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A batalha do alalaô

Confira a crônica da semana

Por Redação VEJA São Paulo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
23 fev 2017, 19h55

Por Mário Viana

Foi-se o tempo em que passar o Carnaval aqui era aquela pasmaceira. Vivia-se na única cidade do Brasil onde o indivíduo podia comprar o jornalão de domingo ainda de madrugada, durante uma caminhada pela Avenida Paulista. O couro estava comendo no resto do país, as cuícas roncavam até não poder mais, e o paulistano ali, lendo notícias como se fosse um dia qualquer.

Os tempos mudaram muito. A folia se instalou de vez em nossas ruas e quase ninguém sai de madrugada para comprar jornal. Até porque as bancas da Paulista nem ficam mais abertas 24 horas.

Quem vê as multidões atrás dos trios elétricos pelas nossas ruas pode não acreditar, mas, nos anos 80, dava para contar nos dedos os blocos que atraíam muita gente. Em sua maioria, eram bandinhas mantidas por carnavalescos apaixonados, que saíam tocando Mamãe, Eu Quero e pouco inovavam o repertório. Era melancólico mesmo — guardadas as exceções de sempre.

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Acontece que, além de inovarem o repertório, os blocos deflagraram uma batalha urbana. De um lado, eles, os foliões, unidos e em grande número. Do outro, os desesperados com o baticum generalizado. Uns resvalam no mau humor, outros exageram na diversão.

Jovens adultos criados em pequenas comunidades interioranas, que vieram morar na Vila Madalena como modo de retornar aos tempos dourados da infância, estão desesperados. Durante alguns dias, seu reduto é invadido por foliões alucinados, que trocam qualquer Coisinha do Pai por namoros apimentados na primeira coisa parecida com um muro — que pode ser até os fundos de uma igreja.

Para esquentarem a temporada e fugirem das tempestades de verão, alguns blocos organizaram “rodas de samba indoor”. Em inglês soa chique, mas é o velho baile de salão mesmo. Uma banda no palco emenda marchinhas, sambas e outros hits dançantes, enquanto a plateia transpira como se estivesse numa sauna finlandesa. Mas lugar de bloco é na rua.

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Vivemos numa cidade onde qualquer espaço conquistado pelo ser humano (mesmo que espremido entre outros milhares de criaturas purpurinadas) é uma festa. Numa aldeia de 12 milhões de habitantes, fica difícil acertar o senso comum: o ziriguidum de uma turma fatalmente atrapalha o sossego de quem quer aproveitar o feriado para botar a leitura em dia ou fazer o filho pequeno dormir.

Precisamos investigar o que fazem cariocas, baianos e pernambucanos anti-Carnaval quando chega fevereiro. Saem da cidade? Compram tampões para os ouvidos? Se sua opção é se trancar em casa, desista. Caso sua rua esteja no trajeto de um bloco, amanhã haverá confete, serpentina e outros adereços sapecas por todo canto. Sem falar na marchinha-chiclete que você vai se pegar cantando.

Se você leu até aqui esperando encontrar solução para o impasse, perdeu a viagem. É gente demais para contentar, não tem jeito. Talvez a saída esteja na continha de menos da velha aritmética. O Carnaval, contando os prés e pós, dura poucos dias. Haverá onze meses e uns quebrados para a cidade de sempre. Deixe a criançada sambar. Depois você se vinga com um Torneio de Novenas.

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