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Carta para NY

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h06 - Publicado em 3 nov 2009, 11h52

Queridíssima, o Carnaval, como espetáculo de televisão, vai mal. Sabe aquele tipo de filme de Rocky, Rambo, Drácula e Sexta-Feira, que vai decaindo a cada novo lançamento? Os atores vão ficando mais derrubados; o enredo, mais apelativo; a música, pior; as cenas, mais repetidas… – sabe? Nas escolas de samba, as alegorias mantêm o nível, mas o resto, a começar pelos sambas… As mulheres, meu Deus, nem todas, mas as rainhas de bateria, as musas das escolas, os destaques – o que é aquilo nas passarelas do samba? Super-coxas, superbumbuns, superseios – quantidade sem qualidade, um exagero de músculos malhados e silicone. Uma delas teve fôlego para dizer que é disso que o povo gosta. Será? Há cerca de um mês desfilavam, em passarela mais grã-fina, as magrelas da São Paulo Fashion Week, também louvadas como modelos de beleza. Será? Um pouco de moderação nas duas passarelas cairia bem.

Fui à Rua 25 de Março comprar material escolar e bobagens de Carnaval para as crianças. Um fervedouro. Gente andando miudinho para não atropelar, ouvindo “um mo–mentinho” das vendedoras. Lá não tem “estou só dando uma olhadinha”, porque não dá tempo. Nem os informais têm tempo, sejam cadernos, serpentinas, confetes, máscaras, canetas, mochilas, CDs piratas, guarda-chuvas chineses, programas de computador ou milho cozido o que vendem. A quantidade de gente e repórteres é menor do que na época do Natal, mas ainda assim é preciso andar miudinho. A 25 é o free shop do povão, metade das vendas é duty-free, sem imposto.

Novidades? Nossa amiga Márcia chegou da viagem, foi atropelada em Londres. Nada dramático. A mão esquerda levou uma pancada do retrovisor do carro na acrobacia que ela fez para evitar o pior. Bem que avisei: ao atravessar uma rua, olhe primeiro para a direita e não para a esquerda. Na Inglaterra, todo mundo trafega na contramão – é a sensação que o estrangeiro tem. O carona dirige o carro! – temos a fugaz impressão ao ver aquele cara ao volante no lado direito.

Você diz na sua carta que com o frio que está fazendo aí é duro acreditar que o planeta está se aquecendo. Imagino. Aqui, parece que ele está derretendo. É culpa nossa o aquecimento? Alguma cabeça brilhante do século passado disse que a natureza não tem preferência pelo homem; se ele fizer uma grande besteira irreparável, ela elegerá outra espécie. Foi Bernard Shaw quem disse? Já não me lembro, e não é importante quem disse, mas a ideia.

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O planeta sofreu aquecimentos antes, um deles acabou com 90% das espécies; milhões de anos depois foi o frio, congelou geral, nova mortandade. Deu na VEJA, duas semanas atrás. Entre os sobreviventes, milhares de espécies de insetos.

A propósito: dedetizamos o andar inteiro, juntamos os quatro vizinhos e borrifamos tudo. Caríssimo, e no ano que vem será preciso fazer tudo de novo. A barata ataca no verão, que nem IPTU e IPVA. A luta contra os insetos é a mais antiga da nossa espécie. Por que inseticidas custam tão caro? São venenos de composição antiga, a produção não deve ter custo elevado. O barato sai caro, a barata também. Inseticida de pobre é chinelo e tapa.

E a crise? Você diz que o peso é visível na expressão das pessoas, nas ruas de Manhattan. Aqui, sambou-se. As ameaças da crise persistem, mas o baticum e o feriadão abafaram tudo, botaram na rua os blocos Estressa Não, Vamo que Vamo, Fica Frio, Desencana, Vai que Dá, Sacode a Poeira, Fica na Boa, Relaxa e Goza, Pega Leve e Não Esquenta.

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