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As diferentes tribos da Vergueiro

Centro Cultural São Paulo atrai jogadores de cartas, dançarinos, enxadristas e outros grupos peculiares

Por Pedro Henrique Araújo
Atualizado em 12 nov 2018, 18h12 - Publicado em 4 nov 2011, 23h50

Inspirado no Centro Georges Pompidou, na França, o Centro Cultural São Paulo foi criado com a proposta de abrigar as mais diversas manifestações artísticas e reunir um grupo heterogêneo de pessoas. Passados 29 anos de sua inauguração, ele cumpre esse papel com galhardia. Em seu respeitado acervo, os destaques são a Biblioteca Sergio Milliet, com 100.000 volumes e microfilmes de jornais do século XIX, e a Discoteca Oneyda Alvarenga, idealizada por Mário de Andrade e que reúne hoje valiosos tesouros do mundo, com música erudita, popular e folclórica disponível para audição e consulta. Diariamente, cerca de 3.000 pessoas passam pelo prédio na Rua Vergueiro, número que quase dobra nos fins de semana. Em sua maioria, o público é formado por estudantes do ensino médio, vestibulandos e universitários. Eles têm dividido espaço atualmente com as mais diversas tribos, como dançarinos de break, enxadristas, jogadores de RPG ou adeptos do tai chi chuan.

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Aos sábados, mais de duas dezenas de jovens se amontoam na área externa munidas de cartas, tabuleiros e regras para jogos de estratégia. Em um corredor próximo, os bboys, vestidos como rappers, fazem malabarismos e rodopios. Em frente à entrada principal, homens de cabelos brancos se reúnem em torno de tabuleiros de xadrez e comemoram cada tomada de um bispo como se fosse final de campeonato. Esses grupos se misturam ao já bastante eclético público de frequentadores que vão ao local atrás das pérolas do acervo e da rica programação cultural do CCSP, que apresenta sessões de cinema, shows, espetáculos de dança, teatro e exposições. “A intenção inicial sempre foi criar um local bem democrático”, afirma o diretor-geral, Ricardo Resende. “Acho que estamos no caminho certo.”

O acesso tranquilo pela Estação Vergueiro do metrô foi fundamental para reunir por ali os adeptos das disputas de RPG. “Aqui é fácil para todo mundo chegar”, diz o estudante Thiago Leandro da Silva, fã do card game Yu-Gi-Oh!, lançado originalmente como uma história em quadrinhos. Para os break dancers, o piso e a liberdade para treinar são os grandes chamarizes. “O chão liso e sem buracos ajuda a galera nas manobras”, diz Beethoven Lima Costa, o Soneca, de 15 anos, que treina diariamente para ser profissional. No caso da turma do xadrez, há as mesas pintadas com tabuleiros e a possibilidade de pegar as peças emprestadas. “Estudo aqui há alguns meses e sempre via as mesas. Sabia os movimentos básicos do jogo e comecei a praticar. Hoje não consigo entrar e não disputar algumas partidas”, diz o estudante Rodrigo Santiago do Nascimento Ananias, às vésperas de prestar vestibular para geografia.

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Alguns grupos são atraídos pela própria programação oficial do CCSP. Há oito anos o local abre espaço para sessões de psicodrama, sempre aos sábados, das 10h30 às 13 horas. Hoje, cerca de 100 participantes comparecem à atividade, baseada no método criado pelo médico romeno Jacob Levy Moreno, que dramatiza os conflitos e as dores dos pacientes por meio de teatro e jogos de papéis. “Não conheço outro trabalho com o mesmo perfil em São Paulo; acredito que esse é pioneiro”, diz a coordenadora da especialidade, Regina Fourneaut Monteiro.

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Os responsáveis pelo centro fazem o possível para que a convivência entre todos seja pacífica. Durante um tempo, por exemplo, alguns frequentadores reclamavam dos break dancers, que se exibiam no corredor principal, tapando o mural com a programação do lugar. A solução foi mandar confeccionar camisetas para eles com as mesmas informações. Dessa forma, os dançarinos viraram garotos-propaganda. “Depois disso, o problema acabou”, conta Soneca. “Aqui é um lugar acolhedor”, diz o diretor Resende. “Estamos sempre abertos a todos.”

FIGURAS CARIMBADAS

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As princiapais turmas do local

Break dancers ou b-boysComposto de sessenta dançarinos de break, o grupo começou a frequentar o CCSP por causa do chão liso. Eles ficam no corredor de entrada, das 10 às 22 horas, todo dia.

Enxadristas

Ocupam as mesas ao ar livre. No sábado, há fila de espera. Iniciantes podem pegar peças emprestadas na central de informações.

Jogadores de RPG

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Geralmente adolescentes, eles se reúnem nos fins de semana para disputar jogos que testam estratégia e criatividade com cartas e tabuleiros.

Participantes do psicodrama

Cerca de 100 pessoas se encontram todos os sábados, às 10h30, para uma terapia em grupo baseada na linha criada pelo romeno Jacob Levy Moreno, que mistura cenas dramáticas com psicologia.

MULTITAREFA

Os números do CCSP

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Área: 46.500 metros quadrados

Visitantes por ano: 800.000

Renda anual: 13 milhões de reais

ACERVO*

Biblioteca Sergio Milliet: 100.000

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Gibiteca Henfil: 120.000

Biblioteca Braile: 6.000

Discoteca Oneyda Alvarenga: 100.000

Coleção Arte na Cidade: 2.000

Total de 1 milhão de artigos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

*Em número de itens

 

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