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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Uma estratégia simples para cuidar das finanças

A PARTE COMPLICADA A maioria das pessoas sabe que é importante poupar dinheiro para evitar problemas financeiros. Os recursos guardados devem servir para quatro objetivos distintos: + Dois equívocos que comprometem o orçamento familiar 1 – EMERGÊNCIAS  Toda e qualquer pessoa enfrentará imprevistos ao longo da vida. Demissão, um problema de saúde, uma viagem em caráter de […]

Por VEJASP
Atualizado em 26 fev 2017, 18h45 - Publicado em 3 fev 2015, 14h16

poupar dinheiro

A PARTE COMPLICADA

A maioria das pessoas sabe que é importante poupar dinheiro para evitar problemas financeiros. Os recursos guardados devem servir para quatro objetivos distintos:

+ Dois equívocos que comprometem o orçamento familiar

1 – EMERGÊNCIAS

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 Toda e qualquer pessoa enfrentará imprevistos ao longo da vida. Demissão, um problema de saúde, uma viagem em caráter de urgência para visitar a tia Cotinha que está doente. Para alguns desses imprevistos não há o que fazer, como quando temos de lidar com a realidade da morte. Mas há imprevistos que podem ser enfrentados de maneira melhor quando há uma reserva financeira. Por exemplo, uma viagem repentina trará gastos “imprevistos” (passagens, hospedagem etc.).

Quem não tem reserva financeira tem de parcelar os gastos, o que acarreta o pagamento de juros e/ou o comprometimento do orçamento nos meses seguintes. Já quem tem uma provisão de recursos, pode pagar tudo à vista e se concentrar no enfrentamento do problema propriamente dito (digamos, a doença da tia Cotinha, que mora em Minas). Escrevi “imprevisto” entre aspas justamente porque esse tipo de gasto não é propriamente imprevisto. Cada situação em si é um imprevisto,  mas o fato de que essas situações vão acontecer é totalmente previsível. Por isso, é importante ter uma reserva financeira. Os especialistas em finanças dizem que essa reserva deve representar pelo menos seis meses de salário.

2 – PROJETOS ESPECÍFICOS

Compra ou troca de carro, viagem de férias, casa própria, roupas novas, contas de início de ano etc. Embora de valores muito distintos, todos esses gastos são esporádicos, porém certos, ou seja, você já sabe que vai realizá-los e quando vai realizá-los. Muitas pessoas se preocupam com a troca do carro só depois que o carro atual começa a apresentar problemas. Isso leva fatalmente ao financiamento como solução para a troca, o que está longe de ser uma boa escolha. O mesmo acontece com os outros gastos, o que deixa a fatura do cartão de crédito elevada e o orçamento apertado.

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Quando você deixa de pagar o valor integral da fatura, os problemas decorrentes da falta de planejamento começam a acontecer. Por isso o melhor é você guardar o dinheiro ao longo dos meses antes do gasto efetivamente acontecer. As vantagens dessa conduta são a possibilidade de negociar melhores condições por poder pagar à vista, tranquilidade por não sofrer o estresse do orçamento apertado e o ganho de algum rendimento, considerando que o dinheiro guardado mensalmente pode ser investido em alguma aplicação.

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3 – APOSENTADORIA

Depender apenas do INSS é insuficiente para o trabalhador brasileiro. O valor do benefício sempre fica aquém do salário recebido ao longo dos anos de trabalho e contribuição previdenciária. Atualmente, nem mesmo os planos de previdência privada são tão atrativos. Há alternativas complementares como a compra de títulos do Tesouro Nacional ou a aplicação em fundos de investimento. Não existe uma única opção. Cada pessoa deve construir a solução que seja melhor para si próprio. Ainda assim, o que vale para todos é que, de qualquer forma, é importante aplicar recursos regularmente a fim de garantir na aposentadoria uma renda equivalente ao salário ganho ao longo dos anos de trabalho.

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Segundo os especialistas, quem tem entre 25 e 40 anos deve poupar mensalmente, em porcentagem, a idade menos quinze. Por exemplo, um trabalhador de 30 anos deve poupar todo mês 15% de sua renda (30 – 15 = 15) e destinar para investimentos de aposentadoria. Quando ele completar 31 anos, deve passar a guardar 16% da renda (31 – 15 = 16) e assim por diante. A regra muda para quem tem entre 41 e 49 anos, que deverá guardar, em porcentagem da renda, a idade menos 10. Finalmente, a partir dos 50 anos, deve-se guardar a própria idade em porcentagem da renda. Quanto mais cedo começar a poupar, melhores serão os resultados.

4 – AUMENTO DO PATRIMÔNIO

Este objetivo não é obrigatório, mas ele interfere diretamente nos três anteriores porque funciona como uma espécie de turbo para o planejamento financeiro. Por exemplo, uma família que consiga comprar uma casa e alugá-la para terceiros já conseguiu garantir uma renda que não depende do trabalho de seus membros. Assim, quem quer fazer este caminho precisa guardar dinheiro para tal. E este dinheiro não pode ser o mesmo destinado para os itens anteriores. No exemplo da casa, o aluguel recebido pode ser usado tanto para acelerar o processo de poupança quanto para compor o conjunto de receitas que mantém o orçamento familiar.

Agora, uma questão importante. Se a renda obtida de um investimento (nesse caso o aluguel recebido do inquilino) for usada para pagar despesas do cotidiano, ela deve ser considerada na hora de fazer as contas anteriores. Ou seja, é como se fosse mais um salário. Como essa receita interfere no orçamento, os cálculos para definir as provisões de emergência e para aposentadoria devem levá-la em conta. Nesse sentido, por prudência, o melhor mesmo é que receitas de patrimônio sirvam para acelerar as provisões para o futuro.

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DESCOMPLICANDO

Para garantir a adequada alocação de recursos para os quatro objetivos mostrados, é importante que as pessoas tenham um bom controle do orçamento individual ou familiar. Mas ter este controle acaba sendo um trabalho chato e desestimulante. No meio do caminho, as pessoas acabam desistindo e o descontrole financeiro volta a ocorrer.

No trabalho clínico, as dificuldades financeiras são um tema comum e percebi, depois de lidar com vários casos de problemas emocionais gerados por crises financeiras, que é muito difícil mudar os hábitos financeiros errados porque as estratégias de controle financeiro (planilhas, cadernos anotação de gastos etc.) são, de um modo geral, chatas e trabalhosas. Depois de propor (sem sucesso) para muitos pacientes que passassem a anotar os gastos e a planejar o orçamento, passei a me questionar que força é essa que impede as pessoas de mudarem esses hábitos ruins.

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Após alguns meses refletindo a respeito, resolvi voltar às bases da análise do comportamento. Quando queremos que um comportamento complexo seja modelado, não podemos fazer isso de uma vez só. E é exatamente esse o erro que tendemos a cometer no que diz respeito à educação financeira. Estratégias complexas são chatas e não trazem reforçadores imediatos. O melhor a se fazer é sempre fragmentar o comportamento complexo em partes simples. A mudança deve ocorrer aos poucos e se aproximar cada vez mais do ponto desejado.

Assim, deixei de propor aos pacientes que anotassem todos os gastos e que planejassem o quanto queriam gastar com cada item de seu orçamento. Passei a concentrar os esforços numa única estratégia: guardar parte do salário todos os meses. E só. O orçamento tem de caber no resto. Obviamente não vai caber num primeiro momento. Não importa, o que vale é seguir guardando uma quantia mensal. Se você não conseguir guardar parte do que ganha, é pouco provável que consiga elaborar qualquer planejamento eficaz de seu orçamento.

+ Financiamento é coisa de gente rica!

Um de meus pacientes começou a guardar a quantia que se propôs mesmo com sua conta negativa. Ou seja, ele estava pagando elevados juros mensalmente ao banco. Provavelmente um consultor financeiro diria que o melhor é, antes de poupar, usar os recursos para pagar o saldo devedor do cheque especial e se livrar dos juros, que têm um efeito de bola de neve.

Na ponta do lápis isso é verdade. Mas o problema é que muitas pessoas, tão logo cubram o saldo negativo da conta corrente, voltam a usar o cheque especial e dão início a um novo ciclo de pagamento de juros e de orçamento apertado. Então estamos diante de um problema comportamental e não matemático. Poupar dinheiro não intuitivo. Por isso as pessoas tendem a gastar quase tudo o que ganham dentro do próprio mês em que receberam o salário.

Meu paciente, mesmo seguindo com a conta bancária negativa e pagando juros mensalmente, ficou surpreso com a quantia que tinha poupado em pouco tempo. Fez sua primeira aplicação no Tesouro Direto depois do sétimo mês de poupança. Ver o dinheiro começar a render foi tão motivante que ele passou a buscar com mais afinco formas de mexer no seu orçamento e conseguir quitar o saldo devedor da conta corrente. Quando alcançou o objetivo depois de quase um ano ele já tinha aprendido naturalmente a registrar seus gastos. Atualmente ele está compondo os fundos para os quatro objetivos que apresentei incialmente.

Testemunhei experiências equivalentes com outros pacientes e mesmo com amigos. Então, se quiser alcançar o equilíbrio financeiro, passe a guardar dinheiro e não o use em hipótese alguma. Você aprenderá muitas coisas depois… aprenderá a multiplicar seus recursos e passará a ter uma vida mais equilibrada e tranquila. Certamente não pretendo que esta seja uma solução universal ou uma fórmula mágica.

Mas acredito fortemente, a partir do que tenho vivenciado no consultório, que esta pode ser uma estratégia eficaz para quem tem dificuldade em controlar o orçamento. Comece cuidando de um único objetivo… poupar. Guardar, por exemplo, vinte por cento do que você ganha. Aprenda aos poucos a fazer com que os oitenta por cento restantes paguem seu orçamento. Depois de poucos meses você terá aprendido mais sobre você mesmo e sobre como administrar o seu dinheiro.

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