Continua após publicidade

Escolta privada enfrenta quadrilhas especializadas em roubo de cargas

Geralmente, os roubos funcionam quando há um informante dentro da rede de distribuição

Por Fabio Brisolla
Atualizado em 5 dez 2016, 19h29 - Publicado em 18 set 2009, 20h28

No último dia 24, os seguranças Francisco Fernandes e Antônio de Sousa foram escalados para escoltar uma carreta abastecida com televisores de um depósito no município de Cajamar, nos arredores da capital, para outro em Barueri, de onde as mercadorias seriam distribuídas para lojas. Eles seguiam o carregamento pela Rodovia Anhanguera num carro popular (sem blindagem) quando, a 3 quilômetros da Marginal Tietê, um veículo se aproximou com os faróis apagados. Debruçados sobre as janelas, os bandidos iniciaram uma troca de tiros. Baleado na perna, Fernandes, que estava ao volante, acionou o alarme conectado à central de rastreamento e tentou escapar ultrapassando o caminhão pelo acostamento. Sousa, no banco traseiro, descarregou seu revólver 38 e uma escopeta calibre 12 no bando. Sob uma saraivada de balas, espocando pela lataria e estilhaçando os vidros, o motorista acelerou até os ladrões desistirem da perseguição. “Ali achei que fosse morrer”, lembra Fernandes.

Ele acabou ferido por dois tiros, Sousa saiu ileso e a carga, avaliada em 800 000 reais, permaneceu intacta. Prejuízos financeiros, no entanto, são recorrentes no duelo travado no asfalto entre o crime organizado e os 2 140 seguranças envolvidos em mais de 9 000 escoltas mensais na região metropolitana de São Paulo. Apenas no primeiro semestre, o roubo de cargas em avenidas e rodovias representou prejuízo de 110 milhões de reais em mercadorias como produtos eletrônicos, medicamentos e cigarros. Foram 2 914 ocorrências, o equivalente a dezesseis casos por dia. “Oito em cada dez roubos registrados no estado acontecem num raio de 150 quilômetros da capital”, calcula Autair Iuga, diretor da Macor, responsável por 2 100 escoltas mensais pela cidade. As companhias de logística, que centralizam os estoques e distribuem os produtos, são o alvo preferencial das quadrilhas. Em depósitos com metragem equivalente a dez campos de futebol, essas empresas reúnem milhares de produtos de fabricantes diversos: das TVs de LCD, computadores e celulares aos remédios de grandes laboratórios. Para escoar essa produção às redes varejistas, as carretas seguem pelas marginais e Avenida dos Bandeirantes e por rodovias como Dutra e Anhanguera. “Mais de 100 milhões de reais em cargas passam diariamente pela Bandeirantes”, diz José Augusto Freire, do Grupo CTS, contratado para fornecer escolta aos produtos de 27 multinacionais.

O êxito de um ataque geralmente depende da colaboração de um informante dentro da rede de distribuição. “Tentaram roubar no mês passado quatro carretas com produtos de um mesmo fabricante”, conta Freire. Como não há logomarca nem identificação do produto no veículo, tudo indica que alguém dentro da fábrica repassou os itinerários. “Um informante costuma receber 6 000 reais por uma carga avaliada em 100 000 reais”, afirma Evandro Pamplona Vaz, diretor da GV, consultoria em gerenciamento de risco. Diante da ameaça dos roubos, as seguradoras passaram a incluir nas apólices a obrigatoriedade de escolta armada para cargas mais valiosas – um fabricante de eletroeletrônicos que transporta o equivalente a 300 milhões de reais por mês, por exemplo, gasta 400 000 reais com seguro. Para atenderem às exigências, os fabricantes precisam apresentar planos detalhados para a defesa de seu patrimônio. Alguns procedimentos seguem padrões determinados. Em uma tentativa de roubo, a função do vigilante é acionar o chamado botão de pânico, alarme silencioso instalado na viatura e conectado à central da gerenciadora de risco. Quando o sinal surge na tela do operador, imediatamente um comando via satélite bloqueia a porta de acesso à carga, trava o reboque e interrompe o funcionamento do veículo.

Para vencerem o sistema, os salteadores das rodovias ameaçam as escoltas com armamento pesado, quase sempre fuzis, e usam no mínimo três carros durante a abordagem. A comitiva clandestina inclui ainda um caminhão para transferência da carga antes que a ação seja detectada. Nas áreas urbanas, o planejamento é menor. Boa parte dos roubos ocorre em bairros afastados durante a entrega de redes varejistas. No ano passado, quando escoltavam uma entrega numa favela no Jaraguá, o segurança Flávio Monteiro mais três colegas armados foram cercados por traficantes. Diante do impasse, Monteiro começou a negociar com os marginais. “Eles ficaram o tempo todo apontando as armas para mim. Precisa ter jogo de cintura nessa hora”, diz o vigilante, que, ao menos naquele dia, depois de muita conversa, conseguiu concluir seu trabalho.

No rastro das cargas

Continua após a publicidade

* 2 914 roubos de carga ocorreram em avenidas e rodovias da região metropolitana no primeiro semestre

* 110 milhões de reais em mercadorias foram roubados no mesmo período

* 73 empresas de segurança fornecem serviços de escolta na cidade

* 275 reais é o preço médio que elas cobram por uma escolta de três horas (com dois seguranças em um carro)

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de R$ 39,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.