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Paulistanos pagam até 1.000 reais em cursos de palhaço

Sem pretensão seguir nos picadeiros, alunos querem usar a experiência na vida e no trabalho

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 18h17 - Publicado em 18 fev 2011, 23h46

Entre os sonhos de infância do serralheiro Emerson Antônio Barros, de 37 anos, o maior era ser palhaço. De 7 a 11 de fevereiro, ele organizou sua rotina de trabalho, em Carapicuíba, e, por cinco noites, participou de uma oficina de clown, ministrada pela diretora teatral Cristiane Paoli Quito, no Centro Cultural b_arco, em Pinheiros. Desembolsou 710 reais e, assim como a maior parte dos quinze colegas, não pretende recuperar o investimento no circo. O serralheiro quer mesmo é elaborar brincadeiras para divertir a filha de 2 anos e, quem sabe, usar a arte em algum projeto social. Hoje, cursos como esse levam a um aproveitamento que vai muito além dos limites do picadeiro e dialogam tanto com a vida do participante como com o mercado profissional.

O aluno pode usar o que aprendeu para diminuir a timidez, facilitar a comunicação ou simplesmente para relaxar. A própria Cristiane Paoli Quito, que há duas décadas se dedica ao clown, reconhece que a arte mudou seu jeito de ser. “Estudei dois anos na França e, quando voltei, os amigos não me reconheciam”, conta ela. “Estava muito mais solta.”

Longe da obviedade, os alunos não aderem de imediato aos figurinos coloridos, às maquiagens fortes e ao nariz vermelho. As aulas são baseadas na elaboração de histórias, em improvisações e no trabalho de expressão por gestos e olhares. “Professores, psicólogos, empresários e advogados são os profissionais que mais nos procuram”, afirma Marcio Ballas, um dos idealizadores do grupo Jogando no Quintal, que oferece em média seis cursos por mês.

A aposentada Reginaceli Americano Freire lamenta não ter descoberto o clown durante as três décadas em que trabalhou com treinamento de recursos humanos. “Teria sido uma profissional mais completa e com maior compreensão das pessoas”, diz ela. Disposta a aproveitar o tempo livre, Reginaceli ingressou em uma oficina para “brincar” e encontrou motivações mais nobres. Como voluntária de um projeto voltado para meninos de rua, a aposentada organiza apresentações em comunidades carentes de Atibaia (SP). “Percebi que, além de relaxar, ainda posso presentear os outros.”

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Essa relação do palhaço com a filantropia ganhou força graças ao trabalho desenvolvido desde 1991 pelos Doutores da Alegria. A ONG formada por atores que levam diversão à ala infantil dos hospitais também criou cursos, com duração que varia de dois a oito meses, para melhor adaptar os palhaços à rotina hospitalar. Os interessados são da área da saúde, como médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, mas a procura fez com que o foco fosse estendido para curiosos. “Só salientamos a seriedade do trabalho. O voluntário precisa dar conta do compromisso e não deixar o paciente esperando se surgir um churrasco no fim de semana”, afirma Soraya Saíde, coordenadora de formação do grupo.

Outro cuidado também é lembrado pela atriz e professora Bete Dorgam. Nos cursos que ministra, ela não aceita mais de 25 alunos nem a presença de adolescentes. “Trabalhamos com questões subjetivas, como a capacidade de a pessoa errar e tentar tirar proveito disso. Não é todo mundo que está pronto ou disposto a enfrentar desafios como esse.”

O ator Hugo Possolo, que limita suas aulas à formação profissional, rejeita a atividade como terapia. “Arte não é divã e serve para provocar”, diz ele. O diretor do grupo Parlapatões ressalta que esses cursos não podem ser encarados como solução para problemas alheios e sim como uma tentativa de fazer a pessoa redescobrir um espírito brincalhão esquecido na infância.

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A atriz Gabriela Duarte é um bom exemplo. Escalada para interpretar seu primeiro personagem cômico, a Jéssica da novela “Passione”, exibida até janeiro, Gabriela matriculou-se em um curso de três meses para testar novas possibilidades de interpretação. “Eu estava muito apoiada em uma zona de conforto, e o clown me mostrou quanto é bacana não ter medo de se expor ao ridículo e aprender a improvisar diante do inesperado”, conta a atriz. No caso de Gabriela, o sucesso da personagem confirma o resultado.

QUATRO LUGARES QUE OFERECEM AULAS

Curso de Clown: Bete Dorgam. 14/3 a 27/6, segundas-feiras, 10h às 13h.

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Local: Quintal de Criação. Rua Medeiros de Albuquerque, 381, Vila Madalena. Tel. 3477-1622.

Valor: 800 reais

Curso de Clown: Gabriella Argento. 15/3 a 28/6, terças-feiras, 20h às 23h.

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Local: Quintal de Criação. Rua Medeiros de Albuquerque, 381, Vila Madalena. Tel. 3477-1622.

Valor: 800 reais

Curso Treinamento de Palhaço: Cristiane Paoli Quito. 15/3 a 19/7, terças-feiras, 10h às 12h.

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Local: Espaço. Rua Alves Guimarães, 1374, Pinheiros. Tel. 3862 4049.

Valor: 1 040 reais

Palhaço para Curiosos: Doutores da Alegria. 15/3 a 3/5, terças-feiras, 19h30 às 23h.

Local: Galpão dos Doutores da Alegria. Rua Alves Guimarães, 73, Pinheiros. Tel. 3061-5523, ramal 37.

Valor: 670 reais.

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