Continua após publicidade

Ho-ho-ho, Carol

Leia a crônica da semana

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 dez 2016, 18h30 - Publicado em 22 dez 2016, 18h00

Por Ivan Angelo

É o primeiro Natal de Carolina com a família. Seus olhos curiosos de 1 ano e 5 meses se abrem para nunca vistas maravilhas. Na árvore natalina brotam frutos de variadas espécies, formas e cores: bolas coloridas, estrelas, flores, bombons, pirulitos, pacotes de presentes, anjinhos, luzes piscantes, Papais Noéis, renas, trenós, porta-retratinhos — em que a carinha dela se irmana à de sobrinhos, irmãs e cunhados —, velas, sininhos, fitas vermelhas, bichinhos vários, bonecos de neve, caixinha de música… Atrações que o olhar não esgota. Na mesa da ceia, arranjo de apelos aromáticos e visuais que ela, tão nova, já aprendeu a decifrar, dedinho indicador estendido a exigir: “Dá!”. Na sala ruidosa, crianças, vozes de adultos a chamá-la, gingle bells, ho-ho-ho, bate o sino, bate o sino, sino de Belém, já nasceu o deus menino para o nosso bem, celulares armados no modo foto, olha pra cá, Carol, olha o passarinho!, estalam dedos para chamar sua atenção, olha pra mamãe, Carol!, caras sorridentes, abraços, a gostosa fraternidade, braços estendidos, vem pra Nana, Carol!, vem pra Bebel, tia Carol!, joga um beijo para o Thi!, e ela joga dois, o João também quer!, e ela premia sua bochecha, ah, que falta fazem a Nena, a Cacá e o Fábio! — esse é o vozerio de amores e afetos aquecidos pelo Natal. Ao redor da árvore, chamada para receber os presentes, farfalhar de papéis no desfazer dos pacotes, e ohs!, e ahs!, e o matraquear de sons dos brinquedos…

Ela vai se lembrar de tudo isso? — menina, mocinha, adulta, ela se lembrará? Talvez não deste Natal precisamente, não está na idade de gravar eventos, pois tem o cerebrozinho ocupado com aprendizagens. Alguma coisa ficará e se somará… Foi com lembranças somadas que a irmã mais velha montou a árvore que agora a encanta, e vem encantando seus filhos.

Recuando no tempo: de que me lembro dos meus Natais de menino? Alguma coisa, talvez, dos 4, 5 anos para a frente; de antes, nada. Não havia árvore, só o presépio, feito e montado por toda a família. Papel grosso de sacos de cimento, grude de polvilho espalhado nas folhas, pó de pedra polvilhado por cima, secagem, montagem das folhas endurecidas imitando uma gruta, colinas e montanha, musgo imitando vegetação, e ovelhas, burrinho, vaquinha, bercinho de palha, Menino Jesus, Maria, José, os três reis chegando do Oriente, mais bichinhos de celuloide, e estava feito, para mostrar com orgulho à vizinhança. Presentes? Singelos brinquedos pedidos por uma cartinha que a mãe escrevia e entregues silenciosamente na madrugada por um misterioso Papai Noel, colocados junto aos sapatinhos de cada um, abaixo da janela. Como esquecer tal milagre?

Continua após a publicidade

Antes de mim: de que se lembrava minha mãe dos seus Natais de menina? Não de muita coisa. Inesquecíveis a roupa e os sapatinhos novos, sempre, todo ano, e a Missa do Galo, crianças brincando de roda na rua até tarde, cantigas, bolo e doces.

Mais atrás no tempo: o que nos contava nosso avô, de que se lembrava? Da consoada, boas comidas tarde da noite, histórias sobre o nascimento em Belém, cantorias, e presente nenhum, que Papai Noel não sabia onde ficava a Fazenda dos Angicos.

Recuando: no Soneto de Natal, Machado de Assis fala de um homem que relembra o Natal alegre dos “dias de pequeno” e tenta transportar as sensações antigas para um poema, mas não consegue, e fecha: “Mudaria o Natal ou mudei eu?”.

Que a pequena Carolina cresça sem perder seus Natais, sem ter de recorrer ao verso desiludido de Machado, mas revivendo-os como faz sua irmã, que montou a árvore que agora a encanta.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de R$ 39,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.