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Entrevista: Marcelo Branco, secretário de transportes de São Paulo

Há quase um ano no cargo, político também é presidente da CET

Por Carolina Giovanelli, Catarina Cicarelli, Daniel Salles, Giovana Romani, Isabella Villalba, Manuela Nogueira, Mauricio Xavier e Tomás Chiaverini
Atualizado em 5 dez 2016, 18h12 - Publicado em 2 abr 2011, 00h51

Veja São Paulo — O senhor está há quase um ano no cargo. Quais são os pilares da sua administração?

Marcelo Branco — São três linhas básicas de ação. A primeira é o aumento da mobilidade, com priorização do transporte público. Sem isso, você está sendo injusto socialmente. Se existe uma via que pode comportar 500 pessoas, em vez de cinquenta, é natural que o poder público olhe com mais atenção para o meio de transporte que possibilita isso. A segunda é uma visão ambiental do sistema. Em todo o mundo, o setor de transporte é o que produz a maior quantidade de poluição. Atuamos para melhorar a qualidade do combustível, priorizar combustíveis não fósseis e reduzir a quantidade de energia utilizada. O terceiro ponto é a proteção à vida: o volume de mortos e feridos no trânsito é muito expressivo. Em seis meses, implementamos 4.250 novas faixas de pedestres na cidade.

Veja São Paulo — Alguns especialistas afirmam que a CET está sucateada. Está mesmo?

Marcelo Branco — É preciso definir o que é estar sucateada. A CET tem uma capacidade técnica muito grande e faz um serviço benfeito. Mas o problema da cidade é muito complexo. Exige sempre investimentos, e eles foram feitos nesta gestão. Acabamos de entregar a substituição total da frota de carros da companhia. Do ponto de vista da frota, não está sucateada, é 100% nova. Do ponto de vista do material, também não. Hoje todos os agentes possuem palmtop e estamos colocando rádio em todas as viaturas. A CET tem necessidades de manutenção de equipamentos e prédios, mas não é sucateada. É uma empresa com um desafio muito grande e que dá uma resposta satisfatória, dentro do possível.

Veja São Paulo — E em que projetos a secretaria está atuando?

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Marcelo Branco — Foi uma mudança de paradigma ter voltado a participar das intervenções metroviárias. Não é legítimo que a prefeitura de São Paulo não participe dos investimentos no metrô nem da busca por soluções de dimensionamento das linhas. Já foi investido 1 bilhão de reais desde o início da gestão José Serra, em 2005. E será investido mais 1 bilhão até o fim de 2012. O outro grande projeto é o do corredor de ônibus da Radial Leste. Ele é fundamental para aquela região. Hoje em dia, 55% dos paulistanos utilizam transporte público, enquanto 45% usam o individual. Se uma pessoa vir que o corredor proporciona um trajeto de dez minutos, enquanto de carro leva trinta minutos, vai optar pelo ônibus. E, se ela tirar o carro da rua, o ônibus vai andar ainda mais rápido. Temos de acreditar nesse círculo virtuoso. Em um primeiro momento, vai complicar mais para o carro. Mas, para mim, vale a pena.

Veja São Paulo — Em 2010, foram aplicados 6,9 milhões de multas na cidade. Os 528 milhões de reais obtidos são reinvestidos na secretaria?

Marcelo Branco — Em São Paulo, gasta-se algo em torno de 700 milhões de reais em operação do tráfego, equipamentos, educação e prevenção de acidentes. Usam-se esses 528 milhões e a prefeitura completa o resto. Mas o dinheiro não é direcionado diretamente para a secretaria, é operado por um fundo municipal, de cujo conselho gestor eu participo.

Veja São Paulo — Atualmente são 2.450 marronzinhos nas ruas. É preciso aumentar esse número?

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Marcelo Branco — Não, é suficiente. E hoje 62% das multas são feitas por equipamentos, 27% pelos marronzinhos e 11% por PMs.

Veja São Paulo — Cicloativistas reclamam que só ciclovia não adianta, é preciso compartilhar faixas com os demais veículos. O que pensa disso?

Marcelo Branco — Concordo com esse desejo, mas a secretaria precisa zelar pela segurança das pessoas. Eu gostaria que os carros respeitassem as bicicletas, mas essa não é a realidade de hoje. Vamos criar esse conceito de compartilhamento na ciclofaixa, inicialmente no fim de semana. Até o meio do ano, essa experiência será implantada no Brooklin.

Veja São Paulo — Há alguma chance de o rodízio ser ampliado?

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Marcelo Branco — Não é uma hipótese com que trabalhamos hoje. Faria diferença em um primeiro momento, depois ocorreria uma acomodação. A pessoa acaba comprando outro carro, o que do ponto de vista ambiental é muito ruim. Porque geralmente é um carro mais velho, que polui mais.

Veja São Paulo — Como está o projeto de criação de 64 edifícios-garagem?

Marcelo Branco — A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho está realizando um estudo dos modelos que podem ser implantados. Em cada região há uma especificidade, algumas pedem parceria privada, outras precisam de recurso público.

Veja São Paulo — Há um plano para aumentar a abrangência das vias monitoradas pela CET?

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Marcelo Branco — Eu acho que esse número usado pela imprensa, fornecido pela CET, de quilômetros de congestionamento não é a melhor medida. Usamos o índice de mobilidade: o volume de congestionamento dividido pelo volume de vias analisadas. Avaliamos as regiões com mais problemas. Um número maior de quilômetros monitorados não representa necessariamente um índice maior de congestionamento, porque o cálculo é proporcional.

Veja São Paulo — Segundo dados de sua assessoria, a velocidade média na cidade em março foi de 36 km/h pela manhã e de 22 km/h à tarde. No teste realizado por VEJA SÃO PAULO, verificamos que, no horário de pico, anda-se em São Paulo na velocidade de um carrinho guiado por controle remoto. Até quando esses números serão tão baixos?

Marcelo Branco — Se eu pegar qualquer cidade do mundo, vou achar uma via que, em determinado horário, também anda nessa velocidade. Isso só mostra que o sistema mundial de transporte em veículo individual é um sistema falido. Assim não vamos chegar a lugar nenhum. A saída é o transporte público.

Veja São Paulo — O senhor pega trânsito na cidade?

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Marcelo Branco — Sim, ando de carro e de moto.

Veja São Paulo — O secretário de Transportes de uma cidade como São Paulo sempre vai estar mais sujeito a críticas do que a elogios. O que motivou o senhor a encarar a missão?

Marcelo Branco — Eu venho de uma família de servidores públicos: avô, tios-avôs, pai, mãe… Meu avô foi diretor de concessões da prefeitura por volta de 1920. Meu pai, Samuel Murgel Branco, foi professor da USP e diretor de pesquisa da Cetesb durante o governo Franco Montoro (1983-1987). Meu tio Adriano Murgel Branco foi secretário de Transportes na mesma gestão. Trabalhei com ele em uma empresa de consultoria ligada a transportes e planejamento estratégico para administrações públicas. Fiquei lá por dez anos. Então é uma vocação que vem da família. Você acaba se projetando naquelas pessoas que admira e vê o benefício que pode trazer para a sociedade.

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