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Chuva: nove saídas para o caos causado pelas tempestades

VEJA SÃO PAULO ouviu dez especialistas, que apontam um conjunto de soluções para impedir alagamentos, quilômetros de lentidão no trânsito e até mortes provocados pelos temporais na cidade

Por Fábio Soares, Maria Paola de Salvo e Sara Duarte
Atualizado em 5 dez 2016, 19h31 - Publicado em 18 set 2009, 20h27

1. Integrar a ação da prefeitura de São Paulo com a de outros municípios da região metropolitana

Qualquer gotinha d?água que cai em 36 dos 39 municípios da Grande São Paulo tem como destino os rios Tietê, Tamandua-teí e Pinheiros. Eles são responsáveis por drenar uma área de 5 650 quilômetros quadrados, onde vivem 19 milhões de pessoas. Ou seja, o aguaceiro que atingiu Santo André e São Bernardo do Campo aumentou os alagamentos em São Paulo. “Por isso, é preciso pensar em soluções regionais e conjuntas”, afirma o engenheiro hidráulico Aluísio Pardo Canholi. Em 1998, ele ajudou a elaborar o Plano Diretor de Macrodrenagem, que serve para orientar as ações e obras na Região Metropolitana até 2020. Muito do que já deveria estar pronto, no entanto, não saiu do papel. “A região está preparada para chuvas de até 60 milímetros e não de 80 milímetros, como a que tivemos na terça”, diz Canholi.

2. Acelerar a construção de piscinões

O Plano Diretor de Macrodrenagem prevê que a região metropolitana tenha, em 2020, 100 reservatórios antienchentes. Até agora, 42 ficaram prontos, sendo dezessete na capital. Quatro estão em obras. Para cumprir a meta, seria necessário implantar cinco por ano. Ocupando uma área de até 40 000 metros quadrados, cada uma dessas bacias gigantes é capaz de armazenar 200 milhões de litros de água ? o equivalente a 105 piscinas olímpicas ? e custa cerca de 20 milhões de reais. “O mais difícil e caro é conseguir áreas para desapropriação”, aponta Ubirajara Tannuri Felix, superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee).

3. Implantar parques ao longo dos córregos em vez de canalizá-los

A canalização de córregos já não é solução para as cheias. “Se retificarmos todos os pequenos cursos de água, ela vai chegar ainda mais rápido aos rios, aumentando o risco de inundações”, explica André Reda, professor de engenharia do Mackenzie. É possível recuperar córregos plantando árvores ou jardins nas suas margens. Além disso, esses parques linea-res ajudam a inibir o despejo de entulho e esgoto: ao ver a área recuperada, a população tende a preservá-la.

4. Intensificar as operações cata-bagulho e multar quem joga lixo na rua

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No ano passado, as operações cata-bagulho realizadas pelas subprefeituras recolheram 14 100 toneladas de móveis velhos, pneus e outros detritos. É pouco. Sempre que uma tempestade cai sobre a cidade, vê-se uma quantidade enorme de sujeira boiando sobre as águas. “O lixo jogado nas ruas vai parar nas galerias e entope todo o sistema de drenagem”, afirma Orlando Rodrigues Camargo Filho, coordenador-geral da Defesa Civil.

5. Aumentar o número de áreas verdes para diminuir a temperatura média na cidade

“Quanto mais urbanizada a região, maior a probabilidade de que ela se torne uma ilha de calor e atraia temporais”, diz o meteorologista Marcelo Schneider, do Inmet. De acordo com o Atlas Ambiental da prefeitura, em bairros como o Ipiranga e a Mooca, com vias pouco arborizadas e carência de parques e jardins, a temperatura do solo gira em torno de 31 graus (às 10 da manhã, em setembro), 4 graus mais elevada que em regiões repletas de verde como o Alto de Pinheiros. A atual administração inaugurou dezessete parques. Mas no quesito plantio de árvores deixa a desejar: em quatro anos, foram 550 mudas, ou pouco mais de dez por mês.

6. Criar incentivos fiscais para tornar São Paulo mais permeável

Cerca de 45% de toda a área da cidade é impermeável. Campeões desse ranking, os distritos da Bela Vista e da República têm cerca de 90% de suas ruas cobertas por asfalto. Além de não absorver a água, essa capa de concreto na superfície faz aumentar a velocidade das enxurradas. Para reverter o quadro, é preciso criar brechas drenáveis. “A tendência mundial é estabelecer incentivos fiscais e econômicos para aumentar a permeabilidade do solo”, conta o engenheiro Eduardo Mario Mendiondo, professor do departamento de hidráulica e saneamento da Escola de Engenharia da USP de São Carlos. “Quem tivesse áreas verdes ou um reservatório para água da chuva poderia, por exemplo, ganhar desconto no IPTU.”

7. Cumprir à risca a Lei de Zoneamento e o Plano Diretor

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Toda vez que se constrói uma casa em área de manancial ou com tamanho maior que o previsto na Lei de Zoneamento, contribui-se para a ocorrência de inundações. “A prefeitura deveria aproveitar momentos como este, de enchentes, para promover campanhas de conscientização, falando sobre o perigo das construções irregulares”, propõe o urbanista Candido Malta. O Código Florestal exige também uma faixa mínina de 30 metros de largura com vegetação às margens de rios e córregos. “Favelas crescem sem controle e invadem esse espaço. A falta de área verde impede a absorção da água”, diz a geógrafa Kátia Canil, do Laboratório de Riscos Ambientais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas.

8. Limpar, reformar e ampliar as galerias pluviais

A cidade de São Paulo tem 2 850 quilômetros de galerias pluviais, mas a prefeitura não consegue limpar mais que 680 quilômetros por ano. “O subsolo tornou-se uma caixa-preta e somente na hora da enxurrada é que se vê que as galerias precisam de reforma”, afirma a urbanista Marta Grostein, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Após a chuvarada desta semana, devem ser reformadas as da Avenida Nove de Julho, Aclimação e Lapa.

9. Adotar pequenas soluções localizadas

Uma delas é a lei de 2002 que torna obrigatória a construção de reservatórios, chamados de “piscininhas”, em propriedades particulares e públicas que tenham área impermeabilizada superior a 500 metros quadrados. Essa água pode ser reutilizada para regar jardins ou ser despejada na rede pública depois de passado o momento mais crítico de chuvas. “Menos de 1% dos imóveis da cidade tem esse reservatório”, diz Marcos Penido, secretário adjunto de Infraestrutura Urbana e Obras. “A solução é fazer com que as construtoras respeitem o limite de impermeabilização de, no máximo, 85% da área do terreno.” A mesma lei estabelece ainda que 30% do terreno de estacionamentos seja coberto por piso drenante, como brita ou pedregulho. Sem essas medidas, o estabelecimento não conseguiria renovar seu alvará.

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