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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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CONVIDADO EM TERAPIA: Saúde bucal e autoestima

No próximo dia 3 comemora-se o dia mundial do dentista. Para marcar a data, convidamos a odontóloga Zuleide C. Dias de Oliveira para compartilhar aqui como a saúde bucal é importante na determinação da autoestima. Boca sã…mente sã (por Zuleide C. Dias de Oliveira) Estar ao lado de alguém alto astral, tranquilo e que te […]

Por VEJASP
Atualizado em 26 fev 2017, 20h47 - Publicado em 1 out 2014, 21h34

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No próximo dia 3 comemora-se o dia mundial do dentista. Para marcar a data, convidamos a odontóloga Zuleide C. Dias de Oliveira para compartilhar aqui como a saúde bucal é importante na determinação da autoestima.

Boca sã…mente sã (por Zuleide C. Dias de Oliveira)

Estar ao lado de alguém alto astral, tranquilo e que te recebe com um lindo sorriso traz uma sensação de bem estar inegável. Um sorriso radiante com dentes bem cuidados cativa.

O ser humano tem um senso estético apurado, muitas vezes exigente, e dentes desalinhados, escurecidos e ausentes são facilmente percebidos nas relações interpessoais.  Essa percepção faz com que as pessoas, que estão cada vez mais preocupadas com a boa aparência, naturalmente dediquem parte dos cuidados pessoais à estética bucal.  Os excessos são sempre criticados, mas não há como negar que o empenho em atingir a excelência na estética traz benefícios para a saúde bucal e para a autoestima.

Depois de anos dedicados à odontologia vejo que muitos pacientes que procuram um dentista estão muito mais interessados em alcançar um sorriso parecido com o dos artistas da novela do que com a saúde bucal.  Para o profissional a estrutura funcional e tudo o que pode interferir negativamente na saúde geral do paciente tem prioridade. Enquanto estamos preocupados com as cáries, focos infecciosos e gengivites, alguns pacientes estão focados no clareamento, facetas em porcelana, aparelhos ortodônticos invisíveis etc. Atribuídas as devidas importâncias digo sempre que não há o certo ou o errado, mas diferentes pontos de vista.

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Presenciei diversas reclamações e relatos dos pacientes e o mais incrível é que os mais desesperados e dramáticos não estavam relacionados à dor mas sim a próteses que soltaram ou dentes anteriores que quebraram antes de um casamento, festa de aniversário ou viagem, e até dentes amarelados que só foram lembrados na véspera de uma entrevista.

Certa vez atendi uma adolescente que quase não saía de casa e dificilmente sorria, simplesmente por ter uma pequena mancha branca no seu incisivo central. Com um simples procedimento corretivo essa menina voltou a sorrir e a aproveitar as coisas boas de sua idade.

Difícil foi acreditar que o marido de uma linda senhora não sabia que ela não tinha nenhum dente em sua boca e que sempre usou próteses totais (dentaduras). Ela realmente acreditava nisso, ou preferia acreditar. Ouvindo seu relato logo pensei: como ele é sensível e gentil.

Fiquei sensibilizada com uma senhora que me procurou para a confecção de uma nova prótese total. Durante a consulta desenvolvemos uma conversa animada até que ela começou a chorar ao relembrar o motivo de estar sem dentes. Sua família tinha origem humilde e moravam numa pequena cidade do interior, sem muitos recursos. Aos 13 anos, como muitas crianças em situação parecida, teve cáries e dor em alguns dentes. Seus pais a levaram no único dentista da cidade que, vendo que os pais não tinham muitos recursos para o tratamento, propôs a extração de todos os dentes e a colocação de uma “dentadura”. Os pais aceitaram e assim foi feito.  Relatou em detalhes o trauma psicológico que passou. Aos 20 anos resolveu sair de casa e tentar a sorte em São Paulo. Apesar de ter namorado algumas vezes nunca se casou pois sentia muita insegurança por usar uma dentadura. Teve uma filha num desses relacionamentos e retornou à casa dos pais somente quando sua filha ia se casar. O reencontro com os pais e com a cidade natal a fez reviver toda a dor, angústia e tristeza pela mutilação sofrida na sua infância. Durante a visita não falou a seus pais sobre isso ou sobre toda a dificuldade que ela passou desde o dia em que deixou aquela casa. Na despedida somente disse à sua mãe que não voltaria mais por ter medo de avião, e sua mãe lhe respondeu: tudo bem! Falou-me que entende seus pais e procura não guardar mágoas… mas ainda chora quando lembra..

Muitas pessoas sofrem em silêncio com problemas relacionados aos seus dentes. Tristeza e principalmente insegurança nas mais simples ações do dia a dia assombram e angustiam pessoas que não conseguem ter acesso aos avanços da odontologia pelo ainda alto custo do tratamento. A incapacidade financeira aprofunda ainda mais os sentimentos negativos que os problemas dentários trazem às pessoas. Não é raro encontrarmos pessoas que, por sorte e muito trabalho, conseguiram alcançar uma situação financeira confortável e não vacilaram em arrumar os dentes antes de comprar seu primeiro automóvel.  É genuína a importância dada à aparência dos dentes por muitas pessoas.

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Considero que o equilíbrio entre o que o profissional avalia necessário para o restabelecimento da saúde bucal e os anseios do paciente esteja intimamente relacionado com o sucesso do tratamento e, por consequência, à estabilidade emocional e segurança para as mais diversas relações humanas. Recentemente os meios de comunicação divulgaram o resultado de um clareamento excessivo nos dentes de um cantor sertanejo, o que lhe causou  um constrangimento desnecessário devido à falta de equilíbrio.

Os tratamentos devem trazer benefícios funcionais e estéticos. No blog do Miguel Barbieri Jr há fotos de atores antes e depois de um tratamento dentário, onde fica evidente o quanto os procedimentos odontológicos podem mudar a vida de uma pessoa. A harmonia no sorriso traz muito benefícios e arrisco dizer que abre muitas portas, principalmente no universo coorporativo. Os profissionais devem estar atentos aos pacientes que alertam para questões emocionais relacionadas às alterações na estética bucal.

A odontologia moderna está voltada para o desenvolvimento tecnológico, com técnicas e materiais de excelente qualidade, com uma forte preocupação com o bem-estar das pessoas, porém o grande entrave ainda é o acesso justo para todas as pessoas. O tratamento dentário é um sonho de “consumo” para muitos quando se pensa na totalidade da população do nosso país.

E esse é o grande desafio para o poder público, cidadãos e profissionais envolvidos, que o avanço da odontologia favoreça cidadãos de cada pedacinho desse país, garantindo a verdadeira promoção da saúde pensando na totalidade do ser humano.

Zuleide C. Dias de Oliveira é cirurgiã-dentista, especialista em implantodontia pelo Hospital de Aeronáutica de São Paulo com atualização pelo Friatec Congreb Center de Frankfurt, Alemanha. Contato: consultorio.zuleide@hotmail.com.

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