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O ano sabático que virou uma volta ao mundo em 65 cervejarias

Roberta Tsustsui, de 32 anos, tinha até o início deste ano um emprego na área de finanças que a levou a morar nos Estados Unidos, com despesas pagas pela empresa.  O que poderia ser o “momento dos sonhos” para muitos, porém, já tinha se tornado um obstáculo, segundo ela. “Tinha vários problemas de saúde relacionados […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 20h12 - Publicado em 24 nov 2014, 19h35
Roberta Tsustsui na Denali Brewing, no Alasca: cerveja com Aurora Boreal de fundo (Crédito: Arquivo Pessoal)

Roberta Tsustsui na Denali Brewing, no Alasca: cerveja com Aurora Boreal de fundo (Crédito: Arquivo Pessoal)

Roberta Tsustsui, de 32 anos, tinha até o início deste ano um emprego na área de finanças que a levou a morar nos Estados Unidos, com despesas pagas pela empresa.  O que poderia ser o “momento dos sonhos” para muitos, porém, já tinha se tornado um obstáculo, segundo ela. “Tinha vários problemas de saúde relacionados ao stress; percebi isso quando, em 2013, todos os meus presentes de aniversário eram relacionados ao bem-estar.”

Foi então que ela decidiu largar o trabalho para um “ano sabático cervejeiro”. De março até agora, já visitou 65 cervejarias e brewpubs (que produzem e vendem a bebida no próprio local) em mais de uma dezena de países – e o tour deve continuar até março de 2015, ela afirma.  As próximas paradas incluem um retorno aos Estados Unidos e a Oceania. “Somo cerca de 245 litros consumidos e 880 rótulos nesse período”, diz. “Me planejei para viajar o mundo e tomar as melhores cervejas direto da fonte, conhecer o desenvolvimento das cervejarias e saber sobre o surgimento dos estilos em cada país, com o impacto em cada sociedade.”

Vista do mosteiro de Orval, na Bélgica, onde ela ficou hospedada (Crédito: Arquivo Pessoal)

Vista do mosteiro de Orval, na Bélgica, onde ela ficou hospedada (Crédito: Arquivo Pessoal)

O trajeto incluiu até agora boas cervejas e, também, alguns percalços, como atolar o carro no Alasca e se perder na República Tcheca. Leia mais na entrevista abaixo, concedida por e-mail ao blog:

Qual era o seu emprego antes de iniciar a viagem?

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Eu trabalhava com finanças corporativas, expatriada pela Unilever em Nova Iorque.

Como começou seu contato com a cerveja artesanal?

Morei na Alemanha em 2009/2010, e foi lá que descobri outros rótulos além da cerveja “Original”. Desde então, me tornei apreciadora da cerveja artesanal.

De onde surgiu a ideia de fazer um tour cervejeiro mundo afora?

Apesar de estar na empresa dos meus sonhos universitários, realizando o que eu acreditava ser meu objetivo profissional, tendo apartamento e carro providenciados pela firma nos Estados Unidos, me sentia muito infeliz e apática às conquistas. Tinha vários problemas de saúde relacionados ao stress; percebi isso quando, em 2013, todos os meus presentes de aniversário eram relacionados ao bem-estar: livros de auto-ajuda, dia no SPA, massagens etc.

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Foi então que meu irmão, ciente da minha paixão cervejeira, me deu um kit para fazer a primeira receita em casa e me incentivou a investir dinheiro no meu hobby para, talvez, ter a opção de uma nova carreira. Decidi sair da Unilever e voltei para o Brasil em março de 2014. Me especializei com alguns cursos. Mas eu precisava de mais do que isso, sentia a necessidade de viajar e descobrir novos sabores na esperança de me encontrar também.

Adoro conhecer a história por trás de cada cerveja. Foi por isso que me planejei para viajar o mundo e tomar as melhores cervejas direto da fonte, conhecer o desenvolvimento das cervejarias e saber sobre o surgimento dos estilos em cada país, com o impacto em cada sociedade. Queria ir além dos livros, conversar com as pessoas da região, ver com meus próprios olhos, degustar a cerveja livre de impactos de transporte ou armazenagem.

Como foi a escolha das cervejarias visitadas? Tudo foi planejado ou muitas surgiram ao acaso?

Meu objetivo é conhecer tanto cervejarias de grande porte como também micros. A escolha começou comparando a origem dos estilos, localização e cervejarias. Por exemplo, Colônia para Kölsch, Dusseldorf para Altbier, Inglaterra para as Cask Ales, fermentação espontânea na Bélgica, Pilsen em Plzen etc. Depois, quis saber como estava o desenvolvimento da cerveja em países menos tradicionais, como Grécia, Russia, Eslovenia e Noruega.

Metade das minhas visitas foi planejada e metade surgiu conversando com locais. Eu costumo ir a um bom bar de cervejas ao chegar a uma cidade, falar com o barman, as pessoas ao redor e buscar informações. Uma das histórias mais bacanas foi na Noruega: tive a sorte de puxar assunto com um cara que, por coincidência, era o cervejeiro da Schous Bryggeri. Apesar de já ser noite e fora do horário de trabalho, ele pegou a chave da cervejaria e me levou para fazer um tour, bastante rico em história da bebida artesanal local.

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Alguma cervejaria foi mais resistente a visitas?

Sim, em São Petersburgo, na Rússia: tinha curiosidade de conhecer a Baltika, parte do grupo Carlsberg. Enviei e-mails e liguei diversas vezes até que me informaram que a falta de resposta deles significava um consentimento e que a visita estava confirmada. Mas o endereço que eu tinha era do restaurante da cervejaria, e a produção nem existia mais no local. Talvez tenha sido uma barreira de linguagem, mas fiquei bastante decepcionada.

Houve algum percalço ou história curiosa durante a viagem?

Foram diversos percalços: atolei o carro na neve no Alasca, a uma temperatura externa de -35 graus Celsius, peguei o ônibus errado em Plzen e fui parar em uma vizinhança escura e deserta, sem táxi, telefone ou GPS. Bati o carro na Bélgica após percorrer 1.628 km pelas estradas do país. Mas também conheci pessoas maravilhosas, solidárias, que deram um final feliz a situações que poderiam ter marcado negativamente a minha viagem.

Qual a cervejaria mais interessante que você visitou e por quê?

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Essa é uma pergunta bastante difícil. Me apaixonei por diversas cervejarias, cada uma por um motivo distinto: na Erdinger (Alemanha) pelo sistema automatizado de fermentação secundária na garrafa; pelo mundo romântico das Lambics na Cantillon (Bélgica); pelaa Denali Brewing Co.,  pois não há nada mais emocionante do que tomar uma  Slow Down Brown assistindo ao espetáculo da Aurora Boreal nos céus do Alasca; pela Way Beer (Brasil) e pela Harviestoun (Escócia), graças à extrema atenção dos cervejeiros/proprietários (que me deram a oportunidade de experimentar cervejas que nem estão no mercado ainda).

Mas acredito que as duas experiências mais memoráveis que tive foram a Orval, na Bélgica, e a Altstadthof, em Nürnberg. Fiquei hospedada duas noites no mosteiro da Orval. Além de ser a minha cerveja trapista favorita, o lugar é fascinante. E a parte mais interessante da visita a Altstadthof são os impressionantes 25.000 metros quadrados, distribuídos em  4 andares de cellars (adegas), a quase 20 metros de profundidade. Foram construídos desde o século 14, com o intuito de armazenar cerveja.  Lá, soube que, no ano de 1380, havia uma lei pela qual todos que quisessem produzir e servir cerveja deveriam ter um cellar para melhor acondicionar a bebida.

Durante a Segunda Guerra Mundial, esses espaços se tornaram exemplos concretos de que cerveja salva vidas: em cidades na Alemanha devastadas por bombardeios, a mortalidade atingiu em média 40 a 50 mil pessoas. Em Nürnberg, estima-se que cerca de 6.000 pessoas morreram, número bastante inferior à média nacional, devido à proteção dos cellars de cerveja!

Uma das paradas da viagem foi a Brouwerij 't IJ, com seu chamativo moinho (Crédito: Arquivo Pessoal)

Uma das paradas da viagem foi a Brouwerij ‘t IJ, com seu chamativo moinho (Crédito: Arquivo Pessoal)

Qual a melhor cerveja da viagem até agora? Você mantém um diário de quantas cervejas já provou nesse período?

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Não, porque bebo muitas cervejas por dia e prefiro aproveitar o momento. Registro apenas custo, litros e número de rótulos por uma questão financeira, para garantir que não estou ultrapassando meu orçamento – e também tomo notas das cervejas mais memoráveis que encontro. Somo cerca de 245 litros consumidos e 880 rótulos, 20 países e mais de 65 cervejarias nesse período sabático. Estou escrevendo um blog (https://www.aguabentalupulada.com/) sobre as cervejarias, para tornar essa experiência mais produtiva.

As melhores cervejas que tomei até agora foram estas:

1) Black Damnation Eisbock RISAle Double Black – Struise
2) Unionøl – Haandbryggeriet & Närke
3) Bourbon County Brand Stout 2013 –  Goose Island
4) 4 Happiness Sour Quad – Perennial
5) Westvleteren XII envelhecida por 3 anos – Westvleteren
6) Korbinian Dark Doppelbock – Weihenstephan
7) Opal Proprietor’s Reserve – Firestone Walker Brewing Co.
8) Enkir – Birra Del Borgo
9) Les Bains d’épices – Brasserie Caracole
10) Infinium – Weihenstephan

Em qual país, na sua opinião, as cervejarias têm a melhor estrutura para receber visitantes? 

No geral, achei que as alemãs tinham o melhor custo-benefício em termos de acesso à linha de produção, conhecimento para responder às perguntas, número de rótulos disponíveis para degustação incluídos no tour, preço do ingresso e facilidade no agendamento. Contudo, varia muito de cervejaria para cervejaria, tive ótimas experiências no Reino Unido também.

Parte europeia do roteiro coincidiu com a Oktoberfest de Munique (Crédito: Arquivo Pessoal)

Parte europeia do roteiro coincidiu com a Oktoberfest de Munique (Crédito: Arquivo Pessoal)

O que você pretende fazer com o conhecimento adquirido nessas cervejarias e nas viagens?

Ainda não sei, tento não pensar muito a respeito para não transformar meu período sabático em algo estressante. Eu gosto bastante do mundo financeiro, admiro muito a Unilever, mas eu precisava de um intervalo de tudo para analisar como espectadora a forma como eu estava levando a minha vida. Cerveja é uma paixão, adoraria entrar nesse mercado e ter a possibilidade de me sustentar com isso. Mas, ao mesmo tempo, não veria problema em voltar ao que fazia antes. Aprendi durante esse período que o meu maior problema era a forma como eu encarava o trabalho – tinha que fazer sempre o meu melhor, dar meu sangue quase que literalmente, e deixar o lado pessoal em segudo plano se eu quisesse crescer profissionalmente. Hoje vejo que não é bem assim, que preciso aprender a dizer não e que tem de existir equilíbrio para o sucesso ser sustentável. Quem sabe o ideal seria conciliar a cerveja e o trabalho?

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