A Mostra que mudou nossas vidas
Estou completando vinte anos dedicados à crítica e à reportagem cultural. Em VEJA SÃO PAULO, são quase treze anos escrevendo sobre cinema. Chego, portanto, à cobertura da minha 13ª Mostra Internacional pela revista. O evento mais importante para os cinéfilos paulistanos entrou na minha vida bem antes. Contei um pouco sobre isso num depoimento que […]
Estou completando vinte anos dedicados à crítica e à reportagem cultural. Em VEJA SÃO PAULO, são quase treze anos escrevendo sobre cinema. Chego, portanto, à cobertura da minha 13ª Mostra Internacional pela revista.
O evento mais importante para os cinéfilos paulistanos entrou na minha vida bem antes. Contei um pouco sobre isso num depoimento que dei, dois anos atrás, para o livro Os Filmes da Minha Vida Vol. 3, da editora Imprensa Oficial (capa abaixo). O convite partiu do casal Leon Cakoff-Renata de Almeida e foi um dos momentos mais emocionantes da minha carreira.
A Mostra (não só para mim) mudou meu olhar de ver o cinema, tão viciado nos filmes americanos. A mais remota lembrança que tenho foi a de ver Saló, do Pasolini, no Masp, na Mostra de 1981. O filme ficou proibido no Brasil durante muitos anos e, naquela época, recordo de ter saído estarrecido da sessão (quem viu, sabe o motivo). Três anos depois, peguei realmente gosto pela coisa. Jamais esqueço da projeção interrompida de O Baile porque, se não me engano, faltava um alvará que permitisse sua exibição. Sim, meu amigo, O Baile (foto abaixo), aquele belo musical do italiano Ettore Scola sem diálogos, foi alvo de uma dissimulada censura.
Quase três décadas depois, dá para dizer que tudo mudou. Não é folclore quando falam que a Mostra passava filme alemão com legendas em turco ou turco com legendas em alemão. Era a forma que Cakoff encontrava para, ao menos, trazer até o cinéfilo de São Paulo uma cinematografia que só quem frequentava festivais internacionais tinha acesso. Ao longo do tempo, a Mostra se profissionalizou e, hoje, graças à legendagem eletrônica, a gente pode ver os filmes e… entendê-los perfeitamente (!).
Sem o fôlego (e até a paciência) do rapaz de quase três décadas atrás, hoje boto um freio nas escolhas. No passado, assistir a cinco ou seis filmes diários era um programa absolutamente normal para mim. Minha cota agora é três, no máximo quatro, longas por dia.
A Mostra começa na próxima sexta, dia 19, e traz, talvez, a mais bela vinheta de sua história. Cakoff, com certeza, se orgulharia do delicado trabalho de sua equipe (veja abaixo).
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Teremos no cardápio cerca de 380 títulos. Impossível encontrar alguém que veja tudo, mas nada impossível encontrar gente que tire férias para frequentar a Mostra e passar de uma sessão a outra comendo sanduíche e bolachas no escurinho das salas.
Desde meados de setembro, venho esquentando os motores. Faço isso todos os anos: vejo alguns filmes antes para saber o que indicar ao leitor. Quer saber quais? Fique ligado nos próximos posts.