Imagem Blog

Em Terapia Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
Continua após publicidade

Entenda a origem do medo de escuro e confira truques para amenizá-lo

O medo é uma reação involuntária cuja função adaptativa é a sobrevivência. Se não sentíssemos medo, acabaríamos nos expondo a fontes de perigo. Alguns aspectos do ambiente adquiriram valor aversivo ao longo da evolução. O escuro é um deles. Ele próprio não representa um perigo em si mas está associado à presença de ameaças reais. É algo […]

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 26 fev 2017, 13h00 - Publicado em 2 mar 2016, 23h39

escuro

O medo é uma reação involuntária cuja função adaptativa é a sobrevivência. Se não sentíssemos medo, acabaríamos nos expondo a fontes de perigo. Alguns aspectos do ambiente adquiriram valor aversivo ao longo da evolução. O escuro é um deles. Ele próprio não representa um perigo em si mas está associado à presença de ameaças reais. É algo como um condicionamento genético.

+ Não justifique suas atitudes

Na verdade, o ambiente selecionou ao longo de milhares de anos o medo inato do escuro. Aqueles indivíduos que tinham medo do escuro sobreviviam e aqueles que não tinham morriam. Estamos falando de cerca de 10 000 anos atrás, quando a espécie humana era presa para alguns predadores que vinham da escuridão, como leões, hienas e leopardos. Não podemos esquecer que o mundo era um ambiente sem luz após o pôr do Sol. Ou seja, permanecer desprotegido durante a noite significava maior chance de ser morto por um caçador noturno. A partir do estudo de fósseis, estima-se que entre 6 e 10% da população humana à época foi predada. Com o controle do fogo, a espécie humana ficou menos vulnerável à escuridão.

Além de predadores noturnos, sempre tivemos de enfrentar também ameaças diurnas. Por que, então, o escuro é especialmente aterrorizante? Uma explicação complementar se dá no fato de que a visão se mostra nossa principal modalidade sensorial, ou seja, a visão é nosso principal canal de contato com o ambiente. Embora nossa capacidade de manipulação do ambiente possa compensar a ausência de visão por meio da tecnologia, ela é filogeneticamente privilegiada em nossa composição. E não existe visão sem luz. Isso quer dizer que o escuro bloqueia nossa capacidade sensorial mais importante. Então ficamos mais vulneráveis na ausência dela. Aqui está, portanto, mais uma razão porque o ambiente selecionou ao longo de muitas gerações indivíduos e genes associados ao medo do escuro.

Continua após a publicidade

Com base no bloqueio da visão e no risco de ataques por predadores noturnos, a primeira explicação para nosso medo do escuro é a seleção natural, estabelecendo assim um determinante inato. Mas isso não é suficiente para entender nossa paura pelo breu. O humano tem uma complexa estrutura de vida social que, ao longo de milênios, transformou características biológicas em códigos morais, hábitos, crenças e rituais. O medo inato do escuro é reforçado culturalmente através de crenças diversas que vinculam a escuridão com o demônio, com criaturas monstruosas ou, de modo genérico, com o próprio mal.

Então o medo do escuro é uma característica inata fortalecida culturalmente, de modo que qualquer pessoa tem ao menos duas boas razões para tê-lo. Mas há ainda uma última razão, que é a história de vida de cada um. Quem passou por experiências ruins com o escuro durante a infância certamente tende a desenvolver um medo patológico em relação a ele (escotofobia). Ele se torna um problema porque atrapalha a vida da pessoa, já que produz quadros de insônia, crises de ansiedade e stress (principalmente em situações de escuro inesperado), além de atrapalhar ou inviabilizar ações cotidianas (teatro, acampamento etc.).

Superando o medo

A estratégia adequada para superar a escotofobia é a técnica da dessensibilização sistemática, que é a exposição gradual à fonte de medo, nesse caso o escuro. A primeira etapa é entrar em contato com informações sobre o escuro, como ler este texto. Depois deve-se ampliar a experiência com o escuro de forma cada vez mais intensa, identificando os contextos nos quais o medo se mostra mais significativo. Por exemplo, quem dorme com a luz acesa (o que é péssimo para o cérebro) por conta da escotofobia deve diminuir gradualmente a claridade a cada dia, seja com um potenciômetro no interruptor, seja trocando a lâmpada por uma mais fraca ou usando um abajur. O importante é sempre seguir na direção planejada, mais rapidamente ou mais lentamente…mas sempre na mesma direção.

Continua após a publicidade

+ Agressivo na internet? Tem algo errado com você

Outra forma de conduzir a dessensibilização sistemática ao escuro é desligar a luz durante a noite por poucos segundos e, a cada repetição da experiência, manter as luzes apagadas por um tempo ligeiramente maior. O processo gradual garante que cada enfrentamento ocorra na magnitude certa e que o cérebro possa aprender uma nova memória sobre o escuro, se não agradável, ao menos neutra. Como a memória de medo envolve vias primitivas do cérebro, ela se estabelece rapidamente mas demora para ser desfeita. Então o aumento gradual do tempo de exposição ao escuro permite que a consciência esteja sempre no controle da situação, evitando assim que a ansiedade inunde o momento.

A ideia nunca deve ser eliminar o medo por completo, tanto porque é impossível quanto porque ele é útil, mas sim mantê-lo em níveis saudáveis.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de R$ 39,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.