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Uma conversa franca com Selma Egrei: “tinha um terrível preconceito contra a televisão. Aliás, tenho até hoje”

Aos 64 anos, a paulistana Selma Egrei vive um momento diferente. Como a psicóloga Dora, do seriado Sessão de Terapia, a atriz passou a ser reconhecida pelo público. No teatro, a arte que sempre procurou privilegiar, tem emplacado um trabalho relevante atrás do outro. Desde setembro, Selma contracena com Maria Fernanda Cândido e Reynaldo Gianecchini no […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 23h42 - Publicado em 31 out 2013, 17h49
Lenise

Selma Egrei, aos 64 anos: “o amor pelo teatro é o mesmo”   (Foto: Lenise Pinheiro)

Aos 64 anos, a paulistana Selma Egrei vive um momento diferente. Como a psicóloga Dora, do seriado Sessão de Terapia, a atriz passou a ser reconhecida pelo público. No teatro, a arte que sempre procurou privilegiar, tem emplacado um trabalho relevante atrás do outro. Desde setembro, Selma contracena com Maria Fernanda Cândido e Reynaldo Gianecchini no drama A Toca do Coelho, sob a direção de Dan Stulbach. Menos de três meses antes, ela ainda era a Rainha Gertrudes da tragédia Hamlet, ao lado de Thiago Lacerda, na bem-sucedida montagem de Ron Daniels lançada em outubro do ano passado. E ainda tem o cinema. A artista, que já participou de mais quarenta filmes – “a maioria foi porcaria”, como define –, volta e meia aparece nas telas em títulos como O Signo da Cidade, Chega de Saudade e o inédito Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. No depoimento abaixo, Selma relembra um pouco da carreira de quatro décadas e define: Fui meio burra. Pago o preço. No final das contas, eu sou apenas uma atriz de teatro”.

Uma cara normal

“Não sei explicar por que esse equilíbrio em minha carreira, com bons trabalhos no teatro e na televisão, aconteceu só agora, depois dos 60 anos. O amor pelo teatro é o mesmo de sempre. Existe uma prática acumulada como em qualquer profissão. Mas talvez muitas atrizes da minha idade não estejam fotografando tão bem. Já ouvi que é difícil escalar alguém da minha faixa etária que tenha uma cara normal.”

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À espera de convites

“Só produzi uma peça na vida e não pretendo repetir a dose. Foi o monólogo Sirimim, em 2006, porque sou apaixonada pela obra de Guimarães Rosa e queria homenageá-lo. Eu trabalho em função de convites. Então, fiz Hamlet porque conhecia Thiago Lacerda do elenco de O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Ele comentou que me queria como Gertrudes e passei pelo crivo do Ron Daniels. Mulheres que Bebem Vodka, de 2010, foi um convite da Ligia Cortez. A Toca do Coelho também foi uma lembrança dos colegas. E volta e meia surge uma participação em novelas da Globo. Não devo ser a primeira opção deles. Provavelmente antes eles pensaram em uma estrela da casa que não topou por achar o papel pequeno. Vou lá e faço. Hoje, sei que televisão é fundamental, inclusive para eu continuar sendo lembrada para o teatro.”

Com Maria Fernanda (Foto: João caldas)

Selma Egrei e Maria Fernanda Cândido: “A Toca do Coelho” está na Faap (Foto: João Caldas)

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Preconceito contra a televisão

“A verdade é que faltou um interesse da minha parte em relação às novelas. Eu estudei na Escola de Arte Dramática (EAD) entre 1970 e 1972. Tinha um terrível preconceito contra a televisão. Aliás, tenho até hoje. Não me livrei totalmente disso. Um dia, o Walter Avancini me chamou para um teste. Eu respondi que não! Sou uma atriz de teatro (risos). Pouco depois, eu fiz uma novela na Tupi, Papai Coração. E foi um sucesso. Naquela época, a Tupi tinha muito mais repercussão que a Globo. Mas eu nunca me empenhei para construir uma trajetória na televisão. Não posso culpar a televisão por isso. Se existe um culpado, sou eu mesma.”

“Sessão de Terapia”

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“Esses seriados abrem muitas oportunidades para os atores. As novelas, com raras exceções, são pasteurizadas. É maravilhoso cair na mão de um profissional como o Selton Mello. É um grande ator e diretor. Tem um pulso firme raro de ver. Como eu e Zécarlos Machado somos atores de teatro e estamos em um produto que mais parece cinema ou teatro que televisão, o diretor precisa ficar de olho o tempo inteiro. Temos uma tendência ao exagero. Muitas vezes levantamos a voz, gesticulamos muito. O Selton enxuga tudo.”

Repercussão de Dora

“Os telespectadores me encontram e falam da Dora. Eu sempre fui a atriz que a pessoa olhava na rua, mas nunca sabia de que novela me reconhecida. Com Sessão de Terapia, o público me identifica como a Dora. Viajamos por várias capitais com Hamlet. As pessoas me esperavam na saída do teatro e pediam para tirar fotos com a atriz que faz a Dora. Considero isso um avanço do público. Existe um grande interesse em torno de um seriado exibido em um canal por assinatura, um programa sem qualquer concessão comercial. E já vamos começar a trabalhar na terceira temporada. Ninguém esperava esse sucesso.”

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Sessão de Terapia (foto Jorge Bispo)

No seriado “Sessão de Terapia”: “o público me identifica como a Dora” (Foto Jorge Bispo)

Cinema e Boca do Lixo

“Eu fiz muito cinema. Quer dizer, eu participei de mais de quarenta filmes, mas se peneirar sobra meia dúzia que tenha qualidade. Era imatura profissionalmente e fiz muita porcaria. A Boca do Lixo não teve importância alguma para a cultura brasileira, como dizem por aí. Os produtores eram os próprios exibidores, então o interesse era meramente comercial. Fora Walter Hugo Khouri, Carlos Reichenbach e Ozualdo Candeias, que faziam algumas coisas boas, o resto era um horror. Sobrava muito pouco para o ator. A gente era mal pago. Muitos falavam que era um mercado de trabalho forte em São Paulo na década de 70. Imagina… Mercado é onde você recebe um salário decente, onde são oferecidas condições de trabalho. Eu renego totalmente essa fase da minha carreira. Tanto que ela acabou me prejudicando no teatro. Muita gente não queria me chamar porque eu fazia filmes na Boca. Até provar que era uma boa atriz eu tive que pagar um dobrado.”

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Terapeuta corporal

“Eu nunca morei de fato fora do Brasil. As pessoas pensam isso, não? Eu fiz duas longas viagens para a Europa. Nos anos 90, estava fatigada. No teatro, eu sempre completava um elenco repleto de famosos e sobrava um papel que não me alimentava. Resolvi investir no trabalho de terapeuta corporal, fui estudar na França e na Bélgica. Passei a dar aulas e me sustentei com isso por quase uma década. Tenho dois mestres, o Antônio Abujamra e a Myriam Muniz. O Abujamra me chamou de louca quando disse que ia largar o palco para ser terapeuta corporal. Eu falei que só voltaria a atuar se fosse para ser dirigida por ele. Quando o Abujamra me chamou para participar de Fedra, em 1997, eu topei na hora e, desde lá, tenho feito algumas coisas boas.”

Uma vida feita de escolhas

“Sempre morei no Butantã, em São Paulo. Sou descendente de italianos, tem gente acha que tenho antepassados alemães. Não. Sou paulistana mesmo. Moro num sobrado. Os meus filhos são cães e gatos que resgato do abandono e cuido com muito carinho. Adoro bichos, adoro o mato. Alguns acham que eu moro num sítio, que vivo afastada de tudo (risos). Não. Não mesmo. Não sei muito bem por que as pessoas têm uma imagem tão diferente a meu respeito. Fiz algumas escolhas e sei que minha vida é assim por causa delas. Se eu tivesse investido de fato na televisão, como a maioria das colegas da minha geração, talvez eu tivesse conquistado uma estabilidade financeira que não tenho. Fui meio burra. Pago o preço. No final das contas, eu sou apenas uma atriz de teatro.”

Foto: Irmo Celso

Em 1979, aos 30 anos: “a Boca do Lixo não teve importância alguma para a cultura brasileira” (Foto: Irmo Celso) 

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