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Centro de tratamento para usuários de crack funciona em casa invadida

Projeto usa suco de limão e café para ajudar os dependentes químicos; imóvel no Sacomã atende 68 pessoas

Por Veja São Paulo
Atualizado em 5 dez 2016, 12h16 - Publicado em 17 jul 2015, 23h55

Um imóvel no Sacomã passa praticamente despercebido pelo olhar das pessoas que caminham diariamente na região. Alguns podem até estranhar os lençóis pendurados que ficam visíveis com as janelas abertas. Mas poucos imaginam que no local funciona um centro de tratamento para usuários de crack, que usa como medicamento café e suco de limão. Detalhe: o imóvel é invadido e, na mira da Justiça, o trabalho pode deixar de funcionar.

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A casa de dois andares abriga atualmente 68 pessoas, em recuperação, que aguardam o dia da reintegração de posse, que pode acontecer nas próximas semanas. Advogada voluntária, Alda Ximenes entrou com um pedido para adiar o prazo. O programa possui uma outra unidade, onde vinte pessoas moram em uma casa alugada. Entretanto, o imóvel não tem espaço para receber outros participantes.

Na casa invadida, os lençóis pendurados servem como paredes para dividir os quartos dos moradores. Alguns têm camas de casal e outros de solteiro. A fiação fica exposta. A casa também tem uma pequena cozinha e uma churrasqueira no pátio, usada para esquentar alimentos antes de levá-los ao fogão a gás. “É para economizar”, diz Luciano Celestino da Silva, empresário e líder comunitário que comanda o projeto.

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“Não queremos tomar a propriedade de ninguém”, afirma Silva, que espera encontrar alguma solução para continuar ajudando os “alunos”, como chama os ex-usuários de droga e álcool que ocupam o local. Na casa também moram crianças, idosos e mulheres grávidas.

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Participantes

Entre os moradores está o paulistano Aurélio de Almeida Júnior, de 58 anos. Após perder a mulher em um atropelamento, em 2010, passou a beber uma garrafa de cachaça todos os dias antes de dormir. Sua filha, também deprimida, começou a usar crack com o marido. Ela saiu de casa. Após três anos, Aurélio descobriu que ela morava em uma das casas do projeto Crack Zero. A filha estava grávida e em recuperação. Hoje, ele vive no imóvel ocupado pelo projeto ao lado da filha, genro e o neto de um ano. “Parei de beber na raça”, disse.

Como todos os moradores da casa, durante as crises de abstinência, ele tomava suco de limão. Uma bandeja de café também circula pelo local diversas vezes ao dia. “Falaram que o limão ajuda na ansiedade. Durante uma crise de abstinência, demos o suco para três pessoas e elas se acalmaram”, disse Silva. “O café é para limpar o organismo”. O método, porém, é desconhecido para a psiquiatra Renata Guerra, do Hospital das Clínicas, “Provavelmente, é uma questão de vínculo afetivo. Os internos recebem isso como uma forma de cuidado”, disse.

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“São pessoas que saíram de uma situação de muita vulnerabilidade e encontraram conforto, carinho no projeto”, disse a psicóloga do Hospital das Clínicas Juliana Saldanha, que acompanha o grupo. “Eles convivem com pessoas que sofreram tanto quanto eles, um apoia o outro.”

Início

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O projeto surgiu há cinco anos, quando Luciano conheceu a ex-catadora de lixo Andrea Marques Ferreira. Ela pesava pouco mais de 30 quilos, morava em um terreno abandonado e fumava crack há mais de vinte anos. “Perdi meu cabelo e dentes. Passava longe de reflexos em carros e espelho para não me ver.” Luciano ofereceu ajuda e alugou uma casa para Andrea e o namorado, também usuário de droga. Após superar o vício, ela trabalha atualmente em um supermercado e está sem usar drogas há três anos e sete meses.

Com a falta de espaço na casa alugada, Luciano encontrou outra, invadida, onde morava um usuário de crack com a sua família. Foi quando o grupo começou a desenvolver o trabalho também no local.

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A rotina da casa começa pela manhã. Os moradores acordam e ajudam na limpeza do imóvel. Os participantes só podem dormir depois das 20h. Os novatos, porém, podem deitar a partir das 18h.

Alguns são liberados da atividade doméstica para trabalhar. Já os iniciantes no projeto, depois de três dias na casa, são levados ao hospital público para fazer exames, acompanhados por moradores mais antigos.  Todos se cumprimentam com beijos e abraços. “É o amor que cura as pessoas aqui. Criamos uma família.”

 

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