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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Gypsy, a série da Netflix que transformou o psicólogo em paciente

A protagonista, Jean Holloway, comete faltas éticas graves ao interferir na vida de seus pacientes

Por Arnaldo Cheixas
Atualizado em 24 jul 2017, 19h39 - Publicado em 24 jul 2017, 19h38

Gypsy (como se nomeiam popularmente os ciganos em inglês) estreou na Netflix no último dia 30. O título brinca com a característica nômade cigana e com a terminação “psy”, diminutivo em inglês para tudo que se refira a psicologia. A série tem como protagonista Jean Holloway (Naomi Watts), uma bem-sucedida terapeuta cognitivo-comportamental de Manhattan.

Jean rompe os limites da neutralidade (aqueles que ela própria recomenda em suas sessões) exigida de um terapeuta e passa a clandestinamente desenvolver vínculos com pessoas que fazem parte da vida daqueles que vão ao seu consultório serem atendidos por ela, especialmente aquelas pessoas que são alvos da obsessão de seus pacientes.

Inicialmente, parece que a profissional busca esse contato movida simplesmente por um desejo de entender melhor as situações clinicamente relevantes e que podem ser (e são) narradas por seus pacientes de forma enviesada. Só que, aos poucos, a moça passa a intervir de forma cada vez mais direta nas vidas de todos e mergulha em um profundo existir a partir de uma identidade falsa que ela cria para se vincular às pessoas que lhe interessam.

https://www.youtube.com/watch?v=HOlx-dqloTo

Mau caráter? Doença mental? Sem dúvida uma falta ética grave… passível de cassação da licença para atender como terapeuta e, a depender das consequências impostas sobre as vidas dos outros, também passível de condenações penais. Mas a série não deixa evidente (pelo menos até o último episódio da primeira temporada – são dez) a explicação para este padrão tão reprovável da terapeuta.

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A própria roteirista (Lisa Rubin, que é estreante em Hollywood e tem uma irmã terapeuta cognitivo-comportamental que auxiliou na produção como consultora técnica) diz que quis criar uma situação na qual a mesa da terapeuta é virada, de modo que a audiência faz o papel de terapeuta ao analisar Jean Holloway, tentando juntar as pistas que permitam entendê-la.

Além da grave invasão que Jean faz sobre os vínculos de seus pacientes, ela também adota recomendações e conselhos demasiadamente diretivos em suas sessões. Um terapeuta jamais deve atuar como Jean. A série mostra, portanto, o perigo que representa um psicólogo que faça mau uso de seu poder interventivo.

Alguns críticos de cinema têm dito que os diálogos são muito longos e que nada acontece, deixando a série carente daquele recurso clássico que mantém um constante estado de tensão em busca da resolução de um dilema presente. Eu não sou crítico de cinema, portanto vi o programa com meus olhos de terapeuta. Na verdade, muita coisa acontece nas cenas e diálogos entre os personagens. Só que simplesmente o desenrolar é mais cotidiano e trivial. E isso conta a favor. O filme mostra a terapeuta exatamente em sua condição humana. Além disso, as cenas são muito bonitas.

Talvez esse jeito um pouco diferente de desenrolar a trama tenha a ver com um fato que tenho visto passar em branco nas críticas que li. A série tem uma alma feminina. Além de Lisa Rubin, Gypsy conta com outras mulheres em funções importantes da produção. Pode ser que tenhamos de sair de nossa zona de conforto enquanto espectadores passivos que dependem de suspense nas cenas para se interessar por um filme e assumir um olhar ativo, atento e sem pressa que é próprio do feminino. Esperemos pela segunda temporada para saber se será possível entender o que levou Jean Holloway a quebrar seu compromisso ético de neutralidade.

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