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Os locais pioneiros de São Paulo

Selecionamos dez endereços precursores em suas respectivas áreas

Por Helena Bertho
Atualizado em 1 jun 2017, 17h29 - Publicado em 22 nov 2013, 17h58

São Paulo abriga hoje 2 546 agências bancárias, 410 hotéis, 205 hospitais, 95 parques (ou demais áreas verdes) e nove estádios de futebol. Com essa profusão de opções, érelativamente fácil encontrar locais como esses espalhados pela cidade. Até o fim do século XIX e as primeiras décadas do século XX, no entanto, alguns ramos de negócios, serviços e áreas de lazer ainda eram novidade por aqui. Estabelecimentos e espaços pioneiros chegaram mesmo a reinar sozinhos em seu nicho de mercado, sem concorrência, por anos a fio. Nesta e nas próximas páginas, você conhecerá a trajetória de alguns desses precursores, que deram os primeiros passos para transformar a capital em uma metrópolepródiga em alternativas.

OFICINA MECÂNICA — 1904

Das carruagens aos automóveis

O primeiro carro a circular em São Paulo foi um modelo a vapor trazido do exterior em 1893 por Henrique Santos Dumont, irmão do pai da aviação. Mas levou mais de uma década até que a primeira oficina mecânica especializada nessas máquinas abrisse as portas. Quem iniciou o negócio foi a empresa Luiz Grassi & Irmão, fundada em 1904 para construir carroças e carruagens. Logo em seguida, no entanto, os proprietários Luiz e Fortunato Grassi notaram o aumento no número de automóveis nas ruas e passaram a oferecer os serviços de manutenção nas instalações da indústria, na Rua Barão de Itapetininga, no centro. “Até os anos 20, quando as primeiras montadoras se estabeleceram no Brasil, era preciso desembolsar uma pequena fortuna para trazer o artigo de luxo do exterior”, diz Ricardo Oppi, professor de restauração do Clube do Carro Antigo. A empresa também seria pioneira na fabricação de ônibus, área na qual se especializou até seu fechamento, em 1970.

Luiz Grassi & Irmão. Rua Barão de Itapetininga, 37, centro.

 

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FACULDADE — 1827

Berço de presidentes, governadores e prefeitos

Sonhando com uma instituição para formar políticos, o imperador dom Pedro I fundou em 1827 uma faculdade de direito no convento do Largo São Francisco, onde já funcionava uma biblioteca. A escola cumpriu seu papel graduando doze presidentes da República, 44 governadores do estado e doze prefeitos da capital, incluindo o atual, Fernando Haddad. Escritores de renome como José de Alencar também passaram por ali. Em 1934, ela seria incorporada à então recém-criada USP.Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Largo São Francisco, 95, centro.

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SUPERMERCADO — 1953

Compras com carrinho

Hoje é natural entrar em um supermercado e escolher os produtos por conta própria, mas em 1953, quando o Sirva-se inaugurou sua primeira loja, na Rua da Consolação, a ideia de autoatendimento causava estranheza na população. Jornais chegaram a publicar reportagens para explicar o funcionamento do sistema. Até então, eram os empregados das mercearias que pegavam os itens nas prateleiras. Com 800 metros quadrados, o estabelecimento sofreu resistência no início: homens não queriam empurrar os carrinhos e clientes mais pobres ficavam constrangidos por não conseguir preenchê-los, o que levou a marca a oferecer cestinhas menores. Mas as ofertas e a aparência moderna conquistaram os clientes, e isso resultou na abertura de uma filial nos anos seguintes. Em 1965, o Sirva-se foi comprado pelo Grupo Pão de Açúcar, que mantém uma loja no mesmo endereço até hoje.

Sirva-se. Rua da Consolação, 2581, Cerqueira César.

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PENITENCIÁRIA — 1852

A cadeia silenciosa

Instalada na Avenida Tiradentes, a Casa de Correção começou a funcionar antes mesmo de sua inauguração, em 1852, recebendo seus primeiros internos ainda durante as obras. Os detentos viviam sob um regime criado nos Estados Unidos chamado de Auburn: durante o dia trabalhavam em completo silêncio e à noite dormiam em cela individual. As conversas eram proibidas até no refeitório. Bombardeado durante as revoluções de 1924 e 1932, o prédio permaneceu de pé e foi submetido à sua última reforma em 1938, quando ganhou o nome de Casa de Detenção — depois ficaria conhecido como Presídio Tiradentes. Abrigou presos políticos tanto da era Vargas (um dos célebres foi Monteiro Lobato) como da ditadura militar (entre outros, a presidente Dilma Rousseff). Funcionou no mesmo endereço até 1972, quando sua estrutura foi abalada pelas obras do metrô. Demolido, restou apenas o antigo arco da entrada, preservado como patrimônio histórico da cidade. O terreno foi usado para a construção do Teatro Franco Zampari, que serviu como estúdiopara a TV Cultura a partir de 1980.

Presídio Tiradentes. Avenida Tiradentes, 451, Bom Retiro.

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BANCO — 1856

Crédito do progresso

Em 1º de janeiro de 1856, o Banco do Brasil inaugurou sua primeira sede em São Paulo. Mas não se tratava de uma filial da matriz carioca. “Era autônoma, com acionistas ediretoria diferentes”, diz o historiador Ney Oscar Ribeiro de Carvalho. Sua função era oferecer crédito para financiar as despesas do Estado, em uma cidade que começava a prosperar com o ciclo do café. O atendimento a pessoas físicas só surgiu na década seguinte. O BB foi o único da capital até 1870, quando o English Bank of Rio de Janeiro abriu uma agência aqui. Em 1891, ele deixou a Rua São Bento e o prédio que seria ocupado depois pela Casa Fretin, loja de acessórios médicos que funcionou ali até 2002.Banco do Brasil.

Rua São Bento (esquina com a Rua da Quitanda), centro.

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CINEMA — 1907

A primeira sala exclusiva para filmes

No começo do século XX, diversos teatros e salões de festa realizavam sessões esporádicas de filmes vindos do exterior. O primeiro a dedicar-se exclusivamente à prática foi o Bijou Theatre, que abriu em 1907. Havia um horário por dia durante a semana, às 18h30, e dois aos domingos, às 13h30 e 19h30. “Eram exibidos de seis a doze curtas-metragens mudos, com duração entre dois e dez minutos, acompanhados por cantores ou sexteto de cordas”, diz o historiador José Inácio de Melo Souza. Duas das atrações da semana inaugural foram O Urso Sábio e Noite de Carnaval. O ingresso mais barato custava 1 000 réis, o que corresponde a cerca de 15 reais. O local fez sucesso até o fim de 1914, quando a obra de ampliação da Rua São João condenou o prédio, que acabou demolido.

Bijou Theatre. Rua São João, 19, centro.

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ESTÁDIO — 1901

O pontapé inicial

Um amistoso entre paulistas e cariocas (empate em 0 a 0) em 19 de outubro de 1901 inaugurou o primeiro estádio de futebol da capital, desenhado no centro de uma pista de ciclismo. Localizado em um terreno da família Prado arrendado para o Club Athletico Paulistano na Rua da Consolação, o Velódromo tinha capacidade para 2 000 pessoas. Sediou momentos históricos, como a primeira partida do Campeonato Paulista, em 1902 (na foto, a final de 1904, ano do tricampeonato do São Paulo Athletic Club). Em 1915, o espaço foi demolido para a abertura da Rua Nestor Pestana.Velódromo.

Rua da Consolação (esquina com a Rua Martinho Prado), República.

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HOSPITAL — 1884

Para doentes e apostadores

Fundada por volta de 1560, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia nasceu para oferecer serviços médicos a paulistanos de baixa renda e era bancada com doações de figuras da alta sociedade. Ao longo de vários séculos, a entidade filantrópica esteve instalada em locais como o Largo da Misericórdia, a Chácara dos Ingleses e a Rua da Glória. Em 1884, no entanto, ganhou uma sede definitiva com a construção de um hospital na Vila Buarque, onde está até hoje. Em sua história, a Santa Casa teve participação direta em episódios marcantes como a Revolução de 1932, durante a qual recebeu e tratou soldados feridos no confronto. O pioneirismo da instituição não se resume aos assuntos ligados à área da saúde. No início do século XIX, antes mesmo de ser erguido o hospital, foi ela a responsável pela primeira loteria da capital.Santa Casa de Misericórdia.

Rua Cesário Mota Júnior, 112, Vila Buarque.

Jardim-Luz
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PARQUE — 1825

Horto e zoológico

Criado em 1800 como um horto botânico, o Jardim da Luz tornou-se o primeiro parque público da cidade em 1825, época em que já recebia a visita de muitos moradores nos fins de semana. Ao longo do seu primeiro século de vida, passou por diversas reformas e ganhou melhorias, a exemplo do famoso coreto, além de novas espécies de plantas e fontes. Em 1865, com a inauguração da estação ferroviária vizinha, consolidou-se como um dos principais espaços de lazer da capital. Essa fase durou até 1930, quando perdeu seuzoológico e as grades que o circundavam, tornando-se principalmente uma via de acesso aos trens, o que desencadeou um período de decadência. Em 1998, ao ser incorporado à Pinacoteca, teve início um lento processo de restauração.

Jardim da Luz. Praça da Luz, sem número, Bom Retiro.

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HOTEL — 1850

Casa suspeita

Transportando sacas a caminho do Porto de Santos, os cafeicultores paravam em São Paulo no século XIX para pernoitar. Havia poucas hospedarias, em geral precárias, e os viajantes carregavam cartas de recomendação para ser abrigados na casa de moradores. “O primeiro hotel a surgir aqui foi provavelmente o Palm, nos anos 1850, que se chamou também Lion D’Or e Hotel des Voyageurs”, diz o vice-presidente de assuntos turísticos e imobiliários do Secovi-SP, Caio Calfat. Uma das primeiras construções de tijolosda capital, o estabelecimento situava-se em um sobrado no Largo do Capim (hoje Largo do Ouvidor). Com fama de ambiente promíscuo, era visto com reservas pela sociedade da época: uma mulher que dormisse ali certamente ficaria “malfalada”. Locais mais luxuosos só foram abertos anos mais tarde, como o Grande Hotel, em 1878.

Hotel Palm. Largo do Ouvidor, centro.

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