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Bossa na Oca promove show de tecnologia e Bossa’50, na Bienal, exalta a experiência de escutar canções na vitrola

Duas exposições que celebram o cinquentenário do estilo que revolucionou a música brasileira. Confira cinco atrações imperdíveis

Por Camila Antunes
Atualizado em 6 dez 2016, 09h05 - Publicado em 18 set 2009, 20h29

“Lembra que tempo feliz, ai que saudade, / Ipanema era só felicidade. / Era como se o amor doesse em paz.”

Ainda que a bossa nova preencha o ar de nostalgia, como se percebe nesse trecho de Carta ao Tom, música de Toquinho e Vinicius de Moraes, esse não é o clima das comemorações dos cinqüenta anos do gênero. A exposição Bossa na Oca, aberta ao público a partir de terça-feira (8) no Parque do Ibirapuera, abusa da tecnologia para promover uma viagem emocionante e interativa ao passado. Ali, os visitantes poderão assistir, por exemplo, a um show virtual de Tom Jobim, Frank Sinatra e Ella Fitzgerald, entre outros grandes intérpretes de Garota de Ipanema. Suas imagens aparecerão em tamanho real e em três dimensões. Trata-se da mesma técnica usada nas apresentações da banda Gorillaz, cujos integrantes são personagens de desenho animado. Haverá também seis iPods gigantes, com os quais será possível escolher entre as faixas de 64 LPs. Na ambientação, destacam-se a reprodução do calçadão de Ipanema e a projeção do céu nas paredes laterais da Oca. A cada meia hora, a luz interna diminui, dando a impressão de que o barquinho vai e a tardinha cai…

“Optamos por uma linguagem jovem e digital”, afirma Marcello Dantas, curador e designer da mostra. Como é sua marca, algumas atrações terão um quê de Disney World. É o caso do cubo com vedação acústica, em homenagem a João Gilberto. Nele, os visitantes podem sentir se o silêncio realmente existe. Ou se, no vazio, se escutam as batidas do coração. Na cúpula da Oca, outra experiência sensória. Após escolher um disco para rodar na vitrola, o espectador deitará numa grande espreguiçadeira, com um fone de ouvido na cabeça. Aí é só curtir o som olhando para o teto, onde serão projetadas imagens do mar. “Muita gente lembra onde estava e o que fazia quando ouviu pela primeira vez João Gilberto cantar bossa nova”, diz o videomaker Carlos Nader, que divide a curadoria da exposição com Dantas. “Nós queremos que a experiência na Oca também seja inesquecível.”

Está prevista uma mostra com catorze filmes inéditos, que somam três horas de duração. Há cenas curiosas, como aquela em que Tom Jobim responde em português à pergunta de um apresentador de televisão americano sobre a garota de Ipanema. Outras raras, como o lendário show brasileiro de 1962 no Carnegie Hall de Nova York e o depoimento de Nara Leão justificando sua opção pela música de protesto: “Rompi com a bossa nova depois de viajar pelo Brasil e descobrir que havia pessoas pobres”. Miguel Faria Jr., diretor do documentário Vinicius, fez uma seleção de depoimentos que ficaram de fora de seu longa, lançado em 2005, e Dora Jobim, neta do maestro, dirigiu Vou Te Contar, que será projetado numa sala com banquinhos de piano para acomodar os espectadores. “Nossas escolhas valorizam a dimensão humana da bossa. Mostraremos aquilo que o movimento trouxe de pensamento inovador”, comenta Dantas, contratado pelo Itaú para dirigir a exposição que custou “um bom naco” dos 20 milhões de reais investidos pelo banco no evento, no qual estão previstos também shows (veja reportagem na pág. 36).

Ainda no Parque do Ibirapuera, e quase no mesmo período, outra exposição faz uma leitura um pouco diferente do estilo que surgiu em 1958 e teve como marco zero o lançamento do disco Chega de Saudade, de João Gilberto. Bossa’50, idealizada pela Rádio Eldorado, ocupa o Pavilhão da Bienal. Seu orçamento bem menor (2,5 milhões de reais) resultou numa proposta mais acadêmica, fortemente voltada para o público estudantil. Uma linha do tempo, formada por fotos de época e reproduções de capas de disco, vai dirigir quem for até lá por um caminho de escuta. São ao todo 33 paradas para ouvir bossa nova em maquininhas com fone, semelhantes às encontradas em lojas de CD. As experimentações de Bossa’50 ficam por conta de vinte modelos de roupa criados pelo estilista Ronaldo Fraga, com inspiração em canções como Insensatez e Desafinado. Também serão exibidos três videoclipes em estilo MTV de clássicos da bossa nova. Por ser gratuita e apostar em painéis com textos e fotos, a exposição da Bienal complementa a da Oca, que cobra entrada de 20 reais. Em suma: enquanto uma surpreende pela tecnologia, a outra exalta a experiência – para muitos, insuperável – de escutar música da vitrola.

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• Bossa na Oca. Oca. Parque do Ibirapuera, portão 3. 4003-2050. Terça a domingo, 10h às 21h. R$ 20,00 (terça-feira grátis). Até 7 de setembro. A partir de terça (8).

• Bossa’50. Pavilhão da Bienal, Parque do Ibirapuera, portão 2, 3081-0840 Terça a domingo, 10h às 20h. Grátis. Até 24 de agosto. A partir do dia 15.

Vou te contar

Cinco boas atrações que devem dar o que falar

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* O show virtual de Tom Jobim, Frank Sinatra e Ella Fitzgerald, entre outros. Projetadas sobre um palco verdadeiro, as imagens terão três dimensões e tamanho real. Bossa na Oca

* A coleção de 251 capas de disco de vinil, entre as quais há trinta raridades, como o álbum Bossa é Bossa, do Conjunto Bossa Nova, de 1959, pela gravadora Odeon. Bossa’50

* Os dez minidocumentários com imagens e depoimentos inéditos. Destaque para Garota Bossa Nova, dirigido por Raquel Couto, que traz depoimentos de Nara Leão e Maria Bethânia. Bossa na Oca

* Os vinte modelos de vestido criados pelo estilista Ronaldo Fraga com inspiração em canções como Desafinado e Insensatez. Bossa’50

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* O conjunto de nove obras de arte escolhidas do acervo de 3 000 peças do banco Itaú, entre as quais chama atenção a escultura O Impossível, de Maria Martins, da década de 40, que ajuda a explicar o momento cultural que fez surgir a bossa nova. Bossa na Oca

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