o hospital no helicóptero Águia, da Polícia Militar, também não resistiram. “Minha revolta é pensar que o motorista pode ter mentido para a polícia”, diz Ademir Macera. Indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar), José Antonio Janetta, de 45 anos, que guiava o veículo, pagou 3000 reais de fiança e foi liberado da delegacia na madrugada do acidente. Em seu relato à polícia, ele afirmou ter perdido a direção porque outro carro havia batido em sua traseira.

Dados da Secretaria da Segurança Pública indicam que o número de vítimas de assassinatos violentos, em queda desde 1999, praticamente empatou com o de acidentes de trânsito em 2007. Isso ocorreu porque as iniciativas para desarmar e conter o banditismo foram bem-sucedidas. Mas o paulistano ainda não se conscientizou de que o carro também se transforma numa arma letal se usado sem a devida responsabilidade.

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