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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Ansioso? Uma lição do surfe para o cotidiano

Trago hoje o relato de um paciente que construiu uma compreensão interessante para seu problema de ansiedade a partir de uma experiência concreta. A fim de renovar a energia necessária para sua pesada rotina como diretor de uma multinacional, ele dedica parte de seu tempo livre à aprendizagem e à prática de esportes dinâmicos, como […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 22h43 - Publicado em 18 fev 2014, 17h25

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Trago hoje o relato de um paciente que construiu uma compreensão interessante para seu problema de ansiedade a partir de uma experiência concreta. A fim de renovar a energia necessária para sua pesada rotina como diretor de uma multinacional, ele dedica parte de seu tempo livre à aprendizagem e à prática de esportes dinâmicos, como o skate e o surfe, que ele começou a aprender recentemente.

Estamos acostumados a ver vídeos de surfe (na internet ou em filmes) do início ao fim da surfada na onda, que é a parte que importa essencialmente. Mas não temos muita oportunidade de ver a etapa prévia na qual o surfista se posiciona no melhor local para “pegar” a onda ideal. Isso envolve algum tempo, já que o surfista tem de deitar com o peito na prancha próximo da praia e remar nessa posição em direção ao mar aberto até chegar ao ponto ideal de formação de onda para, aí sim, poder começar a surfar. Nas primeiras ocasiões de surfe no mar, esse meu paciente desejava bastante aproveitar ao máximo cada minuto de prática, de modo que o momento prévio lhe parecia algo desinteressante e que lhe tirava o tempo de surfada. Assim ele relatou:

“Eu estava com tanta vontade de pegar onda que eu deitava na prancha e remava o mais rápido que podia até o ponto de formação e pegava a primeira onda que vinha para poder pegar o maior número possível de ondas naquele dia.”

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Numa dessas remadas, depois de várias idas e voltas, ele acabou se cansando e, já ofegante, teve de interromper a trajetória para retomar o fôlego. Enquanto esperava, ele começou a observar seu entorno. A primeira coisa que notou foi que os outros surfistas remavam num ritmo suave e, ainda assim, tinham o mesmo rendimento que ele com suas remadas aceleradas. Por remar com suavidade, eles não chegavam cansados ao ponto de formação de onda, o que significa que, dessa forma, eles podiam cumprir vários ciclos de surfada num único dia. Depois disso, nosso aprendiz de surfe notou que seus colegas não pegavam a primeira onda para ganhar tempo. Eles ficavam sentados na prancha esperando a onda ideal, a que fazia valer a pena a remada prévia. E ele notou ainda algo que lhe escapava até aquele momento: que tarde linda estava naquele dia. A partir daí, ele passou a imitar o ritual de seus colegas e aproveitar muito mais a experiência toda, além de ver seu desempenho melhorar num ritmo maior.

Ele próprio transportou essa rica experiência do surfe para outros campos de sua vida. Percebeu como o estado de ansiedade o atrapalhava no dia-a-dia. Nunca teve problemas com relação à qualidade do seu trabalho, mas entendeu que poderia aproveitar melhor cada parte de uma dada situação. Sua palavra de ordem desde então passou a ser “calma”. Calma para curtir, calma para entender a realidade, calma para tomar a melhor decisão, calma para agir no melhor momento.

Em análise do comportamento, entendemos que um determinado padrão de resposta é menos provável de ocorrer ou se repetir quando a consequência agradável que ele produz (reforçadora do comportamento) demora muito para acontecer. No caso do nosso aprendiz de surfista, poder curtir a onda demorava muito e tinha um custo de resposta muito alto. Naquele ritmo, se não achasse uma alternativa de conduta, ele provavelmente perderia a motivação para surfar. O que ele estabeleceu sozinho foi inserir (identificar, nesse caso) pequenos reforçadores (a remada suave, a vista da paisagem, um tempo de reflexão ou mente relaxada…) que antecediam o principal, que é a onda.

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Assim é em todos os campos da vida. Diante de um projeto grande, que demande esforço, não é bom focar toda energia exclusivamente no resultado. Isso fará com que suas expectativas ganhem uma dimensão disfuncional e gerará excessiva ansiedade que, por sua vez, atrapalhará no logro do objetivo. O melhor é encontrar prazer e satisfação em todas as etapas do projeto. Se você remar sem pressa, vai encontrar essas fontes de prazer. Como nos recomendou Bobby McFerrin, “don’t worry… be happy!”. Para você já entrar no clima, aí embaixo vai o clipe dessa canção (Não… ela não é do Bob Marley!).

Pronto pra remar? Bom surfe pra você!

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=d-diB65scQU?feature=oembed&w=500&h=375%5D

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