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Disco voador

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Conheço várias pessoas que já viram óvnis. Uma amiga dirigia à noite, sozinha, na estrada, quando um objeto voador a acompanhou por quilômetros, emitindo uma circunferência de luz sobre seu carro.

– Senti uma grande paz – garantiu.

Quem não ficou em paz fomos nós, os amigos. Há pouco tempo, ela se defrontou com três lobos-guarás e bateu papo com uma onça-pintada em um condomínio nos arredores de São Paulo. Ultimamente, recebe a visita de um gnomo em seu jardim. Não há testemunhos de nenhum desses eventos. Só me sentirei aliviado se a vir voando como a Fada Sininho. Um conhecedor me explicou que existem os alienígenas benéficos, mas que outros capturam seres humanos para experiências científicas. Já tenho medo de assaltante, de batida no trânsito. Vou ter de me preocupar também com ETs?

Uma cantora garante ter recebido o implante de um chip quando abduzida. Não entendi o motivo. Será para ouvir sua voz esganiçada? Eu não compro um CD dessa senhora, e os extraterrestres botam um chip? Bem, talvez isso dê uma idéia do nível de seu gosto musical. Puxa! Recentemente assisti a uma reportagem com pessoas abduzidas em um canal de TV por assinatura. Uma loira angustiada revelava ter sido pega várias vezes:

– Eu não sei por que fazem isso comigo! – lamentava-se.

Francamente, eu também não imagino. Se eu fosse um ET e tivesse de escolher uma única criatura do planeta para levar de férias, seria aquela americana velhusca de cabelos tingidos, com tique nervoso em um olho? Bem, talvez os lá de fora não sejam muito exigentes. Alguns parecem ser troncudos, baixinhos, grosseiros. Outros, calvos e orelhudos. Cada espécie tem seu padrão de beleza, mas o deles não parece muito promissor.

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Uma paranóia atinge os interessados no tema. Dizem que o governo tem dados, mas não quer revelar. Cientistas da Nasa costumeiramente tomariam chá com alienígenas. Certa ocasião, pilotos e passageiros de um avião que decolou de São Paulo afirmaram ter sido acompanhados por um estranho aparelho voador. Explodiu uma onda de rumores. Um amigo garantiu:

– As bases aéreas brasileiras vivem captando sinais, mas escondem.

Qual seria o motivo de tanto segredo? Um regime para emagrecer alienígena que fará a fortuna de quem detiver a fórmula? Riscos de um surto de turismo no espaço?

– Medo de armas secretas – explicou meu amigo. – E do pânico na população.

Talvez, mas não faria sentido. Os astecas teriam se dado melhor se soubessem do potencial agressivo dos espanhóis. Aliás, os dirigentes do mundo conseguiriam manter mistério em torno de assunto tão fascinante? A Carla Bruni resistiria a cantar um hino de saudação em francês? O Lula não contaria nem para a dona Marisa? Ela não falaria para o filho? Ele…

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A questão virou um campo fértil para invencionices. E pirações generalizadas. O pior é que eu acredito em vida fora da Terra. Acho impossível estarmos sozinhos. Só que a loucura em torno é tanta que tudo parece uma grande piada.

Certa vez, eu trabalhava em uma revista e ocorreu um desses supostos avistamentos. Encomendamos fotos. Vieram várias. Nunca vou esquecê-las: mostravam um objeto voador redondo, com abas largas e as estrelas ao fundo.

– É a prova! É um disco voador! – exclamei.

Meu chefe, mais experiente, comentou:

– Pode ser. Mas talvez seja um chapéu.

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Olhei melhor e concordei. A parafernália em torno da vida extraterrestre é enorme. Mas talvez tudo seja tão simples e corriqueiro como um chapéu.

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