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Indicações do que assistir no teatro (musicais, comédia, dança, etc.) por Laura Pereira Lima (laura.lima@abril.com.br)
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Wilson de Santos em “Bette Davis e Eu”: “em dez minutos, o público precisa esquecer de que ali está um homem”

O ator Wilson de Santos, de 45 anos, está em cartaz no Teatro Renaissance na pele da diva malvada de Hollywood. Sob a direção de Alexandre Reinecke, ele divide o palco com a atriz Flávia Garrafa na comédia “Bette Davis e Eu”, escrita pela americana Elizabeth Fuller. A trama real mostra o dia em que […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 27 fev 2017, 11h05 - Publicado em 13 abr 2013, 01h23

Wilson de Santos caracterizado como a atriz (Fotos João Caldas)

O ator Wilson de Santos, de 45 anos, está em cartaz no Teatro Renaissance na pele da diva malvada de Hollywood. Sob a direção de Alexandre Reinecke, ele divide o palco com a atriz Flávia Garrafa na comédia “Bette Davis e Eu”, escrita pela americana Elizabeth Fuller. A trama real mostra o dia em que a estrela americana (1908-1989) entrou na casa da escritora para um jantar e passou mais de um mês por lá… Bem, Wilson nos conta melhor essa história…

Wilson descobre “Bette Davis e Eu”

“O texto caiu nas minhas mãos em 2001 através de um amigo, o ator Lelo Filho, da Cia. Baiana de Patifaria. Foi uma sugestão do dramaturgo americano Dan Goggin, autor de ‘Noviças Rebeldes’, que montamos no Brasil, a primeira feita por homens no mundo. O Lelo me disse: ‘o Danny pediu para eu lhe entregar esse texto e pensa em você fazendo isso’. Eu me apaixonei e sabia que, em algum momento, essa peça estaria de pé. Passou o tempo e veio outra coincidência. O ator americano Thomas Poarch, meu amigo, esteve em Connecticut e conheceu Elizabeth Fuller. Chegou a ficar hospedado em sua casa por uma noite. Uma noite mesmo, não foi como a Bette (risos). Por lá, descobriu que ela era a autora de ‘Me and Jezebel’. Thomas disse: ‘um amigo brasileiro pretende montá-la’. Ela não acreditou! Sabia que o texto estava com um ator do Brasil e queria conhecê-lo. Então, em uma madrugada, Thomas me ligou. ‘Will, você não vai acreditar em que lugar dormi essa noite! Na cama em que Bette Davis dormiu’, disse ele, eufórico.”

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O ator e Elizabeth Fuller: almoço com vinho, banho de rio e pesca (Foto: Arquivo Pessoal)

Muito prazer, Elizabeth Fuller!

“Em 2011, passei férias em Nova York. O Thomas armou a ponte, e Elizabeth me convidou para um almoço em sua casa. O meu amigo avisou que eu entenderia por que Bette Davis entrou e não queria mais sair daquela casa. Fui recebido por Elizabeth e seu atual marido, o Reuel. O primeiro marido, citado na peça, já tinha falecido. O filho dela, o Christopher, não estava em casa. Na época, morava em Los Angeles. Foi um dia espetacular, com direito a um almoço, vinho, banho de rio e até pescaria. Também tive acesso aos objetos e cartas deixados pela diva. Claro que achei a história muito rica de fatos reais e uma das minhas primeiras perguntas foi se Elizabeth havia inventado alguma coisa para enriquecer a trama. Ela respondeu que tudo aconteceu como descrito ali. Elizabeth já viu muitas fotos da nossa montagem e acompanha tudo. Ficou apaixonada pelo material gráfico.”

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Wilson e Flávia Garrafa, a intérprete de Elizabeth Fuller na ficção (Foto: João Caldas)

A alma feminina, esse desafio

“Existem propostas e mais propostas para levar um personagem ao palco. Com um homem, então, fazendo tipos femininos essas possibilidades são multiplicadas. No meu caso, tento trabalhar com delicadeza e juntar tudo. Preciso, em primeiro lugar, definir minha visão da alma do personagem. Depois, vou cuidar da estética, do físico, como vamos pintar e vestir. Minha meta para interpretar mulheres é que, em dez minutos, o público tenha esquecido de que ali está um homem. Se fizesse Dercy Gonçalves, por exemplo, com todo seu escracho, teria o mesmo cuidado que tive com Bette Davis. Isso foi muito discutido quando comecei o trabalho com o nosso diretor, o Alexandre Reinecke.”

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A blusa de Elizabeth queimada pelo cigarro de Bette – quem viu a peça, entende

Bette, uma mulher de verdade

“Além de ‘Noviças Rebeldes’ e ‘A Bofetada’, que fiz durante vários anos com a Cia. Baiana de Patifaria, eu interpretei personagens femininos em ‘Advocacia Segundo os Irmãos Marx’ e em ‘A Noviça Mais Rebelde’, que estava em cartaz até fevereiro. O grande barato é acertar os mínimos detalhes de postura, olhar, voz e gestos. Além de me divertir muito, brincando, jogando no palco. Mas agora a brincadeira muda… Nunca havia interpretado uma personagem real, ainda mais uma estrela desse porte. É bem arriscado, mas estou feliz com o resultado e acho que deve melhorar com o tempo. Uso muito a minha intuição. Mas, nesse caso, eu tive que fazer uma longa pesquisa. Por muitas vezes, eu me tranquei em casa para estudar e pensei no espectador. O público pode até não saber quem foi essa mulher, mas precisa sair do teatro apaixonado pela historia. A Elizabeth diz que o que temos é a clássica historia de uma menina pobre que um dia sonhou receber um cartão-postal autografado pela estrela de Hollywood. Passou o tempo, e aquela mulher caiu de paraquedas em sua casa. Acho isso tudo delicioso!”

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Carta de Bette para Elizabeth Fuller

“Quem era mesmo Bette Davis?”

“Eu tinha uma referência remota de infância, com seus filmes exibidos na ‘Sessão da Tarde’. Depois, nos anos 80, conheci ‘O que Teria Acontecido a Baby Jane?’ e ‘A Malvada’. Amei, claro. Em 1997, um saudoso amigo, o ator e diretor Fábio Sabag, no meio de um almoço, me disse: ‘você tem uma coisa meio Bette Davis’. Fiquei pensando, pensando, não queria passar por ignorante, mas não podia ficar quieto também. ‘Quem era mesmo Bette Davis?’, perguntei. ”A Malvada, a Baby Jane”, ele respondeu, rindo. Fui embora louco, pensando naquilo. Será que ele me achava uma pessoa má? Fiquei uma semana sem dormir. Hoje, eu tenho uma coleção de filmes incríveis, livros e tive acesso a um material infindável de entrevistas e documentários sobre Bette Davis.”

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A estrela hollywoodiana em cena do filme “Horas de Tormenta”, de 1943 (Foto: Divulgação)

Entre as fãs da diva de Hollywood

“Eu preciso chegar, no mínimo, três horas antes ao teatro. Só a maquiagem leva uma hora. Acertar o cabelo também consome um tempão. Tive por todo o tempo, o visagista Westerley Dornellas trabalhando ao meu lado para criar essa caracterização. Agora, durante a temporada, tenho que tocar sozinho. Coloco a mão na massa. Acredito que o espetáculo pegue esse público saudoso de Bette Davis. Temos um texto com muitas referências à época de ouro de Hollywood e citamos nomes de outros artistas, como a grande rival Joan Crawford (1904-1977), a quem Bette se refere muito, sempre cheia de carinho (risos). Um dia, chegamos a uma ótica dos Jardins para uma prova de lentes de contato. Faríamos fotos na sequência. Na sala de espera, algumas senhoras. Então, o Westerley falou alto: ‘viemos pegar as lentes de Bette Davis!’. Elas deram um pulo, foi um alvoroço. Uma delas levantou e disse: ‘é você quem vai fazer a Bette Davis no teatro? Vai me ver na primeira fila.’”

Wilson de Santos, de cara limpa (Foto: João Caldas)

Mão no bolso e peça no palco

“Não tenho patrocínio algum. Apenas um apoio significativo para anúncios e propagandas. Acredito que para fazer teatro hoje temos que ter patrocínio, mas também não posso estancar meu trabalho se o mesmo não vem. Espalhei esse projeto por várias empresas e também nas mãos de captadores. Nada aconteceu. Meu risco é muito grande. ‘Bette Davis e Eu’ ficou orçada em 366 000 reais. Reuni uma equipe de primeira. O aluguel do teatro é bastante caro. Não consegui apoio nem para o programa. Imprimi do meu bolso um cartão-postal para que o público soubesse quem é quem na ficha técnica. Eu levantei ‘A Noviça Mais Rebelde’ com menos de 25 000 reais. Fiz quatro temporadas em São Paulo, uma de três meses no Rio de Janeiro e outra igual em Salvador. Rodamos mais vinte cidades pelo Brasil, totalizando três anos e meio em cartaz e 100 000 espectadores. Um verdadeiro prêmio! Eu nunca penso só em fazer um espetáculo. Eu sempre tenho que continuar. Não costumo montar peça para durar menos de um ano. E alguém disse que seria fácil?”

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