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Balão: perigo que vem do céu

Cerca de 2 000 paulistanos desafiam a lei, insistem que balão é arte e, com isso, colocam em risco a população

Por Edison Veiga
Atualizado em 5 dez 2016, 19h24 - Publicado em 18 set 2009, 20h33

“Quando acordo e vejo o céu limpinho, azul, bate uma vontade de voltar a soltar balão…” Para o empresário Caio*, o hobby virou saudade. Desde que se casou, há quatro meses, nada mais de balonismo. Foi condição imposta pela mulher. “Antes, participava de todos os festivais e minha turma chegou a soltar um de 50 metros de altura”, lembra. Turma é como os baloeiros chamam as suas organizadas equipes. Em São Paulo, estima-se que sejam mais de quarenta – num total de 2.000 praticantes –, cada qual com um nome (Emenda, Abalo, Aliados do Céu, Antigões…) e um emblema. “Balão é coisa que passa de geração para geração”, diz o comerciante Leandro*, que há mais de dez anos tem sua turma. “É paixão mesmo, arte.”

Para os fãs, a atividade pode até ser encarada como arte. Mas é crime. De acordo com a Lei de Crimes Ambientais, de 1998, “fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas (…), em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano” pode render de um a três anos de cadeia. “É algo tão perigoso que a lei criminaliza todas as atividades do processo que leva à soltura do balão”, afirma o tenente Marcelo Robis Nassaro, da Polícia Militar Ambiental. Nos últimos cinco anos, 65 baloeiros foram detidos na Grande São Paulo e 210 balões apreendidos. Segundo o Corpo de Bombeiros, 219 incêndios que ocorreram no mesmo período foram causados por eles. No dia 17 de maio, por exemplo, um balão de 8 metros de altura danificou 400 dos 3.800 metros quadrados do telhado do Centro Cultural São Paulo, no Paraíso. O incêndio mobilizou 32 bombeiros.

Nos meses de junho e julho, esses trambolhões voadores se tornam mais comuns, pois a prática ainda está associada às festas juninas. O inverno, com ventos frios e pouca umidade do ar, é ideal para que os balões alcem vôos longos e altos. São essas mesmas condições climáticas, aliás, que favorecem os incêndios. “Mais da metade das ocorrências do ano são registradas nos meses de ar seco”, diz o tenente Marcos das Neves Palumbo, do Corpo de Bombeiros. Em média, os balões têm 20 metros de altura e custam de 800 a 10 000 reais, dependendo do tamanho, do acabamento e do material empregado. Os mais caros chegam a ser equipados com sistema GPS, o que permite sua recuperação com maior facilidade. Uma turma de baloeiros pode levar um ano para preparar o seu, principalmente por causa dos detalhados desenhos que costumam estampá-los.

Preocupadas com o constante risco de incêndios, as catorze empresas do Pólo Petroquímico do Grande ABC, no limite de Santo André com Mauá, mantêm um esquadrão de sentinelas. Munidos de binóculo, quarenta vigilantes ficam de olho no céu. Quando um balão é avistado, comunicam-se entre si até terem certeza de onde ele vai cair. “Felizmente, nunca registramos nenhuma ocorrência grave”, diz Sidney dos Santos, gerente da Associação das Indústrias do Pólo Petroquímico do Grande ABC. “Mas já houve casos em que tivemos de abater o balão no ar com um jato d’água.” Em 2001, 113 balões caíram nos 2 milhões de metros quadrados do pólo. Alarmada, a associação decidiu investir em campanhas de conscientização. Está dando resultado: no ano passado, aconteceram “apenas” 27 quedas.

Enquanto a sociedade se mobiliza em ações como essa, a polícia segue fazendo um trabalho de formiguinha (veja o quadro). Flagrar grupos pequenos de baloeiros é tarefa quase impossível. “Só conseguimos chegar a um evento do tipo quando recebemos uma denúncia”, admite o tenente Nassaro. A tática que os policiais têm adotado é ficar de olho nos sites das turmas e em comunidades da rede de relacionamentos Orkut. Tanto que, para não dar bandeira, os baloeiros estão evitando divulgar datas e locais de seus encontros na internet. Não custa repetir: é uma atividade clandestina e criminosa, que coloca a população em risco.

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