Depois da Feira de Frankfurt, Felipe Hirsch traz “Puzzle” para o Sesc Pinheiros
Um dos mais importantes encenadores da atualidade, Felipe Hirsch foi o representante do teatro na polêmica Feira do Livro de Frankfurt. Entre discursos surpreendentes, testas franzidas e silêncios de constrangimento, o Brasil trouxe à tona na Alemanha uma imagem menos passiva e mais crítica sobre sua realidade política e social. Com estreia prometida para o dia […]
Um dos mais importantes encenadores da atualidade, Felipe Hirsch foi o representante do teatro na polêmica Feira do Livro de Frankfurt. Entre discursos surpreendentes, testas franzidas e silêncios de constrangimento, o Brasil trouxe à tona na Alemanha uma imagem menos passiva e mais crítica sobre sua realidade política e social. Com estreia prometida para o dia 7 de novembro, no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, o espetáculo Puzzle (quebra-cabeça em inglês) é um projeto dividido em três partes que tenta traduzir um pouco esse inconformismo. Dalton Trevisan, Bernardo Carvalho, André Sant’Anna, Nelson de Oliveira, Veronica Stigger e Amilcar Bettega estão entre os escritores contemporâneos que serviram de base para Hirsch conceber a dramaturgia. As três partes serão apresentadas em dias alternados – de quintas a domingos, até 22 de dezembro – e contam com as atuações de Felipe Rocha, Georgette Fadel, Isabel Teixeira, Luna Martinelli, Magali Biff, Marat Descartes e Rodrigo Bolzan. Os ingressos custam R$ 24,00 – para cada noite – e estão à venda a partir de 25 de outubro. Ainda na Europa, Felipe Hirsch encontrou tempo para ter uma conversa com o blog.
Qual foi a importância de estrear em Frankfurt e o que significou fazer parte desse eco de insatisfação manifestado por parte da intelectualidade brasileira?
Vivemos, todos nós, uma experiência muito importante lá. Algo histórico. A peça foi definida como um “tríptico fulminante” por um dos principais jornais da Alemanha. Outro nos chamou de “darks, maus e inspirados”. A princípio, não é o que se imagina do Brasil, mas também é o Brasil. Esse país estranho, intraduzível, isolado, anestesiado, agredido e agressor. Claro que refletimos o mundo. Falamos sobre o extermínio da delicadeza. Não é uma insatisfação individual. Nem de esquerda ou de direita. É um frágil pedido de atenção. Ei! Nós contamos a história desse país! Nossos livros, nossos filmes, nossos espetáculos. Nós contamos a história desse país. E nem tudo são flores. Na maioria das vezes são armas, incêndios, sequestros. E se eu amo o meu país, eu não posso menti-lo. Só assim amarei incondicionalmente.
Por que o título Puzzle? Seria uma forma de já causar estranheza ao espectador – pensando que nem todos farão a tradução, claro?
A peça não é um quebra-cabeça, enfim. Puzzle já é uma metáfora poética, algo como Paulo Leminski. Algo abstrato, feito de peças não conectadas ou nem conectáveis e dos seus contrastes. Acho que quem assiste “sente” mais do que “entende” seus significados, sabe?
Você reúne nesse projeto escritores que não necessariamente representam uma literatura brasileira tradicional (pelo menos, a literatura óbvia, imaginada pelo mundo). Como você chegou a esse grupo e eles participaram de alguma forma do processo de criação?
Foram dois anos lendo tudo, tudo, tudo. Comecei com os mais “jovens”, mas não resisti e quis contrastá-los com alguns clássicos. Caso do Jorge Mautner, por exemplo. Carol Bensimon é fascinante. Uma garota cheia de personalidade. E, no entanto, ainda não entrou nas peças. O processo foi realmente bastante intenso, experimental e coletivo. Alguns autores já assistiram ao espetáculo e ficaram muito emocionados. O André Sant’Anna disse que suou cinco camisas. Mas, no caso dele, é mesmo bastante hardcore. Muitas pessoas passaram mal. Todas felizes por incrível que pareça.
O teatro político e questionador perdeu força no Brasil nas últimas décadas? Fica mais fácil refletir e discutir a realidade no cinema e na música, por exemplo?
Não. Acho que em todas as formas, nós artistas, somos políticos e questionadores. Aquele teatro político de algumas décadas atrás não existe mais. Agora é um outro teatro. Um que explodiu em mil outros. É incontável. Inumerável. Não somos catalogáveis. É difícil analisar uma geração tão dispersa. Mas por dentro somos duros, concentrados. A arte sempre é transformadora. Ou deveria ser.
Leia aqui a crítica do espetáculo Puzzle.