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Avenida Cidade Jardim vai para o buraco

O congestionamento não diminuiu com abertura do túnel, e as lojas perderam clientela

Por Edison Veiga
Atualizado em 5 dez 2016, 19h21 - Publicado em 18 set 2009, 20h36

Quando a então prefeita Marta Suplicy inaugurou o Túnel Max Feffer, às vésperas das eleições municipais de 2004, imaginava-se que o problema dos congestionamentos no encontro das avenidas Cidade Jardim e Brigadeiro Faria Lima seria, se não resolvido, ao menos amenizado. Não aconteceu nada disso. Os congestionamentos foram simplesmente transferidos para a passagem subterrânea. “De uma forma geral, a situação é a mesma”, afirma Roberto Scaringella, presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). “Quando se pensa na questão do trânsito, o projeto é deficiente.” Na parte de cima, porém, a média de carros que trafega por lá caiu de 5 000 para 1 440 por hora. Os comerciantes instalados na avenida perderam consumidores. “Nós precisamos dos motoristas que estão de passagem, vêem nossas lojas e decidem parar”, diz o empresário Jorge Henrique Baker, que vende equipamentos esportivos. “Antes, eu tinha nove clientes por dia. Agora, tenho dois.”

Os números comprovam a decadência da Cidade Jardim. Três anos atrás, havia apenas três imóveis anunciados para locação ou venda na via. Atualmente, são onze com placa na fachada – um aumento de 260%. “Só na avenida, tínhamos 58 pontos comerciais”, compara Fabio Saboya, diretor da ONG Boulevard Cidade Jardim. “Vinte e seis fecharam ou se mudaram.” Resultado: dos 2 000 empregos diretos gerados pelo comércio da região – incluindo as ruas vizinhas Mário Ferraz e Artur Ramos –, restam 700. “O movimento da minha loja caiu 80% e tive de dispensar cinco funcionários nos últimos anos”, afirma Sônia Caribé Ribeiro, dona de uma butique.

Em horários de pico, de acordo com a São Paulo Transporte (SPTrans), passam na Cidade Jardim 150 ônibus por hora, de 23 linhas. O ponto, desde junho instalado no canteiro central, parece um depósito de lixo. Enquanto aguardam o embarque, muitos passageiros se recusam a usar uma das quatro lixeiras ali colocadas. Como os ônibus agravam o trânsito, os motoristas têm aí mais um motivo para evitar a avenida. “O sonhado boulevard virou um buslevard”, ironiza o empresário Baker, que pretende se mudar em breve. “O charme foi perdido, e, em alguns casos, o proprietário está oferecendo seu ponto pela metade do valor de antes da obra”, diz Sara Miguel Sguillaro, diretora de uma imobiliária que atua na região. “Antigamente, era moleza alugar de novo”, lembra o advogado Eduardo Braulio Lopes, dono de um imóvel de 350 metros quadrados na avenida. “Nos bons tempos, cheguei a receber 30 000 dólares adiantados pelo aluguel.” Seu ponto vagou pouco antes do início da construção do túnel. Até agora, quase três anos depois, não encontrou outro inquilino. “Decidi fazer uma reforma”, conta. “Estou investindo 50 000 reais no imóvel para transformá-lo em um espaço com doze consultórios. Acredito que vai ser mais fácil alugar assim.”

E existe uma luz no fim do túnel? “Talvez a avenida tenha de encontrar uma nova vocação”, sugere Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). “Nesse caso, a solução pode ser a instalação de escritórios de prestação de serviços e sedes de pequenas empresas, já que o comércio de rua sofre com a falta de movimento.” Mas há quem, apesar de tudo, aposte em imóveis residenciais de alto padrão. Com previsão de entrega para agosto de 2009, um luxuoso edifício lançado recentemente ali terá 22 apartamentos de 462 metros quadrados, além de uma cobertura dúplex de 743 metros quadrados. Cada unidade, com quatro suítes e sete vagas de garagem, custará a partir de 3,4 milhões de reais. A cobertura está à venda por 8,9 milhões de reais. Claro, a frente do prédio, que se chamará Design Cidade Jardim, não ficará na avenida, mas numa pequena transversal, a Rua Camargo Cabral.

“Era moleza alugar um imóvel na Cidade Jardim. Cheguei a receber 30 000 dólares adiantados. Mas, desde que o túnel começou a ser construído, estou sem inquilino.”

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Eduardo Braulio Lopes, advogado, proprietário de um imóvel de 350 metros quadrados

“A avenida acabou completamente. O sonho de um boulevard virou um buslevard. Por isso, devo me mudar daqui em breve.”

Jorge Henrique Baker, empresário, dono de uma loja de equipamentos esportivos

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