Bar Pandora reabre mais sofisticado
Berço do caju-amigo e um dos símbolos da boemia paulistana, o Pandoro ressuscita mais luxuoso e com novos ambientes
Numa terça-feira fria de 2006, veio a notícia que fez muitos boêmios deixar cair o copo de uísque: aquele 25 de julho seria a última noite de funcionamento do Pandoro. Sem aviso prévio, o tradicionalíssimo endereço da Avenida Cidade Jardim, aberto em 1953, fechou as portas. “Vi vários clientes e garçons chorando nesse dia”, relembra o barman Guilhermino Ribeiro dos Santos. Vitimado por incuráveis problemas financeiros, morreu, então, o bar que já foi considerado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha – Prêmio Pritzker em 2006, o título máximo da arquitetura mundial – “o mais internacional de São Paulo”.
Parecia enterrado para todo o sempre. Mas eis que, como Lázaro, o Pandoro ressuscitou. Reabre as portas para o público na segunda 14, no mesmo endereço. “Durante a obra, habitués paravam aqui para espiar, dar palpites e até reclamar da demora”, conta o publicitário Edgard Sahyoun, um dos novos proprietários. Segundo ele, foi investido na reforma mais de 1 milhão de reais. Outro sócio é o arquiteto João Armentano, responsável pelo projeto. Quatro vezes maior que a original, a casa teve o acréscimo de dois salões e de um generoso jardim com três jabuticabeiras. Soma agora 800 metros quadrados e conta com capacidade para 250 pessoas sentadas. Para o bem e para o mal, os ambientes ganharam boa dose de sofisticação. Não espere encontrar mais toalhas nas mesas ou garçons trajados de summer jacket. O velho bar espelhado continua por lá, mas traz a companhia de paredes revestidas de madeira escura, TVs de plasma, balcão de acepipes e adega para 800 garrafas. Dezessete lustres de estilo anos 50 iluminam o lugar.
Ao lado de políticos como Jorge Bornhausen e Guilherme Afif Domingos, o prefeito Gilberto Kassab prestigiou a festa de renascimento, na última terça. “O Pandoro faz parte da história de São Paulo”, disse. “Sua reabertura representa recuperar nossa memória.” Freqüentador desde o fim da década de 60, o ator John Herbert também compareceu à inauguração. “É um dos grandes pontos de encontro na cidade”, afirma. Tanto Kassab quanto Herbert estão entre os setenta clientes representados em caricaturas espalhadas nas paredes. Todas de homens – o que comprova sua justa fama de clube do Bolinha.
Lenda viva do estabelecimento e conhecedor de histórias hilárias do passado do Pandoro – como a do marido que esqueceu a mulher no bar e voltou para casa sozinho –, o barman Guilhermino está de volta ao balcão que ocupava desde 1974. É ele quem sabe a autêntica receita do caju-amigo, criado ali em 1955 e símbolo do bar. Servido em copo alto, o coquetel leva vodca, suco de caju concentrado, compota de caju em calda, açúcar, gelo e três gotinhas de um segredo. “Na véspera do Natal de 2005, fiz 1 025 copos, meu recorde”, orgulha-se. A exemplo do ambiente, o menu foi incrementado. Agora, hits da vida anterior do Pandoro, como o pastel de siri e a coxa creme, dividem a atenção com a empadinha de estrogonofe e o croquete de polenta com rabada.
Pandoro. Avenida Cidade Jardim, 60, Jardim Europa, 3063-1621. 12h/1h. Cc.: todos. Cd.: M, R e V. Estac. c/manobr. (R$ 12,00).