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João Fábio Cabral e um passo atrás para seguir em frente: “Andar ao contrário é, por vezes, necessário”

O dramaturgo potiguar João Fábio Cabral, de 42 anos, anda pelo mundo dando tempo ao tempo. Na quarta (25), estava em Madri, mas o final de semana já seria em Lisboa para retornar na segunda semana de dezembro à capital espanhola. Tem sido assim desde 2013, mais na Europa que no Brasil, enfrentando a perda de […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 14h05 - Publicado em 25 nov 2015, 18h43
João Fábio Cabral: o drama "Um Passo Atrás" volta ao cartaz mo dia 4 (Foto: Divulgação)

João Fábio Cabral: o drama “Um Passo Atrás” volta ao cartaz no dia 4 (Foto: Divulgação)

O dramaturgo potiguar João Fábio Cabral, de 42 anos, anda pelo mundo dando tempo ao tempo. Na quarta (25), estava em Madri, mas o final de semana já seria em Lisboa para retornar na segunda semana de dezembro à capital espanhola. Tem sido assim desde 2013, mais na Europa que no Brasil, enfrentando a perda de uma pessoa amada, indo e voltando para algum trabalho. O autor de “Delicadeza”, “Rosa de Vidro” e “Um Verão Familiar” tem uma nova peça prestes a ganhar o cartaz. Depois de uma curta temporada no Instituto Capobianco, o drama “Um Passo Atrás” reestreia no Top Teatro na sexta-feira, dia 4. Sob a direção de Fabiana Carlucci, a montagem é protagonizada por Camila Graziano e Zemanuel Piñero e mostra uma mulher que, após a morte da mãe, volta à casa de sua infância e descobre segredos do passado. Por e-mail, de Madri, João Fábio Cabral falou, falou, falou…

O reencontro com o passado através de seus fantasmas é um tema recorrente em sua obra. Existe alguma motivação pessoal ou simplesmente é um interesse artístico em abordar o tempo e a transformação das pessoas?

É como um manifesto, um desabafo por ter memória. É através da memória que existo e os fantasmas também. Nunca fui de olhar apenas para os meus sapatos. Os dos outros, sejam eles os desconhecidos, os estrangeiros e, depois novamente os meus, sempre foram minha maior referência. Gosto das coisas que acontecem na casa do vizinho, no bar e até na nossa casa, algumas vezes como lapsos, outras vezes com começo, meio e fim, não apenas de memória, mas de tudo que se constrói através dela. Gosto de me perder e me encontrar na memória, nos fantasmas que se apresentam diariamente no mundo. Esse olhar é vital para mim, memória como vida para não me esquecer da vida. Existe um lugar como artista que não me permite esquecer, inclusive o meu novo texto que estou escrevendo é um tema presente durante toda obra.

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Esse texto foi uma encomenda da atriz Camila Graziano. Você já tinha trabalhado dessa forma e o que muda na sua produção?

Eu fiz algo parecido em outra peça minha, mas o que conta mesmo é se o assunto me interessa de verdade, se é algo que me provoca. A Camila me procurou e foi algo instantâneo, falar do luto, da ausência, do resgate, isso tudo me jogou naturalmente para dentro da criação, me fez pulsar sem controle, aceitei essa suposta encomenda como oportunidade de falar da relação estabelecida no texto, essa escuridão do afeto íntimo, do passado, do perdão invisível, do abraço ausente ou nunca dado. E como ainda contava com a direção da Fabiana Carlucci e junto com elas o Zemanuel, pronto, um jogo perfeito.

Zémauel Piñero e Camila Graziano: "Um Passo Atrás" ocupa o Top Teatro (Foto: Fernando Gardinali)

Zémauel Piñero e Camila Graziano: “Um Passo Atrás” ocupa o Top Teatro (Foto: Fernando Gardinali)

Você teve uma fase extremamente profícua na virada da década de 2000 para 2010 e deu uma sossegada. Foi uma opção para não massificar seu trabalho, alguma crise pessoal ou simplesmente outras questões se tornaram prioridades? 

Eu não sei, talvez um pouco de tudo isso, existe sempre um movimento de investigar mais, mudar de rota, é uma conversa silenciosa, que se estabelece e transforma os sentidos. O estranho sempre fica provocando, batendo na porta. Com o tempo fui pedindo um pouco mais de liberdade para mim mesmo. É uma sensação de desacordo, mas é bom, hoje seguro um pouco mais esse diálogo incessante com o ato de criar e me faço mais presente comigo mesmo, é tudo uma coisa só, Acredito eu, mas quem atravessa a rua é o homem, seja lá o que isso signifique. Hoje também gosto de fotografar, andar sozinho. Há três anos, eu vivo mais aqui na Europa. Pelo menos seis meses por ano, fico por aqui e isso me fez repensar, descobrir e aprender coisas. Devo voltar no início de fevereiro para o Brasil e, nesse ir e voltar, vou realizando alguns trabalhos. É um tempo, um ajuste, saca? Hoje, eu tenho com a atriz Andréia Garcia, AMESMA COMPANHIA DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL e, em 2013 e 2014, a gente fez junto com Le Fazzio, Vinicius Calamari e outros atores convidados uma mostra com quatro texto inéditos no Teatro Pequeno Ato. Foram eles “Janeiro”, “Cidade Silenciosa”, “Algumas Laranjas” e “Bob é Negro”, que está publicada no meu livro “Cinzeiro – 17 Obras de João Fábio Cabral”.

O ator voltou à tona recentemente, certo? Você participou do filme “Jonas”, exibido há pouco no Festival do Rio. Como foi esse retorno à atuação e de que forma essa retomada reflete ou vai refletir no seu teatro? 

O ator vive presente em mim, essa foi minha formação na escola de teatro e depois nos grupos ou peças de que participei. Então, sempre existe um desejo de ser personagem de uma obra, seja ela de cinema ou teatro. Voltar é sempre angustiante, mas também é verdadeiramente incrível, uma potência de vida que não sei como explicar, de me jogar em um mar desconhecido. Bem desconhecido e feroz. Fiquei muito feliz em fazer o filme “Jonas” e, naturalmente, isso movimenta muitas questões no exercício de ser ator, de ser, digo que é um encontro comigo mesmo, numa outra perspectiva, mas sempre um encontro com meus olhos e minha mente. Isso também, sem dúvida, escorre para uma futura criação do dramaturgo, do teatro que imagino. O meu instinto humano e de artista necessita dessa guerra descontrolada que é ser ator.

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Pegando essa temática constante e usando o título da peça agora eu lanço uma pergunta final… Um Passo Atrás é fundamental para andar para frente?

Pode ser voltar, ir pra frente, ou mesmo, quem sabe, uma busca simplesmente do fundamental, do que vale, do que vive, de ser, do ser que regressa vulnerável ao tempo passado. Eu vejo como uma possibilidade de se recomeçar pelo fim/presente, esse fim que é quase meio e congela na memória e de alguma maneira mata nossa essência temporariamente caso não seja aquecido, desfeito, limpo, resolvido para descolar desse presente/fim estabelecido por isso que se chama destino. É natural que algumas dores, feridas, sentimentos sejam expostos sem nenhum filtro, por vezes, talvez, sem nenhuma doçura ou afeto. É um passo a mais na estrada que a vida em algum momento oferece. Voltar para curar a enfermidade deixada pelo meio do caminho. Andar ao contrário é, por vezes, necessário.

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