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Mundo, vasto mundo

Confira a crônica da semana

Por Mário Viana
28 jul 2017, 18h34

Uma das leis não escritas do capitalismo prega que se algo está à venda é porque existe alguém que compra. Isso pode valer nos shopping centers, nos supermercados, nas feiras livres e até nos endereços do poder. Duvido que na República Independente do Trânsito Engarrafado essa lei tenha muitos defensores.

Que o sujeito preso dentro do carro queira comprar pano de prato, chocolate, carregador de celular e água mineral é até compreensível. Que alguns se lembrem de presentear a fofa com uma dúzia de rosas meio vencidas ou com uma caixa de frutasdoconde no ponto vá lá. É a chamada compra por impulso. Entendo até mesmo quem pechincha por um minion inflável, mais feio que a fome.

O que me intriga de verdade é ver algum vendedor de rua oferecendo enormes e coloridos mapasmúndi, como se fosse a coisa mais natural do comércio. Mais que o vendedor, atiça minha curiosidade saber quem compra um mapa hoje em dia. Anos e anos de engarrafamento nas costas, e não me lembro de ter visto uma só transação comercial envolvendo um motorista estressado e um mapamúndi, desenrolado ou não.

Vou dar de barato que, sim, existe mais gente do que sonha nossa vã filosofia comprando mapas a cada sinal vermelho. A pergunta que paira, contudo, é: para que serve um mapamúndi em tempos de internet, enciclopédias virtuais e outras paradas tecnológicas? Sem falar que, de vez em quando, o planeta passa por uma crise existencial e onde havia um país surgem quatro, quase sempre em guerra. O mapa tem de ser atualizado constantemente.

Quem compra um mapa de 2 metros quadrados pode estar planejando apenas decorar uma parede da casa. Em vez de naturezamorta, palhacinho chorando ou imitação de Romero Britto, a pessoa pendura um pouco de cultura na sala. Naqueles momentos em que faltar assunto com as visitas, sempre se poderá procurar onde fica a BósniaHerzegóvina. “Olha só, fica perto da Bulgária!” — e todo mundo digere a informação que não vai mudar a vida de ninguém.

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Ter um mapamúndi pode ser também uma maneira de marcar o seu lugar no planeta. É como se, espetando um alfinete de cabeça vermelha no lugar de São Paulo, a criatura estabelecesse contato imediato com algum habitante de Rovaniemi, na Lapônia. O mapa nos coloca em pé de igualdade com o resto do mundo.

Mapas estão sempre ligados a alguma ideia de riqueza: o “mapa do tesouro”, o “mapa da mina” e outros documentos atirados ao mar em garrafas antigas povoam a imaginação de todas as crianças desde os primeiros filmes de piratas na TV. Ter o mundo espalhado na parede de casa é um passe livre para tantos países. Um bilhete único que não nos tira do sofá, mas nos faz viajar assim mesmo.

Produtos relacionados ao mapamúndi não fazem o mesmo sucesso nos faróis da cidade. Você não vê ninguém vendendo globos terrestres ou atlas geográficos pelas esquinas. Os primeiros podem enfeitar a estante ou até servir de luminária de mesa (há alguns bem bacanas nos shoppings). Dependendo da capa, os atlas fazem bonito na mesa de centro. Mas nem de longe ameaçam o comércio de rua dos minions infláveis.

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