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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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Em cartaz com “Vênus em Visom”, Bárbara Paz fala sobre a batalha de ser atriz: “não faria nada diferente”

Bárbara Paz nasceu no tempo errado. Ela carrega uma aura densa, tensa, intensa de atrizes de uma outra época. Uma energia que era comum nas estrelas das décadas de 40, 50 e 60, mas foi perdida com a popularização da televisão e da exposição pessoal. Para ela, tudo é teatro e o teatro se faz […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 22h15 - Publicado em 10 abr 2014, 19h05
Bárbara Paz em "Vênus em Visom": uma atriz obstinada (Fotos Leo Aversa)

Bárbara Paz em “Vênus em Visom”: obstinada (Fotos: Leo Aversa)

Bárbara Paz nasceu no tempo errado. Ela carrega uma aura densa, tensa, intensa de atrizes de uma outra época. Uma energia que era comum nas estrelas das décadas de 40, 50 e 60, mas foi perdida com a popularização da televisão e da exposição pessoal. Para ela, tudo é teatro e o teatro se faz presente nas 24 horas de seu dia. Aos 39 anos, a artista gaúcha logo fecha duas décadas de carreira. E comemora isso no palco, o de verdade, com um papel que ela faz tão bem por conhecer de cor esse caminho. Em “Vênus em Visom”, peça escrita pelo americano David Ives, Bárbara Paz coleciona afinidades com Wanda, a protagonista da montagem dirigida por Hector Babenco. Bárbara tem expressiva trajetória, mas lutou um bocado para ganhar reconhecimento. É com energia similar que ela se transforma em uma jovem obstinada. Depois de enfrentar um temporal, Wanda chega atrasada para a entrevista com o diretor Thomas Novachek (vivido por André Garolli) e precisa convencê-lo da relevância de testá-la. No domingo passado, dia 6, Bárbara conta que subiu ao palco do Teatro Vivo ardendo em febre. Intérprete e personagem mais uma vez misturadas. Uma gripe fortíssima, prestes a virar pneumonia. “Enfim, teatro é vivo, não tem como ser diferente”, disse para esse que vos escreve. “Tentei dar o melhor de mim dentro dos meus limites.”

Como foi início de seu sonho para se transformar em atriz?

Tudo começou com um circo. Foi uma lona montada durante seis meses na esquina da minha casa, na cidade de Campo Bom.  Ali, naquele picadeiro, os sonhos da Barbinha começavam a se tornar algo sério. Queria vestir figurinos, fazer imitações, levar a alegria daquele povo para dentro de casa. Com 9 anos, meus olhos se iluminaram vendo as luzes se acenderem. Os palhaços, malabaristas e trapezistas entraram pela primeira vez em cena. Sou do interior do Rio Grande do Sul e na minha cidade não tinha teatro. Não costumava ir a Porto Alegre. Não sabia o que era o cheiro de um tablado. Mas com esse circo meus finais de semana e minha vida ganharam um novo sentido. Queria fugir com eles, morar em trailers e sair por aí levando o riso para o público.

Era uma reinvenção da realidade?

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Claro que os sonhos infantis e o circo levantaram barraco. Eu fiquei órfã muito cedo. Veio a vida real. Depois dessa experiência, entrei para um grupo que animava festas de aniversário e virei o palhaço Piripimpim. Imagina só… Vim conhecer de fato e entrar pela primeira vez em um teatro somente aos 17 anos. Até então eu morava em Campo Bom. Foi quando cheguei a São Paulo.

E os primeiros passos práticos?

Entrei para o Teatro Escola Macunaíma. Queria estudar, aprender. Quando subi no palco pela primeira vez foi uma sensação de abraço eterno, sabe? Eu me encontrei comigo mesma. Difícil explicar isso… Ali, eu não estava sozinha. Ali, eu podia voar. Foi o teatro que terminou de me criar, que me deu educação, que me ensinou tudo sobre essa vida.

Qual foi o momento mais difícil do início da carreira?

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Foram muitos os momentos. Mas foram justamente esses momentos que me fizeram querer continuar. Sempre quis ser maior, melhor. O teatro nunca me deixou sozinha. Nunca mesmo. Por isso, quando eu não passava em um teste para televisão ou cinema, eu voltava para o teatro. Poucas vezes, eu fui reprovada no teatro. Sempre fui louca pelo palco. Era ali que eu queria dormir e acordar. Ser além de mim!

A Wanda é uma obstinada, que luta com todas as armas para ganhar esse importante papel e alavancar sua carreira. Quais são os maiores pontos em comuns que você e essa personagem têm?

Sempre fui uma atriz obstinada, sempre quis crescer. Aprender mais e saber mais. Eu sempre tive sede de conhecimento, sede de ver o ser humano. Carrego uma vontade de transbordar e não ser eu e sim um animal inventado.

Você é uma atriz que também batalhou muito, não teve nada de mão beijada…

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Minhas palavras sempre foram e são foco, paciência, loucura. Foco, paciência, loucura. Na hora de compor essa personagem, eu pensei muito em todos os grupos em que já trabalhei. Trabalhei com os Parlapatões e com o Tapa muito tempo. Passei pelo Zé Celso Martinez Corrêa e pelo Antunes Filho. Trouxe um pouco deles em cada detalhe e movimento para a Wanda. Faço como se ela quisesse mostrar o tempo todo que sabe muito mais do que o diretor está vendo e muito rapidamente precisa mostrar isso para ele, entende? Pois é um teste e é tão pouco tempo que temos num teste que fiz dela um resumão de pequenas passagens que cada grupo deixou em mim. E, claro, o picadeiro da minha infância nunca saiu de mim.

Bárbara Paz

Bárbara Paz e o palco: “uma bagagem que ninguém me tira”

Em que momento uma atriz que ganha fama e prestígio precisa aprender a lidar com o deslumbramento e até com a ingenuidade?

Popularidade não quer dizer credibilidade. Só estudo constante, o olhar observador e inteligente para o mundo salva o artista do falso momento de deslumbramento.

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Você é uma atriz com formação teatral em uma geração em que outras atrizes fazem pouco ou não fazem teatro. Como isso interfere na sua bagagem para criar seus personagens na televisão e no cinema?

Sem dúvida, o palco é o meu alicerce. Uma bagagem que ninguém me tira e não vai tirar nunca. O teatro me dá subsídio para poder não ter medo de ir além. É estudo, é vocação. É o silêncio, a coxia e o terceiro sinal estão sempre presentes no respeito que coloco em cada trabalho que faço seja na televisão ou no cinema.

Com o distanciamento do tempo, você é capaz de avaliar se sua participação no reality show Casa dos Artistas (2001) mais prejudicou que projetou seu nome?

Foi uma verdadeira faca de dois gumes. Como sempre faço nos meus personagens, eu me jogo e depois vou verificar se tem fundo raso ou profundo. Eu sou assim na minha vida também. Não é só no trabalho. No amor e na arte. Foi uma longa estrada de volta.

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Se você pudesse voltar atrás, não aceitaria esse trabalho ou faria diferente?

Não faria nada diferente. Foi assim e assim tudo me fez quem eu sou hoje. Eu nunca saí e sairei do meu mais profundo desejo, de me tornar uma atriz consistente. Uma pessoa de peso e sabedoria para saber tocar a vida e o palco. Ambos andam juntos comigo o tempo todo.

O projeto de montar Gata em Teto de Zinco Quente, dirigido pelo Eduardo Tolentino de Araújo, deve sair ainda esse ano?

É m sonho desde sempre. Meu e do Tolentino. E está chegando mais perto. Não temos data. A Maggie é uma personagem que não envelhece. Ela traduz as mulheres de hoje. Muitas querem filhos e não conseguem. À beira dos 40 anos, elas sufocam seus desejos, amam homens alcoólatras e doentes porque querem ser aceitas, querem cuidar de alguém. Elas querem o mais difícil, o que não podem alcançar. Tennessee Williams é um dos maiores dramaturgos contemporâneos. Amo cada linha dos seus textos.

Que outras mulheres você gostaria de interpretar?

Ai, além da Maggie? A Geni, de Toda Nudez Será Castigada, do Nelson Rodrigues. A Lady Macbeth, de Shakespeare, claro… A Mary Cava Tyrone, de Longa Jornada Noite Adentro, de Eugene O’Neill, além de muitas personagens de Anton Tchecov. Homem e mulheres de Shakespeare também.

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