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Balada no Tietê: barco abriga agitação noturna no trecho urbano do rio

Durante o dia, embarcação é usada em projeto de educação ecológica; para as festas ela não tem licença

Por Giuliana Bergamo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h31 - Publicado em 18 set 2009, 20h27

Para boa parte dos paulistanos, o Rio Tietê remete a cheiro ruim e à paisagem caótica que o acompanha. Causa espanto, então, que haja quem consiga associá-lo a algum tipo de diversão. Mas é o que vem ocorrendo. Desde setembro do ano passado, suas águas já foram palco de ao menos três baladas. Em cada uma delas, cerca de 200 pessoas cantaram, dançaram, comeram e beberam até o sol raiar no Almirante do Lago, uma embarcação que percorre o trecho que vai do Cebolão à Ponte da Penha. Na primeira dessas festas, batizada de A Farofada no Tietê, os convidados eram recebidos por uma faixa que dizia “Boblonia”, brincadeira com o nome do aniversariante, Bob Rodrigues. A escolha do local inusitado para a comemoração foi de Andrelino Novazzi Neto, dono do barco. “O Bob ia comemorar na praia e eu disse: ‘Deixa disso, vamos fazer um evento no Tietê’”, conta. “Era um jeito de chamar atenção para o rio e de começar a realizar meu antigo sonho de ver suas águas realmente navegáveis.” Novazzi caprichou nos detalhes. Para evitar que jogassem sujeira no rio, espalhou cinzeiros feitos de garrafa PET. Na decoração, usou boias, peixes de plástico e plantas. Só se esqueceu de uma coisa: avisar os órgãos competentes. “Nunca fomos informados sobre essas festas”, diz a secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, Dilma Pena.

O Almirante do Lago navega pelo Tietê desde 2005. Inicialmente, o barco servia para transportar técnicos que visitavam as obras de desassoreamento da calha do rio. Com o aval da secretaria, funcionou também como plateia para o espetáculo BR-3, da trupe Teatro da Vertigem, e para o desfile da grife Cavalera durante a Fashion Week de janeiro de 2008. Além desses usos esporádicos, a embarcação tem uma função permanente. Desde setembro de 2007, é usada pelo Instituto Navega São Paulo no programa chamado De Olho no Tietê. A iniciativa já levou cerca de 22?000 pessoas para conhecer o Tietê. São, sobretudo, crianças e adolescentes de escolas públicas da Grande São Paulo. Ao longo de uma hora e meia, os visitantes assistem a uma palestra sobre ecologia e ouvem lições de monitores sobre processos de poluição, reciclagem de materiais e a nascente do Tietê, em Salesópolis, no interior do estado. “Tenho medo de que o mau uso do barco possa comprometer nosso trabalho”, afirma Douglas Mattos Siqueira, um dos responsáveis pelo Navega São Paulo.

A principal função da porção paulistana do Tietê é de escoamento. Depois das obras em sua calha, o rio passou a ter cerca de 2,5 metros de profundidade e 45 metros de largura. “É o suficiente para que a água vá embora sem causar enchentes, mas pouco para comportar navegações turísticas, como as que ocorrem nos rios Tâmisa, em Londres, e Sena, em Paris”, diz Ubirajara Tannuri Felix, superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (Daee). “Por enquanto, não temos planos concretos para outras atividades no rio nem regulamentação para a promoção de eventos em seu leito.” Segundo o engenheiro, está em fase de criação um grupo de trabalho composto de profissionais do Daee e do Departamento Hidroviário que terá como meta discutir as condições de navegabilidade do rio e, possivelmente, criar regras para que barcos carreguem ba-ladeiros. Até lá, as festas foram por água abaixo.

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