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Aplausos efusivos ao fim dos espetáculos viraram cena comum

Crítico de música erudita Irineu Franco Perpétuo acredita que houve uma banalização dos aplausos

Por Juliana de Faria
Atualizado em 5 dez 2016, 19h25 - Publicado em 18 set 2009, 20h33

Toda semana, os palcos paulistanos acolhem cerca de 120 peças de teatro. Cada uma delas recebe, em média, um minuto e catorze segundos de aplausos por sessão. Ou seja, em sete dias, ecoam pelas salas mais de sete horas de palmas. Esse tempo seria muito maior se levássemos em conta os outros 150 eventos realizados semanalmente em São Paulo, como espetáculos de dança, shows, concertos e, pasmem, os filmes em cartaz. O ato de bater as mãos uma contra a outra é um código universal que representa respeito, louvor e aprovação. Mas, nos últimos dez anos, a ação perdeu seu significado. “Hoje, aplaudir é quase obrigatório”, constata o coordenador do curso de teatro do Tuca, na PUC, Pablo Moreira. “Virou parte do espetáculo.” Para Moreira, essa palmaria indiscriminada leva o artista a perder a referência do que é bom ou ruim. “Já vi atores que fizeram cenas péssimas sair satisfeitos do palco por causa da reação-padrão do público”, conta. Afinal, se qualquer tranqueira merece ovação, como ficam os espetáculos realmente excelentes?

A história se repete nos concertos. “Houve uma banalização dos aplausos”, afirma o crítico de música erudita Irineu Franco Perpétuo. “O mesmo se dá com os pedidos de bis.” Em praticamente qualquer recital, o público exige o repeteco, independentemente da qualidade da apresentação, como se já estivesse incluso no preço do ingresso. Quando se trata de orquestra, os aplausos automáticos se devem, às vezes, à falta de conhecimento das peças musicais. “Um público menos informado não é criterioso e bate palmas o tempo todo”, diz Perpétuo. Inclusive em momentos em que o silêncio faz parte da etiqueta. Ele também não perdoa a aclamação de pé, que deveria representar felicitações apenas a espetáculos que atingiram a excelência. Em qualquer pecinha, a platéia se levanta assim que a cortina se fecha. Para o crítico e professor de ópera da USP Sergio Casoy, escritor de Ópera em São Paulo, livro que faz uma retrospectiva de todas as temporadas líricas entre 1952 e 2005, há registro de apenas uma apresentação vaiada, o Il Trovatore, em 2001, no Teatro Municipal. “Houve uma cena em que os artistas apareciam pelados no palco”, conta. “O público veio abaixo… e com razão.”

No Espaço Unibanco, os paulistanos estão reverenciando até a tela do cinema. Ao fim das sessões do documentário Santiago, de João Moreira Salles, uma chuva de palmas toma conta da sala. O ato não poderia ser mais incomum – pela tradição, apenas filmes exibidos em festivais costumam ser saudados, pois, afinal, o cineasta e o elenco estão lá presentes. Para o diretor de programação do Unibanco, Adhemar de Oliveira, a empatia com o filme é tão grande que as pessoas querem manifestar isso de qualquer maneira. “Elas precisam extravasar seu sentimento de alguma forma”, diz. O.k., então. Mas não há empatia que justifique aplausos para Os Simpsons, como vem acontecendo em algumas salas. Clap, clap, clap.

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