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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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Heloísa Périssé e as tantas contradições do mundo feminino: “mulher gosta mesmo é de mulher!”

Como autora e protagonista, a atriz Heloísa Périssé percebeu que só sobressai quem aposta nos seus diferenciais. Por isso, o monólogo cômico “E Foram Quase Felizes para Sempre”, dirigido por Susana Garcia, carrega uma boa dose de mea-culpa no perfil da personagem principal, a escritora Letícia Amado. Na trama, ela autografa um guia com os […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 16h03 - Publicado em 11 jun 2015, 08h13
Heloísa Périssé em "E Foram Quase Felizes para Sempre": sessões no Teatro J. Safra até dia 28 (fotos: Guga Melgar)

Heloísa Périssé em “E Foram Quase Felizes para Sempre”: até dia 28 (Foto: Guga Melgar)

Como autora e protagonista, a atriz Heloísa Périssé percebeu que só sobressai quem aposta nos seus diferenciais. Por isso, o monólogo cômico “E Foram Quase Felizes para Sempre”, dirigido por Susana Garcia, carrega uma boa dose de mea-culpa no perfil da personagem principal, a escritora Letícia Amado. Na trama, ela autografa um guia com os melhores lugares para curtir a lua de mel e, detalhe, nunca viveu tão só. Aos 48 anos, Heloísa está no terceiro casamento, cria duas filhas com olhar firme e reconhece a conquista da tal “maturidade”. Nesse papo, ela fala um pouco do mundo feminino e festeja o sucesso do espetáculo em cartaz no Teatro J. Safra, na Barra Funda, até o dia 28.

Tem um filão de peças sobre o universo feminino, principalmente na última década. As mulheres do século XXI estão mais teatrais e rendem uma boa comédia?

Depois que as mulheres descobriram que “existem” de fato, no sentido mais real da palavra, elas viraram seu próprio objeto de desejo. Mulher gosta mesmo é de mulher! Mulheres querem é de ter filhas, se arrumam para despertar a admiração das outras, gostam de ouvir papo feminino. Quando esse espaço na sociedade foi consolidado de forma tão expressiva, esse amor da mulher por ela mesma, pelo seu trabalho, pelas suas coisas, foi avassalador. Afinal, antes foram muitos anos subjugadas ao poder masculino. Só que a diferença do remédio para o veneno é a dose. As mulheres deixaram de ser engolidas por alguém e elas próprias se engoliram, entende? De repente, ela está no mundo, finalmente com acesso a tudo, mas o coração ficou vazio e essa descoberta gera vários conflitos. O teatro retrata esse momento repleto de contradições. A carreira ganhou um lugar importante, mas os óvulos envelhecem. A cama é king size, mas durmo sozinha. Vou ao cinema, ao teatro, viajo, afinal, o salário é excelente, mas e daí? O que acontece agora é a busca de um equilíbrio. Nós não precisamos mais servir o café, preparar o prato do marido, mas nós queremos fazer isso, também podemos ter prazer nisso.

+ Leia entrevista com Rafael Gomes, diretor de “Um Bonde Chamado Desejo” .

Percebo na sua peça um diferencial de enfoque. Você é irônica, tira sarro das bobagens que a personagem comete. Esse caminho é resultado de sua experiência pessoal? Você é uma mulher madura, já casou e descasou, cria filhos, não fez sucesso de cara.

Hahahahahaha. Obrigada pelo “madura”! Eu sou madura sim, mas procuro sempre manter de propósito um verdinho dentro de mim para nunca esquecer de que a esperança é a última que morre. A minha peça, na verdade, fala do amor. Acho linda uma frase do Carlos Drummond de Andrade que diz que “há vários motivos para não amar uma pessoa, e só um para amá-la. Este prevalece”. A vida é paradoxal. Você quer alguém igual a você, mas não você mesmo.  Ao mesmo tempo, alguém tem que ser diferente de você para ser complementar. Você pode me amar desesperadamente, mas não pode me engolir. Então, amar é muito difícil, vou ficar sozinha que ganho mais. Só que as pessoas descobriram que ficar solteiro também é uma barra. E aí? Eu me considero da geração das princesas que capotaram da carruagem. Não temos mais tempo para ser a Cinderela, muito menos a Bela Adormecida, que descansou durante 100 anos, afinal, temos muitos compromissos. O que nos restou foi a Fiona, que tira a espada da mão do príncipe e mata o dragão. Minha peça é um convite ao resgate da nossa princesinha (risos). Deixa alguém matar o dragão, abrir a porta do carro. Precisamos dar um tempo para que eles façam a corte de novo. É tão bom. Eu me reconheço como Fiona, não tem jeito, mas que sejamos ela pelo menos antes da transformação.

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+ Cassio Scapin relembra Paulo Autran em “Visitando o Sr. Green”.

 Até que ponto a direção da Susana Garcia colabora para essa visão mais irônica? Se fosse um homem, o resultado poderia ser diferente?

Susana é uma mulher inteligentíssima, astuta, sensível. Soube conduzir o trabalho e soube também quando não era para fazê-lo. Nosso processo foi delicioso, e ela só me acrescentou. Um homem, provavelmente daria outros enfoques, mas não sei se posso dizer que o resultado seria melhor, no máximo diferente mesmo. Sugeri muito durante o processo, mas o olhar dela foi fundamental para a construção do espetáculo. O ego dela é gerência e não chefia. E isso é tão raro, um luxo.

Na novela "Boogie Oogie": personagem dramática com Daniel Dantas (Foto: Carolina Rios)

Na novela “Boogie Oogie”: personagem dramática com Daniel Dantas (Foto: Carolina Rios)

Você ganhou fama como atriz de comédia. Nos últimos anos, porém, a televisão tem oferecido a você personagens dramáticas, como as das novelas “Avenida Brasil” e “Boogie Oogie”. Como você renovou essa imagem e escapou do estereótipo da comediante para ser vista como uma atriz versátil? 

Esse sempre foi meu objetivo. Sou engraçada desde pequena. Pelo menos, é o que me dizem. Na minha família, eu animava os eventos, interpretava a vovó dando bronca, mamãe fazendo coisas, papai falando algo. Até hoje, se eu deixar, meus irmãos querem que eu mantenha esse título de palhaça. E acho uma delícia, é natural para mim. Com essa “veia cômica latente”, quando comecei a fazer cursos e testes, foi por aí que sobressaí, foi a minha porta. Mas, dentro de mim, sempre quis fazer de tudo um pouco, jamais pensei em ser a atriz de um tipo só.  Um determinado momento, eu disse: “quero fazer drama”. Nessa hora, eu migrei para as novelas e começou um novo momento na minha carreira. A Monalisa, de “Avenida Brasil”, e a Beatriz, de “Boogie Oogie”, são exemplos disso. Graças a Deus, posso me considerar bem-sucedida nessa nova empreitada. A última coisa que sou é acomodada. A vida grita e não me faço de surda.

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+ Livro recupera Seminário de Dramaturgia do Teatro de Arena.

Nós nos falamos por telefone, há uns quatros anos, na despedida de “Cócegas”. Nessa época, você contou que havia escrito um texto dramático chamado “Camarins”, sobre duas atrizes nos bastidores de um teatro. Falou também que o não protagonizaria porque eram personagens densas, que exigiam muita emoção e você não se sentia segura para isso (leia aqui a entrevista). Lembra-se dessa história? E aí? Vai montar esse texto?  Você acumulou uma bagagem mais dramática nos últimos anos, não? 

Adorei essa cobrança (risos). Eu me lembro desse papo sim. Sabe que eu tenho pensado muito seriamente sobre esse texto? Quem sabe eu monte mesmo. Você é bem intuitivo e captou que pode ser um bom momento para fazer esse trabalho. Pensarei com carinho. E, montada a peça, pode ter certeza de que terá agradecimentos a você (risos).

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