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Jaguaré: elementos do cerrado permanecem vivos

Um terreno de 1 500 metros quadrados abriga vegetação da época do Padre Anchieta

Por Mariana Barros
Atualizado em 5 dez 2016, 18h46 - Publicado em 28 Maio 2010, 23h05

No bairro do Jaguaré, na Zona Oeste, há um terreno congelado no tempo. Árvores baixas e retorcidas, arbustos de folhas ásperas e grama brotando de uma terra clara e dura reproduzem a paisagem avistada pelo jesuíta José de Anchieta (1534-1597) quase 500 anos atrás. Naquela época, quando a atual metrópole ainda era o povoado de São Paulo dos Campos de Piratininga, sua vegetação se alternava entre campos de cerrado — daí a incorporação de “campos” em seu nome — e áreas de Mata Atlântica. Com o passar dos anos, no entanto, esse cenário foi dando lugar a ruas, prédios e praças. Perdeu, assim, as suas características. O clima ameno, propício para o desenvolvimento da maioria das espécies, aliado ao desconhecimento das pessoas sobre a vegetação nativa, levou a cidade a viver uma invasão de plantas forasteiras, trazidas tanto de outras regiões do país quanto de outros continentes. “Ao andarmos pelos bairros, vemos hoje mais exemplares que não são daqui do que originais”, afirma o ambientalista Ricardo Cardim, mestrando em botânica pela USP. No fim do ano passado, porém, ele deparou com um museu vivo. Espremida entre um hipermercado e um condomínio residencial, havia uma formação muito semelhante às descritas nos primeiros relatos da flora de São Paulo. 

Mario Rodrigues

O ambientalista Cardim: apelo à prefeitura

No terreno de 15 000 metros quadrados, tamanho aproximado de três Parques Mario Covas, localizado na Avenida Paulista, convivem tipos remanescentes do cerrado paulistano. Figuram entre eles jacarandá-paulista, mimosa-do-cerrado, tarumã-do-cerrado, açoita-cavalo, orelha-de-onça, araçá-do-cerrado e língua- de-tucano — nomes populares das plantas comumente encontradas nesse bioma. A última aparece nos registros do botânico Aylthon Brandão Joly (1924- 1975), fundador do departamento de botânica (atualmente biologia vegetal) da Unicamp e autor de um dos principais livros de classificação de plantas, usado até hoje nos cursos superiores de biologia e agronomia. Fotos feitas por ele em 1950 nas proximidades do Butantã revelam o mesmo exemplar existente nessa área do Jaguaré. “É uma relíquia que merece ser tombada”, diz Cardim, que decidiu notificar a prefeitura da sua descoberta. O resultado foi que, no início deste mês, o secretário do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge, se prontificou a criar uma reserva biológica no local. “Há elementos do cerrado, embora já existam espécies invasoras”, afirma Jorge. “Se necessário, faremos uma reconstituição da área, para que se aproxime ao máximo da flora nativa.”

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