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Por Marcos Paulo Reis
Dicas sobre corridas para praticantes do esporte, por Marcos Paulo Reis.
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O Caminho de Santiago percorrido por Ivo Herzog

O Caminho de Santiago, rota de peregrinação há doze séculos que chega até a cidade de Santiago de Compostela, na Espanha, é considerado Patrimônio da Humanidade. Uma das rotas mais tradicionais tem 800 quilômetros, que costumam ser percorridos a pé em pouco mais de 30 dias. Mítico, mágico, surpreendente, desafiador, o caminho atrai milhares de […]

Por VEJA SÃO PAULO
Atualizado em 26 fev 2017, 16h29 - Publicado em 26 Maio 2015, 13h50

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O Caminho de Santiago, rota de peregrinação há doze séculos que chega até a cidade de Santiago de Compostela, na Espanha, é considerado Patrimônio da Humanidade. Uma das rotas mais tradicionais tem 800 quilômetros, que costumam ser percorridos a pé em pouco mais de 30 dias. Mítico, mágico, surpreendente, desafiador, o caminho atrai milhares de pessoas todos os anos. Mas há que se preparar para encará-lo. Corredor há vários anos (com algumas meias maratonas completadas), Ivo Herzog, 48 anos, diretor do Instituto Vladimir Herzog (IVH), viveu a experiência recentemente e conta como foi.

Por que você decidiu fazer o Caminho de Santiago?

Sempre tive interesse por aventuras e por fazer programas que marcassem a vida. Assistindo a um filme, surgiu a vontade de conhecer melhor o caminho. E comecei a buscar informações. Os 800 quilômetros da rota eram algo totalmente distante da minha realidade. Treino corrida há muito tempo – já fiz meias maratonas –, mas andar 30 quilômetros por dia, em média, seria algo inédito e desafiador.

Quando começou a se preparar?

Existem dois tipos de planejamento: o técnico (a melhor época para ir, o que levar na mochila, equipamentos para criar facilidades no percurso, etc.) e o físico. Uma vez decidido que eu daria início à caminhada em setembro de 2014, início do outono europeu, a preparação física específica começou dois meses antes.

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Como foi a preparação física?

O histórico esportivo ajuda, mas a caminhada é um processo diferente. Em um treino longo de corrida você leva de 1h30 a 2 horas. Mas caminhar – e por tempo bem superior – é diferente. Pelo planejamento eu faria 30 quilômetros por dia em média (cerca de 8 horas), carregando uma mochila. Então, saia pela Cidade Universitária para andar de 12 a 14 quilômetros – como a distância era menor do que enfrentaria no caminho, imprimia um ritmo mais forte –, com a mesma roupa e o mesmo calçado que vestiria lá, carregando a mochila (a recomendação é que ela tenha no máximo 10% do peso corporal, o que no meu caso dava perto de 8 quilos). A questão menos complexa é caminhar oito horas por dia. O mais difícil de encarar é caminhar oito horas por dia, por 30 dias, sem descanso.

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Como foi a caminhada em si?

Começava por volta de 5h30 da manhã e terminava entre uma e duas da tarde. Daí parava, lavava roupa, comia, descansava e eventualmente passeava pela cidade. Cada dia é único, com pessoas e paisagens marcantes. Encontrei muita solidariedade pelo caminho.

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Teve algum contratempo?

Superestimei meu preparo físico no início. Achei que estava acima da média e exagerei um pouco. Para se ter ideia, no primeiro dia encarei uma subida de 1 200 metros nos Pirineus, em ritmo forte. Também menosprezei o alongamento. Mas não foi no primeiro ou no segundo dia que percebi que estava fazendo bobagem. No quarto dia não conseguia encarar as descidas. Desenvolvi uma tendinite que quase me fez desistir. Comecei a tomar anti-inflamatório e a aplicar gelo. Parei por dois dias. O médico recomendou que eu fizesse o caminho de bike. Mas não era isso que eu queria – meu objetivo era ir a pé. Falando com meu médico no Brasil, ele sugeriu uma injeção de corticoide. E assim fiz para conseguir seguir. A lição que tirei desse episódio é que teria de ouvir melhor meu corpo e respeitar meus limites. A rota tem muitas subidas e descidas e o corpo sofre muito com o esforço. Na terceira semana o desgaste é enorme. Mas a adrenalina de estar próximo ao final também é grande e faz você continuar.

Seu planejamento sobre o que levar foi bom?

Levei mais do que o necessário e tive de partir para o desapego. A recomendação era levar duas trocas de roupa – eu levei três. Achei que era melhor me livrar de 200 gramas (porque qualquer peso a mais nas costas literalmente pesa) e despachei uma muda de roupa, a caixinha de primeiros socorros – só ficando com comprimido para dor de cabeça e agulha e linha para furar as bolhas dos pés e outras coisas. Foram dois quilos a menos na mochila.

Em quanto tempo você percorreu os 800 quilômetros?

Fiz em 28 dias, com 29 quilômetros diários, em média. Os guias sobre o Caminho de Santiago falam entre 32 e 33 dias. Cada um tem o seu ritmo. Isto inclusive também explica porque se recomenda fazer o caminho sozinho.

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Como foi sua chegada?

Até o último dia você não tem certeza de que vai conseguir chegar. Por isso, a reta final é pura adrenalina. Imagine completar sua primeira maratona, sua primeira meia maratona, sua primeira São Silvestre, seu primeiro grande desafio e multiplique por 100. É muito intenso. E o período de euforia depois é maior também. Fiz os últimos cinco quilômetros em ritmo alucinante e os 20 minutos finais em companhia de meu filho, de 18 anos. Ele entrou comigo em Santiago via Facetime (pelo vídeo do celular). Foi muito emocionante.

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O que sentiu ao completar o caminho?

Cheguei diferente do que parti. Fiquei um mês sem acessar conta de banco, sem compromissos, um mês vivendo de forma simples e bem. Você dorme em albergues, come a comida de peregrino, não se preocupa com internet, celular… Fica afastado das modernidades que acha que são vitais. Você questiona muito a cidade maluca em que mora e a forma como somos maltratados por ela. Precisamos disso tudo? Outro ensinamento com o qual você se depara várias vezes pelo caminho é como administrar a ansiedade e lapidar a paciência. Você olha o horizonte ali na frente, nas montanhas. Aquela distância quase infinita e sabe que vai passar por lá, mas não adianta ter pressa. Não dá para fazer 800 quilômetros em uma semana. Demora, exige esforço, dói. Mas fazendo a “lição de casa”, com persistência e paciência, ouvindo seu corpo, você chega. O caminho é você se colocar em situação de desapego, de respeito com o universo e com você mesmo e, passo por passo, seguir em frente. Para quem quiser saber mais ou trocar informações sobre o Caminho de Santiago, meu e-mail é iherzog97@me.com.

 

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