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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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Roberto Lage estreia “Jacques e Seu Amo” e critica improviso: “É pernicioso se está a serviço do exibicionismo do interprete”

O diretor paulistano Roberto Lage, de 68 anos, estreia a comédia “Jacques e Seu Amo”, única peça escrita pelo checo Milan Kundera. Acalentado há mais de duas décadas, o projeto vira realidade no Centro Cultural Banco do Brasil a partir da quinta (8), e Lage entra num assunto que pode ter um foco social: a relação […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 14h35 - Publicado em 1 out 2015, 17h30
Roberto Lage: diretor (Foto: Divulgação)

Roberto Lage: diretor lança a comédia “Jacques e Seu Amo”, de Milan Kundera (Foto: Divulgação)

O diretor paulistano Roberto Lage, de 68 anos, estreia a comédia “Jacques e Seu Amo”, única peça escrita pelo checo Milan Kundera. Acalentado há mais de duas décadas, o projeto vira realidade no Centro Cultural Banco do Brasil a partir da quinta (8), e Lage entra num assunto que pode ter um foco social: a relação entre patrões e empregados. Na trama, um amo e seu criado (interpretados por Hugo Possolo e Edgar Bustamante) viajam a um destino desconhecido. Os dois rememoram aventuras e casos amorosos, muitos considerados politicamente incorretas. No elenco ainda aparecem Renata Zhaneta, Ando Camargo, Greta Antoine, Angelo Brandini e Felipe Ramos. A temporada será de quintas a domingos, até 13 de dezembro, com ingressos a R$ 10,00.

“Jacques e Seu Amo” persegue você desde os anos 80. Por que demorou tanto para montá-lo? 

“Jacques e seu Amo” não me persegue, sou eu que o persigo. Admiro o Milan Kundera desde quando eu li “A Insustentável Leveza do Ser”. Aliás, eu soube dessa peça na época da publicação do romance no Brasil. Eu me encantei. Já gostava muito de “Jacques, O Fatalista”, do Diderot, e a adaptação dele para o teatro é ótima como dramaturgia. Condensa a obra sem suprimir sua essência, que, na minha visão, é precursora na transformação da sociedade na revolução industrial. Eu demorei tanto para montá-lo por uma razão simples. Entrei em vários editais de patrocínio e nunca fui contemplado. Pela Lei Rouanet, nenhuma empresa se interessou em patrocinar. Deixei quieto e, no ano passado, tentei o Centro Cultural Banco do Brasil.

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+ Antonio Fagundes fala sobre teatro e cinco décadas de carreira.

Você viu o filme “Que Horas Ela Volta”? Como é tratar dessa relação de patrão e empregado sem escorregar nos preconceitos?

Eu ainda não tive tempo de ver o filme da Anna Muylaert porque o último mês foi de muito trabalho. Uma das questões que Diderot levanta é se nós estamos predeterminados pelo destino ou somos agentes de nossa própria história. O texto é precursor dentre outras razões também por isso. No século XVIII, quando as camadas sociais eram estratificadas, Diderot propõe uma reflexão estabelecendo uma relação entre amo e criado capaz de transgredir o padrão de comportamento da época. Acho que temos heranças arraigadas. Mesmo mascaradas, elas ainda carregam um ranço de subserviência. O espectador vai se identificar com uma situação exposta e, consequentemente, isso gera uma reflexão. A identificação com essa semelhança pode estar representada na hipocrisia das relações sociais com que convivemos, negando os preconceitos existentes.

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"Jacques e Seu Amo": Hugo Posso, Renata Zhaneta e Edgar Bustamante (Foto: JOã Caldas)

“Jacques e Seu Amo”: Hugo Possolo, Renata Zhaneta e Edgar Bustamante (Foto: João Caldas)

Sob um ponto de vista cômico fica mais fácil abordar esse tema?

A comédia, em alguns casos, pode facilitar a percepção do espectador.

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Você tem cinco décadas de teatro ininterruptas. É sorte ou persistência?

Sou um privilegiado por nunca ter interrompido a minha carreira teatral. Talvez eu tenha sorte, mas também nunca corri atrás da fama. Meus mestres e exemplos, como o Antonio Abujamra e o Antunes Filho, me mostraram, entre outras coisas, que o caminho é o da busca da coerência e do prestígio.

+ Rodrigo Lombardi entra para o elenco de “Urinal, O Musical”.

Está mais difícil fazer teatro, mais desgastante?

Fazer teatro hoje está muito mais difícil e desgastante por mil razões. O poder público abriu mão da responsabilidade de comandar a demanda cultural, transferindo para a iniciativa privada a responsabilidade do que vai ou não para os palcos. Também deixou de estimular a realização da experimentação e pesquisa cênica. Esta é uma razão pela qual tenho me dedicado muito menos a esse segmento. Uma das funções da arte e, consequentemente, do teatro é apontar caminhos, buscar a utopia, comungar com o pensamento filosófico. Não temos isso, vivemos o caos e tudo é descartável. A meta vigente é não correr riscos. Meus nortes são defender com meus trabalhos uma tese capaz de comungar com o tempo e a sociedade em que vivemos.

Você é um raro exemplo de diretor que transita com facilidade por todos os gêneros. Já foi cobrado por não ter optado por uma assinatura mais específica?

Gosto de exercitar como artista todos os gêneros, todas as linguagens. Acho isso bom porque todas podem ser generosas umas com as outras e complementares entre si. Também é muito mais enriquecedor para quem as exercita sem dogmas ou preconceitos. Nunca fui cobrado e nem me cobro maior verticalização em nenhuma delas.

Qual é o ator mais difícil de dirigir? O comediante ou o dramático?

A minha grande paixão é poder dirigir atores. Nunca estive com um ator difícil de dirigir, já estive com atores com quem não consegui estabelecer uma parceria.

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De que forma o excesso de improviso pode atrapalhar um espetáculo?

O improviso só cabe na comédia de costumes ou na farsa, e ele só é pernicioso se não estiver a serviço do texto, da tese a ser defendida. É pernicioso se está a serviço do exibicionismo do intérprete.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=KdEREjb5kK0?feature=oembed&w=500&h=375%5D

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