A redação de um diário ajuda a superar a procrastinação
Sabemos que a procrastinação é um padrão de esquiva vinculado à expectativa de que coisas ruins acontecerão caso a tarefa seja cumprida. Esta expectativa pode ser a de que haverá um grande desprazer na própria execução da tarefa ou a de que o resultado não ficará a contento. Já apresentei aqui algumas orientações sobre como […]
Sabemos que a procrastinação é um padrão de esquiva vinculado à expectativa de que coisas ruins acontecerão caso a tarefa seja cumprida. Esta expectativa pode ser a de que haverá um grande desprazer na própria execução da tarefa ou a de que o resultado não ficará a contento.
Já apresentei aqui algumas orientações sobre como driblar a procrastinação. Além daquelas estratégias, meus pacientes têm lançado mão de um recurso que lhes venho propondo: o uso de um diário.
Este diário é dividido em duas partes, como se fosse um caderno de duas matérias, e serve basicamente para registrar as tarefas a serem realizadas a cada dia (primeira parte) e as tarefas ou projetos que precisam ser realizados em algum momento mas sem data certa (segunda parte).
Exemplos de atividades registradas na primeira parte: buscar as roupas na lavanderia, marcar a fisioterapia, a lista do supermercado, anotações sobre alguma reunião… A primeira parte é o diário propriamente dito.
Já na segunda parte se anotam projetos, grandes ou pequenos, que não serão executados necessariamente no dia corrente. É mais provável que aconteçam em outro momento ou mesmo ao longo de dias, semanas, meses ou anos. São exemplos: aulas de alemão, viagem de férias, compra de um carro novo…
Aqui o ideal é que cada item seja anotado no topo de uma página exclusiva para que o resto da folha possa ser utilizado para anotações adicionais relacionadas àquele item (cotações, rascunhos de ideias, telefones de contatos e assim por diante).
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Interessante que, a partir da anotação de um registro na segunda parte, é possível estabelecer tarefas para o dia seguinte, que serão anotadas na primeira parte do diário. Por exemplo, após decidir que fará aulas de alemão (o que será anotado na segunda parte do diário), você pode programar para amanhã o levantamento na internet de professores particulares e procurar indicações entre os amigos.
Após fazer isso, você poderá riscar aquela tarefa programada para o dia na primeira parte do caderno e também riscar esta etapa do projeto na segunda parte, o que lhe permitirá passar para a etapa seguinte, que provavelmente será entrar em contato com os professores indicados.
Diário é diferente de agenda
Notem que não se trata de uma agenda, na qual anotamos compromissos baseados em dia e horário certos (como reuniões ou consultas médicas). É um diário mesmo, que serve para registrar o cotidiano. Um dia pode avançar ao longo de uma, duas páginas ou mais. É diferente do que acontece na agenda, na qual há uma página para cada dia, às vezes até com uma linha para cada hora do dia. O diário não tem rigidez, é um espaço para marcar tarefas, projetos, ideias e tudo que queiramos ali registrar.
Agora alguns ganhos adicionais por usar um diário. Além de permitir organizar o cotidiano no sentido mais pragmático que a palavra organização pode ter, o diário pode também ter a função de uma espécie de espelho de você mesmo. Ao longo dos dias e semanas você vai aprender muito sobre você mesmo. Vai entender que tipo de tarefas você procrastina e também porque o faz.
No consultório
Um paciente, depois de adiar a execução de uma tarefa algumas vezes, acabou escrevendo na primeira parte do diário um desabafo sobre sua dificuldade em cumprir aquilo a que se propôs. No fim das contas, ele chegou à conclusão de que não queria fazer aquilo mas que se cobrava excessivamente, mesmo sendo uma tarefa de pouco importância, que não tinha uma razão autêntica para ele.
O diário também é útil para perceber o que você fez durante um tempo. Até porque você pode fazer anotações ao longo de uma viagem, ao longo de um projeto etc. O diário funciona como uma espécie de ata de seu cotidiano e ainda o ajuda a filtrar as tarefas que vão surgindo, favorecendo o autoconhecimento e, em última instância, uma vida mais plena.
Recentemente um paciente me mostrou uma espécie de metaprocrastinação (ou a procrastinação das procrastinações). Ele me perguntou: “E se um dia eu perder o caderno com todas as minhas anotações e projetos?” Então eu devolvi com outra pergunta: “E se um meteoro se chocar com a terra antes de você cumprir um projeto?”