“Divórcio”: matrimônio com jeitinho brasileiro
O autor paulistano Franz Keppler escreveu a comédia “Divórcio” em 2010, antes dos dramáticos “Camille e Rodin” e “Córtex”, lançados no ano passado e responsáveis pela recente projeção de seu nome. Não por acaso, o texto, agora dirigido por Otávio Martins, tem parentesco maior com “Nunca Ninguém me Disse Eu te Amo” (2007), “Depois de […]
O autor paulistano Franz Keppler escreveu a comédia “Divórcio” em 2010, antes dos dramáticos “Camille e Rodin” e “Córtex”, lançados no ano passado e responsáveis pela recente projeção de seu nome. Não por acaso, o texto, agora dirigido por Otávio Martins, tem parentesco maior com “Nunca Ninguém me Disse Eu te Amo” (2007), “Depois de Tudo” (2008) e “Frames” (2009), primeiros trabalhos levados à cena e pouco vistos pelo público. Esses dramas faziam uma ponte com a crônica de costumes ao enfocar temas contemporâneos. A atual montagem em cartaz no Teatro Raul Cortez é uma boa pedida para a plateia em busca de diversão, justamente por brincar sem disfarces com o universo das celebridades e noções de ética por intermédio de dois casais.
Suzy Rêgo e José Rubens Chachá interpretam advogados que já dividiram o mesmo teto e se reencontram ao enfrentar na justiça um processo de separação. Cecília (papel de Suzy) tem a missão de defender os interesses do bronco Cacau Bello (o ator Pedro Henrique Moutinho), jogador de futebol cheio de dinheiro no bolso. Sujeito que veio de baixo e conquistou uma sólida clientela, Jurandir (vivido por Chachá) foi contratado por Brunna Praddo (papel de Nathália Rodrigues). Misto de modelo, atriz e periguete, ela está louca para limpar a conta bancária do ex-marido, ninguém menos que Cacau. Histórias como essa são comuns, não apenas no mundo dos famosos, mas também entre anônimos que detêm um patrimônio razoável, e fazem de “Divórcio” uma comédia capaz de discutir valores e comportamentos típicos dos nossos tempos.
Otávio Martins avança no comando de uma encenação do gênero, depois das experiências irregulares em “Vamos?” (2010) e “Pessoas Absurdas” (2012). O diretor mostra mais firmeza junto aos atores e promove um espelhamento entre os personagens. O quarteto encontra-se praticamente o tempo inteiro no palco, tendo as ações – a maioria protagonizada por duplas – levadas ao primeiro plano ou secundarizadas apenas pelo movimento de luz. Em sintonia, o elenco mostra-se à vontade. Mais aberta ao improviso, Suzy conquista a empatia imediata e, favorecida pelo seu timing cômico e também por sua maior popularidade, praticamente conduz o grupo. Chachá busca o contraste em relação à personagem de Suzy. Constrói um homem que ficou fragilizado diante das aspirações – hoje, visivelmente fracassadas – da ex-mulher. Nathália e Moutinho, com os papéis mais perigosos e próximos da caricatura, enfrentam o estereótipo. Muito solta, Nathália brinca com a própria sensualidade – ela foi capa da revista Playboy de agosto passado – e usa desse artifício para mexer com o imaginário do advogado e da plateia. Mesmo que pese a mão na falta de inteligência do personagem, Moutinho dispõe-se a testar um tom de paródia, próximo ao televisivo, mas que se enquadra bem no conjunto.