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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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José Possi Neto estreia “Vidas Privadas”: “existe uma plateia enorme à procura de entretenimento”

Um dos mais prestigiados nomes do teatro brasileiro, o diretor José Possi Neto trilhou caminhos diferentes nos últimos anos. Comandou, entre outras coisas, os dois musicais protagonizados por Claudia Raia, “Cabaret” e “Crazy for You”, e descobriu que existe uma plateia em potencial para ser explorada. “Os musicais e as comédias leves cresceram muito em […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 22h03 - Publicado em 8 Maio 2014, 21h52
José Possi Neto: diretor (Foto: divulgação)

José Possi Neto: diretor da comédia “Vidas Privadas”, em cartaz no Teatro Jaraguá

Um dos mais prestigiados nomes do teatro brasileiro, o diretor José Possi Neto trilhou caminhos diferentes nos últimos anos. Comandou, entre outras coisas, os dois musicais protagonizados por Claudia Raia, “Cabaret” e “Crazy for You”, e descobriu que existe uma plateia em potencial para ser explorada. “Os musicais e as comédias leves cresceram muito em termos de público”, diz ele. A sofisticação do dramaturgo inglês Noel Coward é a fonte de seu novo trabalho, “Vidas Privadas”, que pode ser visto no Teatro Jaraguá. No palco, os atores José Roberto Jardim e Lavínia Pannunzio representam Elyot Chase e Amanda Pryne. Os dois já viveram um grande amor e, hoje, estão separados. Durante a lua de mel com seus respectivos novos parceiros (papéis de Daniel Alvim e Maria Helena Chira), eles se reencontram casualmente e decidem fugir para Paris. Em meio aos ensaios da última semana, Possi bateu um papo por telefone com o blog.

Uma obra contemporânea

“Noel Coward é um autor muito importante, sensacional em tudo o que fez na vida. Dá até raiva. Além de dramaturgo, foi roteirista, compositor, ator, diretor, tudo com brilhantismo. Essa peça é muito contemporânea, tanto que tem sido montada em vários lugares nos últimos anos. Londres acabou de receber uma montagem. “Vidas Privadas” fala de ciúme e de amores, amores violentos que podem se tornar impossíveis. Possibilita cada vez mais novas releituras, inclusive atualizadas. Mas optamos por ser fiel aos anos 30, quando o texto foi criado e encenado pela primeira vez.”

Fidelidade ao original

“As novas gerações precisam saber que a liberdade moral conquistada nas últimas décadas é herdada. Existe uma visão de que tudo o que vem daquele tempo é antiquado, ultrapassado. No intervalo entre a I e a II Guerra Mundial, muitos tabus foram quebrados. Inclusive porque as pessoas perceberam que a vida tinha que ser vivida com urgência. Todo mundo podia morrer se estourasse uma nova guerra. Existem dois casais no espetáculo. Um deles, vivido pelo José Roberto Jardim e pela Lavínia Pannunzio, é inconformado, irreverente. O outro, representado pelo Daniel Alvim e pela Maria Helena Chira, é mais conservador. Todas essas ideias estão embaladas em uma comédia de costumes com diálogos perfeitos. Os atores entraram de cabeça. Eu provoquei muito para eles se soltarem no início dos ensaios. Agora, eu preciso até ficar controlando um pouco (risos). Levantamos o espetáculo em quatro semanas. Fiquei completamente apaixonado pelo meu elenco e então tudo fluiu mais fácil. Eu percebo o quanto é importante trazer atores com experiência nessas encenações mais experimentais para esse tipo de espetáculo. Eles chegam com uma sede e uma gana que precisam ser exploradas.”

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Agenda cheia

“Estou com uma rotina insana. Na semana que vem, eu ainda estreio no Teatro Sérgio Cardoso o espetáculo “Paixão e Fúria – Callas, o Mito”, que traz de volta aos palcos a grande Marilena Ansaldi. É maravilhoso vê-la dançando novamente! E a seguir já temos datas agendadas em Milão e Paris em teatros de primeira grandeza. No dia 15, “Crazy for You” entra em cartaz no Rio de Janeiro, mas a sessão de estreia para convidados vai ser apenas no dia 19, a única data em que poderia estar presente.”

Em 2015

“Para o ano que vem, eu tenho três projetos em andamento. Deve vir por aí um belo espetáculo sobre Caravaggio, em cima de um texto que já foi escrito pelo Franz Keppler. O Gabriel Braga Nunes vai protagonizar. Com a Christiane Torloni, eu vou montar “Master Class”. E ainda existe um convite da Time4Fun para produzir um grande espetáculo. Não é um musical. É teatro mesmo. A minha proposta foi uma adaptação de “Chatô, o Rei do Brasil”, do livro do Fernando Moraes. Estamos começando a pensar em elenco, em como vai ser tudo.”

O tempo do teatro

“Os projetos teatrais ficaram cada vez mais difíceis. Tudo demora muito. O produtor João Federeci me falou de “Vidas Privadas” há três anos e eu já disse que estava dentro. Foi uma batalha para concretizar e aconteceu agora. Antes, os espetáculos se bancavam sozinhos porque fazíamos sessões de quarta a domingo. O retorno de bilheteria cobria os custos. Hoje, os teatros precisam ser alugados para diferentes espetáculos na semana e alguns dias ainda têm eventos de empresas. Isso tornou o teatro mais difícil inclusive para o público.”

Em busca de um top de qualidade

“O fato é que hoje existe um número enorme de produções em cartaz e não foi feito um trabalho de formação de plateia para que o público se interesse por esses espetáculos. Não sei quem pecou nessa história. Não sei se foram os artistas, o governo, os meios de comunicação. Em contrapartida, existe uma plateia enorme à procura de entretenimento. Um campo imenso para musicais e comédias mais leves foi aberto. Os musicais e as comédias cresceram muito em termos de público. Isso aconteceu porque houve um investimento contínuo de produção. A Time 4Fun tem grande responsabilidade nisso. Ali, o espectador encontra um top de qualidade que vem se desenvolvendo cada vez mais. Não existe decepção. Para o resto do teatro, esse público não veio.” 

Comercial e experimental

“Hoje, nós ocupamos o teatro três ou quatro dias antes da estreia. Ensaiamos em outro lugar. No final da década de 70, eu entrava no teatro pelo menos vinte dias antes. Estamos encurralados. Mas qualidade significa empenho, criatividade e não necessariamente dinheiro. O artista precisa ser inventivo. Comecei a fazer sucesso no final do anos 70 com montagens de vanguarda. Trabalhei com os bailarinos Marilena Ansaldi, Ruth Rachou e Thales Pan Chacon. Nem imaginava que estávamos fazendo um gênero que seria chamado depois de teatro-dança. Ninguém tinha dinheiro, mas sempre exigimos um profundo rigor de nós mesmos e dos outros. Essa qualidade chamou a atenção de atores como Irene Ravache e Paulo Autran, que, logo, me chamaram para trabalhar com eles. Nesse momento, eu me transferi para o chamado “teatro comercial”, um teatro mais convencional. Aliás, existe um preconceito muito grande com esse nome, não? O critério do que significa “teatro comercial” se perdeu. Existe o teatro experimental e dele, muitas vezes, resultam obras maravilhosas. Em outras, verdadeiras bombas. E tudo bem… Um grande centro como São Paulo deve ter tudo. O ouro cultural deve conviver ao lado da merda porque senão a cidade vira uma província.”

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Bastidores: ensaios de "Vidas Privadas" (Foto; Divulgação)

Bastidores de “Vidas Privadas”: Lavínia Pannunzio com Possi e o figurinista Fábio Namatame (Fotos: Divulgação)

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