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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Por que a gente deve errar, sim

Aprenda sempre com suas falhas

Por Arnaldo Cheixas
Atualizado em 13 jul 2017, 16h48 - Publicado em 13 jul 2017, 16h44

Somos educados desde crianças a fazer as coisas do “jeito certo”. Tem o jeito certo de segurar os talheres, o jeito certo de escovar os dentes, o jeito certo de brincar… o jeito certo de existir. Isso faz sentido, mas apenas parcialmente. Claro que é bom que uma criança aprenda a escovar os dentes da melhor forma possível conhecida até então. Mas não podemos nos esquecer de algumas coisas.

A melhor forma para se fazer algo é sempre a melhor forma possível até aquele momento. Sempre se pode descobrir um jeito novo que torna mais fácil a execução de um objetivo. Essas descobertas só acontecem porque em algum momento, quando o modo dito certo dá errado ou se mostra inviável por alguma razão, alguém se permite experimentar algo diferente. E, ao tentar um objetivo de uma maneira nova, os primeiros resultados quase nunca atingem o objetivo esperado. Mas, depois de variações na ação, os resultados se tornam cada vez melhores.

Ao tentar desatolar um carro da lama, você pode usar algumas estratégias clássicas, caso as conheça. Mas, se não as conhecer, você vai começar a tentar diferentes estratégias até que uma funcione. Questão de sobrevivência. Pode até ser que a solução que você descobrir seja melhor do que as soluções clássicas tidas como as melhores e únicas até então.

Outra coisa importante diz respeito ao processo de aprendizagem. Quando uma pessoa está ensinando outra a fazer algo, é importante se perguntar o objetivo daquilo. Se o objetivo é simplesmente fazer com que o outro aprenda a fazer aquilo do jeito que sempre foi feito porque, afinal, alguém tem de fazer… o que está por trás da “motivação” para ensinar é simplesmente livrar-se da obrigação de ter de fazê-lo.

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Isso é o que ocorre comumente nos trabalhos feitos mecanicamente, de forma robótica. Infelizmente os postos de trabalho funcionam cada vez mais dessa maneira. Sempre com vistas à produtividade, ao aumento do lucro e ao aumento do produto interno bruto da nação. Um golpe mortal na criatividade.

Imagine pais ensinando seus filhos e professores ensinando seus alunos. Se, ao ensinar seu filho ou seu aluno, você só quer se livrar daquela obrigação, você estará matando aos poucos a criatividade de seu filho ou aluno. Se a preocupação dos pais for apenas ensinar a criança a escovar os dentes do modo correto, ela estará sendo educada para ser um indivíduo robótico. Os pais podem simplesmente ensinar o protocolo mas perderão a oportunidade de compartilhar momentos significativos de verdadeira integração e troca com a criança.

Deixar que ela faça do jeito dela, elogiá-la por fazer, brincar com as percepções e sensações que ela experimentar, tudo isso faz parte do aprendizado e do desenvolvimento saudável. Educar e ensinar toma tempo, porque parte do processo é acompanhar a criança também em seus erros. E não apenas para corrigi-los mas também para enaltecê-los. Sim, porque é a sucessão de erros variados que permite o descarte do que não dá certo e a descoberta daquilo que dá.

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Há ainda um argumento comum para sustentar a importância do erro e, dado que estou aqui a defender a liberdade para errar, parece natural que eu o utilize para sustentar minha argumentação: pessoas de sucesso erra(ra)m bastante.

Apesar de esta constatação ser verdadeira, ela esconde um lado perigoso e perverso. O objetivo de permitir-se errar não é ter uma carreira de sucesso. Ao pensar assim, corre-se o risco de transformar o erro em algo artificial e, pior, em fonte de pressão porque o objetivo de toda essa coleção de (permitam-me o linguajar chulo só por um instante) cagadas seria apenas se transformar no líder (CEO é o nome que as pessoas de sucesso usam) de uma grande companhia ou em uma pessoa de sucesso.

Aprender com erros para se tornar uma pessoa de sucesso é apenas outro lado da mesma moeda da necessidade de acerto. Não não… o objetivo de permitir-se errar é simplesmente ser feliz. É evitar cair na falácia de que temos que ter por objetivo ser profissionais de sucesso.

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Erre… mas erre bastante! Aprenda sempre com seus erros! Errar é conhecer cada vez mais a si mesmo. Errar é interagir com o mundo de forma lúdica e prazerosa. Errar é livrar-se da pressão desnecessária pelo certo (que não passa de fantasia). Errar é saber atingir o mesmo resultado de diversas formas. Errar é aceitar as diferenças. Errar é vencer o preconceito. Errar é ter capacidade de adaptação às mudanças do ambiente. Errar é um processo ininterrupto de humanização. Errar é ser feliz!

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