As cinco melhores peças do ano de 2014 em São Paulo
Em um ano em que as atenções se voltaram para a Copa do Mundo do Brasil e eleições para lá de acirradas, o teatro resistiu bravamento e conservou o interesse de seus fiéis espectadores. Dirceu Alves Jr., crítico de VEJA SÃO PAULO, escolheu os cinco melhores espetáculos apresentados em temporadas nos palcos paulistanos em 2014. […]
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Em um ano em que as atenções se voltaram para a Copa do Mundo do Brasil e eleições para lá de acirradas, o teatro resistiu bravamento e conservou o interesse de seus fiéis espectadores. Dirceu Alves Jr., crítico de VEJA SÃO PAULO, escolheu os cinco melhores espetáculos apresentados em temporadas nos palcos paulistanos em 2014. E eles são…
“Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”
Este clássico contemporâneo do americano Edward Albee ganhou uma montagem à altura dirigida por Victor Garcia Peralta. Zezé Polessa e Daniel Dantas superaram com louvor o desafio de recriar os problemáticos Martha e George, juntos há 23 anos e sem nem um pingo de respeito mútuo. Depois de uma festa, eles recebem em casa um jovem casal (Erom Cordeiro e Ana Kutner) para a saideira. O espetáculo, em duas horas e meia, canaliza força na irretocável e ainda surpreendente dramaturgia, muito bem trabalhada pelo quarteto de atores.
“Caros Ouvintes”
O rádio brasileiro conheceu o apogeu entre os anos 1940 e 1950. Com a televisão, a imagem passou a ser a prioridade em detrimento do som e, na década seguinte, as radionovelas não resistiram às tramas eletrônicas. Foi essa fase que inspirou o autor e diretor Otávio Martins a traçar um retrato artístico, comportamental e político da época. A comédia é ambientada em 1968, nos bastidores de uma emissora prestes a transmitir o capítulo final de um folhetim. A montagem transita por situações dramáticas e trágicas, muitas vezes sem a plateia se dar conta. Agnes Zuliani, Alexandre Slaviero, Alex Gruli, Amanda Acosta, Eduardo Semerjian, Natallia Rodrigues, Petrônio Gontijo e Rodrigo Lopez formam o afinado elenco.
“Incêndios”
O drama do libanês Wajdi Mouawad estreou no Rio de Janeiro em 2013 e passou por três outras capitais antes de encantar São Paulo. Em uma atuação gradativamente seca, quase distanciada, Marieta Severo interpreta uma mulher de origem árabe que migra para o Ocidente com o casal de filhos gêmeos (os atores Felipe de Carolis e Keli Freitas). Ela deixa em testamento uma missão para ambos: encontrar o pai, julgado morto, e um irmão de quem eles nunca ouviram falar. Esse é o ponto de partida para uma história relacionada às tragédias gregas, mas capaz de dispensar especificações geográficas e emoções exacerbadas. O diretor Aderbal Freire-Filho construiu uma encenação de impacto, apoiada em um texto duro. O elenco é completado por Flavio Tolezani, Marcio Vito, Kelzy Ecard, Fabianna de Mello e Souza e Isaac Bernat.
“Ou Você Poderia Me Beijar”
Escrito por Neil Bartlett, Adrian Kohler e Basil Jones, o drama dirigido por Zé Henrique de Paula foge do clichê da aceitação ou do preconceito aos homossexuais. Em cena, um casal de homens da terceira idade (os atores Cláudio Curi e Roney Facchini) enfrenta o maior dos problemas: a iminente morte de um deles. A direção conduz o espectador pela história desse amor cultivado há seis décadas. Perto dos 20 anos, eles (Thiago Carreira e Felipe Ramos) se apaixonam. Marco Antônio Pâmio e Rodrigo Caetano representam a dupla quarentona, feliz com a relação estabilizada. Beirando os 80, os dois reconstituem as memórias em comum. Nos papéis femininos, Clara Carvalho marcou presença com surpreendente neutralidade.
“Tríptico Samuel Beckett”
O diretor Roberto Alvim trouxe mais uma encenação radical e repleta de palavras em busca de significados. Foi nos textos finais do irlandês Samuel Beckett (1906-1989), “Para o Pior Avante”, “Companhia” e “Mal Visto, Mal Dito”, que ele encontrou a essência dura e pessimista de seu drama mais bem-acabado. Em uma rara combinação de sólidas atuações, ambições estéticas e dramaturgia, são abordados três momentos na trajetória de uma mulher. Exposta na infância, vida adulta e velhice, a figura feminina é interpretada por Paula Spinelli, Juliana Galdino e Nathalia Timberg. Enquanto a garota (Paula) precisa de estímulo para desbravar o longo caminho, a intensa Juliana traz a mulher já machucada em busca de motivos para seguir em frente. Cansada ao perceber que tanto esforço de quase nada valeu, a senhora (a impactante e memorável Nathalia) se cala e a vida acaba.
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