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“Eu estava pronto para desistir”, diz Charles Bradley, que toca neste fim de semana no Sesc Pompeia

Charles Bradley, que se apresenta neste fim de semana no Sesc Pompeia, se manteve no anonimato na maior parte dos seus 66 anos, mas nunca que se apagasse a chama desperta em seu peito no dia que a irmã o levou, quando criança, ao Apollo Theater, em Nova York, para assistir James Brown. + 10 apresentações […]

Por Luan Freires
Atualizado em 26 fev 2017, 16h32 - Publicado em 21 Maio 2015, 21h33
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(Foto: Paul McGeiver/Divulgação)

Charles Bradley, que se apresenta neste fim de semana no Sesc Pompeia, se manteve no anonimato na maior parte dos seus 66 anos, mas nunca que se apagasse a chama desperta em seu peito no dia que a irmã o levou, quando criança, ao Apollo Theater, em Nova York, para assistir James Brown.

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De família pobre, ele fugiu de casa ainda adolescente e morou na rua entre os 14 e os 16 anos. Acabou encontrando um emprego como cozinheiro no estado do Maine. Ali, formou uma banda com os colegas, mas, depois de apenas seis shows, os companheiros foram recrutados para a Guerra do Vietnã. Ele se manteve por mais dez anos naquele emprego e, a partir de 1977, viajou o país pegando carona e fazendo bicos. Em 1996 voltou a Nova York, cidade onde cresceu, para reencontrar a mãe e os irmãos. Ali passou a se apresentar como imitador de James Brown em pequenos clubes sob a alcunha de “Black Velvet” ou “veludo negro”.

Foi então que Gabriel Roth, cofundador da gravadora Daptone (a mesma de Sharon Jones & The Dap-Kings), o descobriu. Ele o apresentou ao produtor Tommy Brenneck, que o encorajou a cantar sobre a sua própria vida. Histórias não faltavam. Bradley, que havia passado anos longe da família, quase morreu naquela época ao ser medicado com penicilina, antibiótico ao qual ele é alérgico. Assim que se recuperou, seu irmão foi assassinado em frente à casa da mãe.

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O prestígio demoraria mais um pouco a chegar. Ele lançou com a Daptone alguns compactos em vinil durante a última década, mas o primeiro disco-solo, No Time for Dreaming, só chegou em 2011. Foi o trabalho que o colocou no mapa e lhe rendeu o tardio e merecido reconhecimento.Com ele, visitou o Brasil pela primeira vez, se apresentando no palco da Praça da República durante a Virada Cultural de 2012. Quem o assistiu presenciou uma experiência quase transcendental. Além de estar acompanhado pela azeitada Menahan Street Band, Bradley dá tudo de si no palco.

De volta a São Paulo, agora para mostrar o trabalho mais recente, Victim of Love (2013)ele fala sobre sofrimento, obstáculos, dor, soul music e fé.

Você se apresentou na cidade em 2012. Lembro de você descer do palco emocionado e cumprimentar todos os que estavam na plateia esperando para falar com o senhor. O que aconteceu naquela ocasião que o fez chorar?

Vocês me deram amor e me receberam muito bem, devo dizer que o Brasil é um dos lugares que eu mais gostei de me apresentar. As pessoas foram tão verdadeiras, me senti amado. Hoje não se usa a palavra “amor” com o seu real significado. É um sentimento que, quando você o sente de verdade, te traz lágrimas aos olhos. Vou te contar uma pequena história: minha mãe teve a mesma geladeira e o mesmo fogão desde quando eu tinha 11 anos. Eu fui visitá-la certa vez, já mais velho, e vi que a geladeira estava numa situação deplorável, o fogão também. Ela não podia comprar novos. Então, quando voltei para a Califórnia, pedi que entregassem uma nova geladeira e um novo fogão na casa dela. Quando a encomenda chegou, ela disse: “não posso pagar, não vou aceitar”. Foi então que disseram que a entrega era em meu nome. Ela me ligou em seguida e falou: “essas não são lágrimas de sofrimento, mas de amor, muito obrigado”. Foi o mesmo sentimento que tive quando me apresentei para vocês.

Sua música é similar à soul music dos anos 60 e 70. Mesmo assim o seu público é majoritariamente formado por jovens. O que há no seu trabalho que consegue se conectar com os mais novos?

O que os músicos de hoje fazem é pegar a música daquela época, colocá-la em um computador e mudar alguns detalhes: aumentar ou abaixar o volume, acelerar o ritmo. É só isso o que acontece. Eu faço o que fiz durante toda a vida. É por isso que chamam a soul music de soul (“alma”). Ela nunca morre.

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Foi difícil deixar de ser imitador de James Brown e encontrar a sua própria identidade no palco?

Sim. Honestamente, compor as minhas próprias letras é mais doloroso. Imitar James Brown era divertido, eu gostava do que ele fazia, de como a banda dele tocava. Mas eram as letras de James Brown. Quando comecei a escrever, descobri a profundidade de quem eu sempre fui. Eu vim de um ambiente parecido com o dele: foram muitas dificuldades, dores, feridas. Foram essas as condições que o tornaram quem foi, que o fizeram cantar com tanto sentimento. É o que eu tento fazer hoje. Pegar a minha experiência, traduzi-la em música e esperar que isso ajude alguém.

O senhor lançou o seu primeiro disco aos 62 anos. Alguma vez pensou em desistir da carreira?

Eu estava pronto para desistir. Tinha chegado ao meu limite. O meu irmão havia morrido [Charles o encontrou morto em frente à casa da mãe dos dois, em 1996. A música Heartaches and Pain é em sua homenagem], que foi assassinado com um tiro na cabeça. Agora eu também sou respeitado nos Estados Unidos. Antes só queriam que eu imitasse James Brown. Agora, se eu fizer isso, ninguém vai querer me assistir. Eu aprendi a dizer não. Eu gostava de fazer aquilo, mas atingi o ponto em que precisava me vasculhar e encontrar a minha própria identidade.

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O senhor gravou uma versão de Stay Away, do Nirvana, cover que foi muito elogiado quando lançado, em 2011. Você optou por não cantar os últimos versos da música…

[Interrompendo] Stay Away não foi uma canção escrita por mim. Me convidaram para canta-la, mas eu não entendia o significado da música. “I’d rather be dead than being cool (preferia estar morto do que ser legal)”? Não entendia… Eu prefiro ser legal do que estar morto! Mas me contaram o que a canção representava. Quando soube da história de quem a escreveu [Kurt Cobain], pude entender e colocar o meu próprio sentimento nela.

Você se arrepende de ter gravado a música?

Eu tive muito receio na ocasião, mas, hoje, eu não me arrependo. Eu compreendo o que o cara estava sentindo naquele momento, era muito estresse e muita dor. Eu o entendo. Foi bom ter feito a minha própria versão da música [Bradley, que é cristão, não canta os versos finais da música, que dizem “God is Gay”].

Qual conselho você daria para o Charles Bradley de 23 anos?

O mesmo que digo para as minhas sobrinhas e para os jovens: encontre algo positivo que você queira fazer e faça. Os mais novos pensam que a vida é fácil, mas você precisa ir lá fora apanhar um pouco e continuar focado no que você faz. Um dia alguém vai notar. E quando perceberem qual é a sua, que você se doou, vão te admirar. Podem dizer: ”Charles, eu já passei por tudo isso”. Eu acredito, mas também é preciso encontrar uma oportunidade. Se você quer ser alguma coisa na vida, você precisa sair e mostrar que você realmente quer chegar lá. Use o seu amor e a sua dignidade para fazer esse mundo um lugar melhor.

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