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Personagem da Renascença Árabe é tema de documentário brasileiro

“Constantino” será exibido na 7ª Mostra Mundo Árabe de Cinema

Por Bruno Machado
Atualizado em 5 dez 2016, 17h04 - Publicado em 27 jun 2012, 17h12

No dia 11 de setembro de 2001, enquanto as Torres Gêmeas, em Nova York, sofriam um atentado terrorista, o cineasta paulistano Otávio Cury desembarcava na Síria para uma viagem turística. Na única noite em que passou em Homs, a 160km da capital Damasco, mencionou o nome de Daud Constantino Al-Khoury, seu bisavô. Minutos depois lhe trouxeram um livro com o título “Obras Completas”. O autor era o homem que, para o cineasta, havia sido apenas um professor refugiado em São Paulo na década de 1920.

O livro veio para São Paulo na bagagem de Cury, que por dois anos estudou árabe e contou com o auxílio de tradutores para trazer à luz um importante objeto histórico: poemas e cinco peças de teatro escritos por Al-Khoury no final do século XIX. A obra revelou ainda que o professor e escritor fora também jornalista e um dos principais nomes da chamada Renascença Árabe, movimento político e cultural contra a ocupação otomana.

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Oito anos depois, o documentarista retornou à Síria para reconstruir a história de seu bisavô, retratada em “Constantino”. O filme poderá ser conferido nesta quinta-feira (28), no CineSesc, como parte da programação da 7ª Mostra Mundo Árabe de Cinema. A fita ganha ainda outras duas sessões: no dia 30, na Cinemateca; e, em 17 de julho, no Centro Cultural Banco do Brasil.

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Redescoberta do Oriente

Além de Al-Khoury, “Constantino” narra a trajetória de outro importante personagem: Shakir Mustafa, então ministro da Informação em Damasco em 1964, responsável por achar os manuscritos perdidos do professor e publicá-los. Embora Al-Khoury já fosse reconhecido pela importância histórica, sua obra permanecia oculta.

Um dos primeiros a produzir textos em árabe, depois de 400 anos de controle otomano, Al-Khoury foi também um pioneiro da dramaturgia síria. Em 1891, ele encenou em Homs “A Princesa Geneviève”, espetáculo europeu escrito aos moldes de “Otelo”, de Shakespeare. Considerado transgressor, o professor foi perseguido  pelos mais conservadores, que chegaram a incendiar um teatro onde seu grupo se apresentava. A perseguição fez com que ele fugisse para São Paulo, onde morreu em 1939.

No seu retorno à Síria, Cury enfrentou dificuldades com as polícias de Homs e Damasco durante as filmagens, que duraram três meses. Devido aos últimos acontecimentos políticos que balançaram o país, muitas das pessoas que trabalharam com o cineasta ou foram entrevistadas por ele agora estão presas.

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Quase onze anos depois do 11 de Setembro e no embalo da atual Primavera Árabe, “Constantino” estreia com um significado especial para o cineasta: “O mundo árabe passa por diversas renascenças e revoluções, como a que meu bisavô presenciou e a que estamos vendo acontecer agora. A Síria que buscava liberdade no final do século XIX não é muito diferente da Síria de hoje, que luta por democracia”.

Para o paulistano, essa é a mensagem do filme, que ultrapassa os limites da busca pessoal e se insere num importante momento histórico. “Meu bisavô escreveu ‘façamos do amor uma religião’. Hoje isso pode parecer clichê, mas, para a sua época, foi algo revolucionário e talvez ainda seja.”

Formado em agronomia pela USP, Cury estreou em documentários com “Cosmopolis” (2005), exibido em diversos festivais nacionais e internacionais. Nele, o cineasta apresentava um retrato da cidade de São Paulo através de imigrantes de diversos lugares.

 

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