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A chave do trânsito

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 17h24 - Publicado em 10 fev 2012, 23h50

“É ridícula”, exclamou meu amigo Antônio Pedro, o Tota, também conhecido como “o professor”. Referia-se à minha ideia mais recente para melhorar o fluxo do trânsito em São Paulo: automóveis computadorizados.

Passávamos debaixo da estação de metrô Sumaré, em direção ao Parque Antártica, Zona Oeste, na semana passada. Deviam ser umas 19h30. Praticávamos o pedestrianismo.

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“E depois”, continuou ele, “você é volúvel. Primeiro diz que todo mundo tem de andar de ônibus, aí é de metrô, e a pé, e agora, de carro. Tá louco!?”

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O professor se entusiasmou menos do que eu com os avanços na tecnologia automotiva. Expliquei os pontos altos da reportagem que lera em uma edição recente da revista americana “Wired”. Nela descobri, para minha surpresa, que já existem automóveis — Prius, da Toyota, para ser específico — que se dirigem sozinhos. E não é em uma pista de testes ou no estacionamento do Walmart. Nada disso. Já rodaram mais de 300.000 quilômetros em estradas da Califórnia, na hora do rush e tudo. Andam bem em meio aos outros veículos, no trânsito mesmo, com velocidade de até 75 quilômetros por hora. Não é demais?

O projeto mais avançado parece ser o do Google. Sim, a empresa de pesquisas e buscas nos computadores. O Google coloca 64 lasers em um aparelhinho que fica girando em cima dos carros. São equipados, ainda, com antenas de GPS e câmeras, que ficam de olho nos pedestres, por exemplo, e em outros obstáculos potenciais. As câmeras fornecem dados para o computador, que aprende, através da experiência. Com o tempo, torna-se capaz de prever os movimentos de outros veículos e de se guiar sozinho em todas as condições de trânsito, ou quase.

“E adianta?”, pergunta o professor, cético, como sempre. “Já não temos carros demais?”. A essa altura, nós nos aproximamos da farmácia, onde realizamos o ritual da medição dos nossos pesos. Apesar dos esforços, o meu vem aumentando. O do professor permanece estável há tempos.

Acho eu que adianta, sim, explico para o Tota. Por dois motivos. Primeiro, o automóvel computadorizado dirige melhor do que o homem e, embora não tenha a mesma graça, com maior objetividade do que a mulher. Pensa mais rápido do que o humano e analisa uma quantidade de informação vinte vezes maior que ele. Se todos os carros viessem equipados com a capacidade de autodireção, boa parte dos congestionamentos acabaria. Isso porque, mesmo lotadas, apenas 5% das estradas tem o asfalto coberto com automóveis. Carros computadorizados aproveitariam melhor os espaços, reduziriam os engarrafamentos, o que diminuiria — em muito — a poluição e as emissões de gases de efeito estufa.

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O professor não se comove. Mas continuo em frente, sem me intimidar com o silêncio. Melhor ainda, explico, esses automóveis dariam fim à violência das rodovias brasileiras, onde acontecem 723 acidentes, com 35 mortes e 417 feridos — por dia!

“É uma guerra!”, exclamo, um pouco exaltado. Segundo escreve o antropólogo Roberto DaMatta em “Fé em Deus e Pé na Tábua: ou Como e por que o Trânsito Enlouquece no Brasil”, que recomendo, aliás, uma melhoria sensível na violência do trânsito depende de um gigantesco esforço de autorreflexão e transformação cultural.

Talvez seja mais fácil pular essa etapa de transformação cultural, pondero com Tota. A chave seria trocar os motoristas por automóveis computadorizados, que se dirigem. Em vez de acabar com os carros, substituem-se os motoristas por máquinas, como aconteceu nos elevadores e, cada vez mais, nos aviões.

“E os hackers?”, me pergunta o professor. “Como é que faz?”

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