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Depois da série ‘Giganto’, pilares do Minhocão ganham novas cores

Fotografias gigantes dão lugar a obras independentes de grafite; nova intervenção artística divide moradores da região 

Por Luisa Coelho
Atualizado em 5 dez 2016, 15h15 - Publicado em 17 fev 2014, 16h58

Seria uma galeria a céu aberto, não fosse o concreto que liga o centro à Zona Oeste da cidade, no elevado Costa e Silva. Uma das construções mais polêmicas de São Paulo, o Minhocão é acusado de poluir visualmente a cidade, além de degradar a região por onde passa. Nos últimos tempos, no entanto, o lugar tem concentrado expressões artísticas de pessoas de diferentes pontos da cidade (e de fora dela), que fazem dos pilares que sustentam o viaduto verdadeiras telas.

Recentemente, a estrutura recebeu a série Giganto, com fotografias hiperdimensionadas de habitantes da região, clicadas pela artista Raquel Brust e instaladas pela técnica de lambe-lambe. O projeto, autorizado pela subprefeitura da Sé, era parte do festival PhotoEspaña.br, promovido pelo Sesc em parceria com a versão internacional do evento. 

O fim da exposição estava previsto para 25 de janeiro, mas até semana passada as fotos gigantes ainda eram vistas nos pilares, ainda que algumas já degradadas e cheia de intervenções. Foi durante o processo de limpeza pelos agentes da prefeitura que os artistas João Lelo e Medo resolveram ocupar o espaço, e acabaram tendo suas obras apagadas. “Tivemos pressa e não esperamos passar o cinza”, contou o artista que assina apenas como Medo. Ele voltou ao lugar quase uma semana depois para fazer uma nova pintura, mais “agressiva”, segundo ele.

“Sou do centro e aquela área não me inspira a pintar pássaros e flores. O ambiente é pesado, poluído e barulhento”, afirma Medo, que foi impossibilitado, pela polícia de terminar seu trabalho, na semana passada. “Eles disseram que era preciso ir à prefeitura e pegar uma permissão por escrito para pintar a pilastra”, contou.

Essa agressividade é o que repudia Berenice Dib, artista plástica e proprietária da Elvis Arts, loja de molduras, reproduções artísticas e afins na Avenida Amaral Gurgel. “Eu sou artista plástica, restauradora, fiz curso fora do Brasil e pinto o tempo inteiro. Para mim isso não é arte, é uma figura de revolta, de agressão. A arte tem que transmitir coisas boas, Romero Britto só transmite alegria”, opina a empresária, que diz pagar a um artista, a quem denomina “grafiteiro de verdade”, para ilustrar as paredes de sua loja. 

Morador da região há 35 anos, Robson Medeiros também prefere as paredes cinzas, e é da opinião de que quem quer ver arte deve ir até o museu. Seu amigo Carlos Alberto, no bairro há 20 anos, discorda. “O que for feito para melhorar esse elefante branco aqui é bem-vindo. Dá um colorido a um lugar totalmente ermo.”

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João Lelo diz que gosta de saber sobre as reações positivas e negativas, mas garante que isso não interfere na sua forma de fazer. Com formas “chapadas”, como ele chama, e coloridas, o artista plástico carioca deixou impresso em uma das primeiras pilastras de quem sai do terminal Amaral Gurgel a obra Mãe e Filha, que ilustra dois peixes. 

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‘Provocações silenciosas’

Outros artistas que deixaram suas marcas pela região foram o trio baiano Samuca Santos, Rosane Andrade e Tarcio Vasconcelos, que cursaram artes plásticas juntos, em Salvador. Rosane, assim como Tarcio, reside em São Paulo. A autora da série Ausentes, que mostra pessoas falando no celular, afirma que não se considera grafiteira, mas que o formato é apenas um suporte para seu trabalho com base em desdobramentos e “provocações silenciosas” à sociedade.

O que ela chama de resultado final de sua arte pode ser exemplificado na foto abaixo, que ela postou nas redes sociais com a seguinte citação do teórico Guy Debord: “À medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho se torna necessário. O espetáculo é o sonho mau da sociedade moderna aprisionada, que só expressa afinal o desejo de dormir. O espetáculo é o guarda desse sono.”

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Seu amigo, sócio e conterrâneo Tarcio expressa no trabalho sua paixão pelo mar e pela cultura afro-brasileira. “Meu trabalho conta história e aquele é uma espécie de retrato meu. Mudei para São Paulo há seis meses e quero deixar marcada a minha relação com o mar.”

Samuca, em sua primeira visita a São Paulo, viu as colunas todas cinzas, recém pintadas, e aproveitou para deixar sua assinatura, que ele acredita ser uma forma de apresentar seu trabalho e respeito aos locais, de mostrar suas origens. Com base no surrealismo, deixou impressa no Minhocão uma das imagens da série Realidade Submersa. Junto à figura, a mensagem em latim “O que é a verdade”, escrita de ponta-cabeça, questiona os passantes, segundo o artista. 

Assim como na série Giganto, os atuais trabalhos ocupam, em sua maioria, o lado dos pilares vistos por quem vai em direção ao centro. Samuca explica que ali é mais visível por ter maior fluxo, além de ter as paredes lisas. Ele conta que pintou do outro lado por a parte preferida já estar ocupada. Entre os preteridos, ainda há espaço cinza para ser preenchido e completar a galeria quase a céu aberto. 

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