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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Colocar-se no lugar do outro: o duplo twist carpado das relações interpessoais

Lembo-me de quando, em 2004, eu estava assistindo na TV aos brasileiros nas provas de ginástica artística durante os jogos olímpicos de Atenas. Ginástica artística não é uma modalidade que os brasileiros acompanham e praticam mas, durante as Olimpíadas, havendo chance de medalha, a gente se reúne em volta da TV para torcer como verdadeiros […]

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 26 fev 2017, 16h57 - Publicado em 24 abr 2015, 00h41

Duplo twist carpado

Lembo-me de quando, em 2004, eu estava assistindo na TV aos brasileiros nas provas de ginástica artística durante os jogos olímpicos de Atenas. Ginástica artística não é uma modalidade que os brasileiros acompanham e praticam mas, durante as Olimpíadas, havendo chance de medalha, a gente se reúne em volta da TV para torcer como verdadeiros amantes da modalidade.

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Pois bem. Durante a transmissão, a comentarista falou a respeito da apresentação da atleta brasileira Daiane dos Santos: “Ela executou muito bem um duplo twist carpado mas acabou pisando fora!”. Eu não sabia o que, na modalidade, queria dizer twist (torção) e nem carpado mas, na empolgação da minha torcida ignorante, eu defini que twist era “algo-difícil”.

E Daiane deu, não um simples, mas um duplo twist. Ainda por cima, não qualquer duplo twist, mas um duplo twist carpado. Carpado soou para mim como um “algo a mais, de modo que um twist carpado era “algo-difícil” carpado… um difícil plus, sustenido, mega, ultra.

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Como, após a transmissão da ginástica, eu logo me engajei na torcida em outra modalidade, não me dei ao trabalho de pesquisar o que era. Apenas anos mais tarde entendi que, na ginástica artística, twist é o movimento de giro em torno de si e que carpado serve para descrever a postura corporal. Mas, se me permitem fazer bom uso da minha própria ignorância, quero continuar usando carpado como sinônimo de “algo a mais”.

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Pois bem… saber se colocar no lugar do outro tem um ganho duplo… e não qualquer ganho duplo, mas sim um duplo ganho carpado! É ganho que não acaba mais. É ganho que vale ouro nas Olimpíadas da vida. Assim como a proeza de Daiane dos Santos ganhou o nome de salto “dos Santos” depois do mundial de 2003, se você conseguir executar bem o ato de se colocar no lugar do outro, pode batizar tal ato com seu sobrenome.

Todos os dias me esforço para dar um Cheixas, um  “duplo colocar-se-no-lugar-do-outro carpado”. Nem sempre é fácil, porque nossas inseguranças, medos e neuroses nos boicotam. Mas sempre temos de praticar.

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Falemos, então, dos dois ganhos que acontecem quando nos colocamos no lugar do outro.

Ganho 1: não pisar no tomate

Este é o ganho mais evidente e ao qual as pessoas estão mais habituadas, ainda que seja difícil realmente assumir uma posição que não é a sua. Colocar-se no lugar do outro é o exercício de nossa capacidade de empatia. É um ato de generosidade, de sabedoria e de amor. Quem consegue assumir o ponto de vista do outro consegue abrir mão do próprio interesse em prol de um ganho compartilhado.

Agir dessa forma permite bons vínculos ao longo do tempo porque envolve perdão, compreensão, solidariedade e apoio. Se na primeira vez você teve de abrir mão de algo para favorecer o outro, este mesmo outro provavelmente estará do seu lado quando você precisar e mesmo quando você errar. Ao longo do tempo, ambos ganham.

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Diferentemente, quem não assume a conduta de se por na posição do outro, tende a agir de forma intransigente em relação ao próprios valores. Além de gerar isolamento, ainda corre-se o risco de pisar no tomate, de assumir uma posição com arrogância e descobrir que esta posição era equivocada.

Essa postura produz vínculos não saudáveis ao longo do tempo, acarretando prejuízos à saúde e ao bem-estar, ou seja, uma vida menos feliz. Numa matemática de soma e subtração, não é difícil notar que o melhor é sim esforçar-se para aprender a assumir o lugar do outro. Mas há, ainda, outro ganho produzido por esta postura.

Ganho 2: não entrar em roubada

Quando se pede a alguém que se coloque no lugar do outro, normalmente é visando à compreensão e a complacência, já que gentileza gera gentileza. Ao fazê-lo, é possível relativizar os interesses próprios em relação aos interesses do outro. Disso decorre a compreensão. Mas, de quebra, há um outro ganho que também gera muita satisfação mas que normalmente não é notado: se, por um lado, colocar-se no lugar do outro evita que você seja injusto com ele, ao mesmo tempo evita que o outro seja injusto com você.

Imagine que um conhecido seu de outra cidade toque sua campainha sem aviso prévio às 2h da manhã e diga que precisa de um lugar para ficar por alguns dias porque veio à cidade resolver alguns probleminhas. Você o acolhe ou não? A resposta não é óbvia e é aí que se colocar no lugar do outro pode ajudar a tomar a decisão correta.

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Imaginemos dois cenários diferentes. No primeiro, ele diz que o pai (que mora na cidade) sofreu um infarto do miocárdio algumas horas antes e foi internado em estado crítico para a realização de uma cirurgia. Ele, que já estava em viagem de trabalho, desviou a rota para tomar as providências quanto aos cuidados com o pai. Chegou naquele momento e não encontrou vaga em hotel nenhum.

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É provável que, ao se colocar no lugar do seu conhecido, uma vez que a situação toda é bastante crítica e os eventos foram imprevisíveis, você o acolha, mesmo que a presença dele atrapalhe sua rotina. Isso acontece porque você consegue empatizar com a situação (você esperaria apoio se estivesse na mesma situação) e seu gesto de acolhida é essencialmente humanitário.

Esse exercício lhe ajuda a manter a calma e estabelecer uma interação amistosa. Isso impactará positivamente nos resultados da situação corrente e também no seu vínculo com aquela pessoa. É alguém que provavelmente estará disposto a lhe ajudar em caso de necessidade. E, mesmo que não haja necessidade, esse alguém será para você um vínculo frutuoso e que vale a pena.

Num segundo cenário, digamos que seu conhecido explique que está viajando de carro por várias cidades em férias e que, de passagem por sua cidade, lembrou-se de você e resolveu passar alguns dias na sua casa. Sem fazer o exercício de se colocar no lugar do outro, a tendência é que, embora julgue a ação de seu conhecido inconveniente, você se sinta constrangido e não consiga dizer não.

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Mas se, alternativamente, você rapidamente faz o exercício de se colocar no lugar dele, você provavelmente chegará à conclusão de que, estando no lugar dele, você jamais faria o que ele fez. Nesse caso, dizer não será mais fácil, sem gerar qualquer sentimento de culpa. Este é o segundo ganho do comportamento de imaginar-se na posição do outro. Você evita entrar numa fria.

Colocar-se no lugar do outro é, basicamente, imaginar como você agiria estando exatamente na mesma situação em que o outro se encontra. Este exercício vai orientar sua postura diante da demanda alheia e lhe garantir tranquilidade e interações saudáveis.

Boa sorte no seu próximo duplo twist carpado!

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