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Apagaram o nosso cartão-postal

Os detalhes do absurdo roubo das luzes da Ponte Estaiada e as trapalhadas que atrasaram a investigação do caso

Por Claudia Jordão
Atualizado em 5 dez 2016, 17h26 - Publicado em 27 jan 2012, 23h50

No último dia 7, foi inaugurada uma nova decoração na Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira, no Brooklin. A ideia era deixá-la durante uma semana em tom de vermelho para comemorar a chegada do Ano-Novo chinês. Menos de quarenta e oito horas depois da instalação, porém, um grupo de especialistas a serviço do Ilume (departamento da prefeitura de São Paulo responsável pela iluminação da cidade) recebeu uma chamada dando conta de que as luzes coloridas do cartão-postal não haviam funcionado na noite anterior. Ao chegarem ao local, eles encontraram quatro portões com cadeados estourados, algumas grades de proteção arrebentadas e rapidamente constataram: 94 dos 142 projetores de LED haviam sido surrupiados. Essas peças têm apenas 30 centímetros e são capazes de reproduzir 6.000 tons nas paredes internas da torre. Os computadores que comandam os equipamentos, localizados próximo dali, no entanto, permaneceram intactos.

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Os técnicos substituíram as lâmpadas de última geração por outras mais baratas, de vapor metálico, e registraram o boletim de ocorrência. Até quinta-feira (26), as investigações continuavam quase na estaca zero. A seguir, confira os detalhes da ação ousada dos bandidos e a série de trapalhadas que impediu a polícia de descobrir rapidamente os responsáveis pelo crime.

AÇÃO EM PLENA LUZ DO DIA

É quase certo que os ladrões agiram às claras, e o trabalho pode ter se estendido por dezenas de horas. Segundo os técnicos, a retirada de cada um dos equipamentos demora cerca de meia hora. O mais provável é que um grupo de pessoas tenha se dirigido a pé aos locais onde estavam os holofotes (eram quatro pontos, dois na pista sentido Brooklin-Morumbi e os outros na via contrária), estourado os cadeados, arrombado as grades e agido sem ser incomodado. Apesar de o fluxo de veículos na ponte ser de 6.000 carros por hora e de a região ter duas delegacias a poucos quilômetros de distância, ninguém notou nada de estranho por lá. Com as peças já soltas, um automóvel teria parado nos acostamentos das vias e embarcado a mercadoria. “Acredito que, para não levantar suspeita, os criminosos tenham usado uniformes e transporte de empresas de manutenção”, diz o delegado Giovanni Moschini, da 2ª Delegacia Seccional, responsável pelo caso. “Eles devem ter levado o material da ponte para revendê-lo como sucata a preço de banana no mercado negro.”

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A CONFUSÃO DA POLÍCIA

Devido a uma trapalhada burocrática, o crime só começou a ser apurado quase duas semanas após o furto. Lavrado pelos técnicos no próprio dia 9 no 27º DP (Campo Belo), o boletim de ocorrência foi encaminhado para o 89º DP (Portal do Morumbi) e, depois, para o 96º DP (Brooklin), aonde chegou no dia 20, quando o processo de investigação teve início. “A confusão aconteceu porque metade da ponte é de competência do 89º e a outra parte do 96º”, explica o delegado Giovanni Moschini, que assumiu o caso porque o titular do distrito responsável está de férias. “Sem dúvida, essa demora dificulta a recuperação dos produtos.”

VIGILÂNCIA FALHA

Há quatro câmeras instaladas no local, aos cuidados da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Um dos primeiros passos da investigação da equipe comandada pelo delegado Moschini foi justamente solicitar as gravações desses equipamentos. Na semana passada, porém, a polícia descobriu que não pode contar com essa ajuda. Os bandidos nem precisaram inutilizar o sistema para garantir sua segurança: ele não estava funcionando havia um ano.

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FALTA DE INFORMAÇÃO

Ao prestarem depoimento para a elaboração do boletim de ocorrência, os técnicos não souberam informar à polícia a marca e o modelo dos projetores roubados. Sem saber o que e onde procurar, o delegado intimou o Ilume a comparecer ao 96º DP na última terça (24). Mas, para sua surpresa, o órgão municipal não mandou representantes, apenas um funcionário terceirizado, que não ajudou em nada a investigação. “Estou de mãos atadas. A impressão que tenho é que ninguém sabe de nada, nem a prefeitura, nem o Ilume”, afirma Moschini. Em tempo: os equipamentos levados pelos gatunos foram produzidos pela Philips e importados da Holanda.

O TAMANHO DO PREJUÍZO

O orçamento mais modesto para devolver à Ponte Estaiada o sistema de decoração é de 500.000 reais. Esse valor envolve a reposição dos canhões furtados e a mão de obra para a instalação do novo conjunto. A Secretaria de Serviços do município, entretanto, estima que a conta exata do prejuízo seja de 1 milhão de reais, considerando o custo para refazer todo o projeto de iluminação (técnicos dizem que isso não seria necessário, pois a central computadorizada continua intacta no local). É a primeira vez que um caso desses ocorre na capital. Mas o furto de fios de cobre e de outros produtos de iluminação é frequente por aqui. Estima-se que 40 quilômetros de fibras sejam subtraídos por mês na cidade, num trabalho executado por gangues especializadas. No fim do ano passado, nem mesmo o sistema de para-raios e a iluminação de balizamento (usada para evitar o choque de aeronaves) da Ponte Estaiada Governador Orestes Quércia, em Santana, foram poupados pelos ladrões.

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