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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Por que a tragédia atrai tanto?

Isso acontece pela combinação de dois fatores: o cérebro e a informação

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 29 abr 2019, 19h23 - Publicado em 21 jul 2015, 20h57

As notícias de tragédias prendem a atenção das pessoas mais facilmente do que fatos de outras naturezas. Isso acontece pela combinação de dois fatores: o cérebro e a informação.

O cérebro: Aprendemos mais rapidamente comportamentos relacionados a emoções negativas, a exemplo de medo, do que aqueles relacionados a emoções positivas como prazer, alegria ou amor. Basta levar um choque uma única vez ao enfiar um arame na tomada para nunca mais repetir tal comportamento. Isso ocorre porque a consolidação da memória para eventos aversivos tem uma estrutura especial no cérebro, a amígdala (não confundir com as amídalas linfoides situadas na faringe), tamanha a importância para a sobrevivência de se aprender a evitar situações perigosas.

Absolutamente todas as vias sensoriais têm conexões com as duas amígdalas nos lobos temporais do cérebro. Assim, quando entramos em contato com uma situação de tragédia, gerando emoções negativas, a ativação da amígdala nos coloca em estado de alerta e recruta todas as áreas cerebrais necessárias para a aprendizagem. Ou seja, é natural interessar-se pela tragédia do outro porque ela desperta medo e ansiedade, duas emoções essenciais para garantir a sobrevivência, ou seja, é impossível para o cérebro ignorar uma situação de tragédia com a qual entre em contato.

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A informação: O desenvolvimento dos meios de comunicação permite que a informação circule com muita facilidade. Quando um fato novo acontece, ele pode alcançar potencialmente boa parte da população mundial quase que instantaneamente. Este é o poder combinado da internet e do satélite. Só para exemplificar, no último domingo (19), uma quase-tragédia correu o mundo em poucas horas pela TV e, principalmente, pelas redes sociais. As imagens do surfista australiano Mick Fanning quase sendo atacado por um tubarão chamaram a atenção no mundo todo. Nosso interesse imediato dependeu exatamente do funcionamento das amígdalas cerebrais. O perigo da situação impacta por nos imaginarmos no mesmo cenário, mesmo não sendo surfistas.

É raro testemunhar pessoalmente tragédias como essas. Portanto, é a combinação desses dois fatores (cérebro e informação em massa) que faz com que cultivemos socialmente e de forma massiva o interesse pela tragédia alheia.

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Obviamente há um desdobramento mais complexo dessa conjunção, que é o uso dessa constatação pela mídia, que está interessada em audiência. Para tal, muitas vezes ela lança mão desse interesse natural pela tragédia na hora de selecionar sua pauta. Já mencionei aqui como telejornais sensacionalistas fazem mal à saúde.

Lembro de estar certa vez assistindo ao programa Datena na sala de espera do dermatologista. Um corpo havia sido encontrado no Rio Tietê. Um helicóptero do telejornal ficou mostrando o resgate ao vivo por “longos” minutos sob uma enérgica narração do apresentador. Aos poucos, pessoas começaram a se aglomerar na ponte próxima para acompanhar o trabalho dos bombeiros. Datena disparou: “O que eu não entendo é a curiosidade dessas pessoas em cima de um corpo!”.

Embora esta dúvida tenha partido justamente do jornalista que manteve uma aeronave por mais de dez minutos sobre o mesmo defunto, eu espero que este texto tenha trazido algum esclarecimento. Não podemos modificar o que a evolução determinou mas, conscientes de como ela funciona, podemos voluntariamente evitar nos expor tanto assim às tragédias pois essa superexposição, além de não ajudar a evitá-las ou compreendê-las, ainda é prejudicial à saúde.

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