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Claudinei Pedrotti Junior: drogas e dívida

Usuário de cocaína, ele tentava recomeçar a vida ao lado da esposa evangélica

Por João Batista Jr., Juliana Deodoro e Nataly Costa
Atualizado em 1 jun 2017, 17h33 - Publicado em 20 set 2013, 20h30

Claudinei Pedrotti Junior vivia atormentado por traumas familiares e pessoais .Aos 39 anos, era dono de um salão de beleza em um bairro simples de Osasco, na Grande São Paulo, onde morou com a família até o ano passado, antes de se mudar para Cotia, também na região metropolitana. Ao lado da mulher, Suelen Cristina, de 26 anos, e dos filhos, Pedro Henrique e Vitória Cristina, de 7 e 2 anos, dividia o mesmo terreno com outras três famílias. Estava com a luz cortada, não pagava aluguel havia um mês e não declarava imposto de renda fazia dois anos. Para Pedrotti, ser devedor era uma vergonha e uma contradição: ele tinha nascido em uma família paulistana de classe média e via os parentes próximos vivendo bem, sobretudo as três irmãs. Sempre comentava com os amigos e clientes que já fora rico um dia e podia sair da situação ruim com uma herança que estava prestes a receber.

+ Quando uma família termina em tragédia

Na sexta (6), como de costume, a família deixou a casa em Cotia e seguiu para Osasco. Por volta da meia-noite, todos voltaram juntos no Escort, que foi estacionado na garagem, e entraram em casa. Os vizinhos não ouviram mais nenhum barulho e, no domingo (8), uma das crianças do terreno viu os corpos pelo vidro lateral: a mãe estava deitada em um beliche contra a parede, o pai com os dois filho sna cama de casal ao lado. “No fogão havia uma panela de carne moída e outra de arroz, além de um prato sujo. Perto das camas, uma garrafa de refrigerante pela metade”, conta o delegado Andreas Schiffmann, que comanda a investigação no setor de homicídios de Carapicuíba. Os restos de comida e bebida estão sendo analisados pela perícia. Desconfia-se que estejam contaminados por chumbinho, usado para matar roedores. O que reforça a suspeita é o estado dos corpos: todos tinham sangramento e sinais de diarreia, típicos de envenenamento. O laudo sobre isso será concluídoem um mês. Na parede da cozinha, havia aseguinte frase escrita com um lápis verde: “Deus me perdoe. Não consegui cuidar dos meus filhos”. A polícia acredita que a caligrafia seja compatível com a de Pedrotti. “É uma das principais evidências contra ele”, afirma o delegado Schiffmann. Essa questão também está sob análise de especialistas.

 

Processado por uso indevido de arma de fogo em 2008, Pedrotti chegou a ficar um mês no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros e foi condenado a três anos de prisão, mas recorria em liberdade. A essa altura, já era usuário de cocaína, mas afundou mesmo no vício em julho de 2012, quando viveu o que considerava ser a maior tragédia de sua vida: seu filho mais velho, Claudinei Pedrotti Neto, de 18 anos, fruto do primeiro casamento, foi encontrado morto no mar de Paraty (RJ). A polícia fala em afogamento, mas o pai tinha certeza de que Neto fora assassinado e repetia isso para os mais próximos.

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Pedrotti era conhecido por ser um homem simpáticoe comunicativo, porém explosivo, sobretudoquando estava sob efeito da droga. Habilidoso,consertava os brinquedos das crianças dos arredoresem Cotia e construiu um carrinho de bebê parapassear com Vitória e as bonecas. Há pouco tempo,comprou máquinas de costura e começou a fazercamisetas, que vendia aos vizinhos a 10 reais cadauma. Pensava em se mudar para um lugar maior eabrir uma confecção. Para isso, mesmo devendoem Cotia, deu o sinal do primeiro aluguel de umanova casa em Osasco, perto do salão.

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 Sua personalidade era oposta à da esposa, evangélica, que trabalhava com ele como manicure. Reclusa, a mulher rezava muito, não interagia com os moradores da rua e, apesar de jovem, não tinha amigos. Para ficar com Pedrotti, ela enfrentou a mãe e o irmão policial, que eram contra o relacionamento. Suelen chegou a sair de casa há dois meses, ameaçando se separar caso o marido não parasse com as drogas. “Na ocasião, eles discutiram feio na rua”, comenta uma vizinha. A manicure raramente aparecia no colégio do filho Pedro Henrique — buscá-lo era tarefa do pai, assim como participar das reuniões escolares. “Às vezes ele vinha pegar o menino no meio da tarde porque os dois faziam terapia desde a morte do mais velho” ,conta Sebastiana Ferreira, diretora da Escola Municipal Messias Gonçalves da Silva, em Osasco, onde o garoto cursava o 1º ano. Mesmo com os problemas familiares, Pedro Henrique era um menino dócil e ativo. Adorava andar de bicicleta e de vez em quando levava algum colega da rua para dormir em casa. Carinhoso, ficava feliz quando o pai chegava para buscá-lo na escola com Vitória nos braços.

 

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