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Musical “Nuvem de Lágrimas” cruza os caminhos de Chitãozinho, Xororó e Jane Austen

Anna Toledo é a autora do musical “Nuvem de Lágrimas”, uma livre adaptação do romance “Orgulho e Preconceito”, da inglesa Jane Austen, embalada por grandes sucessos da dupla Chitãozinho & Xororó. Paranaense, ela veio para São Paulo em 2001 na esteira da intensa fábrica de musicais que se anunciava. Participou dos elencos de “O Beijo da Mulher […]

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 26 fev 2017, 17h03 - Publicado em 17 abr 2015, 09h54
Anna Toledo: autora do musical "Nuvem de Lágrimas" (Foto: Paola Prado)

Anna Toledo: autora do musical “Nuvem de Lágrimas”, que estreia em setembro (Foto: Paola Prado)

Anna Toledo é a autora do musical “Nuvem de Lágrimas”, uma livre adaptação do romance “Orgulho e Preconceito”, da inglesa Jane Austen, embalada por grandes sucessos da dupla Chitãozinho & Xororó. Paranaense, ela veio para São Paulo em 2001 na esteira da intensa fábrica de musicais que se anunciava. Participou dos elencos de “O Beijo da Mulher Aranha”, “O Fantasma da Ópera” e “My Fair Lady”, entre outros, até começar a escrever. Como dramaturga, criou o musical “Vingança”, em 2013, que usava o universo do compositor Lupicínio Rodrigues para contar histórias de amores e traições.  “Nuvem de Lágrimas” tem direção cênica de Tania Nardini e Luciano Andrey e direção musical de Carlos Bauzys. A produção deve estrear em setembro no Teatro Villa-Lobos, que será inaugurado no shopping do mesmo nome. Anna adianta um pouco do espetáculo para nós.

Conta um pouco sobre como surgiu esse projeto?

O Luciano Andrey queria produzir um musical brasileiro com canções de Chitãozinho & Xororó, mas fugindo de um formato biográfico. A proposta foi que eu criasse uma história original como veículo para as canções da dupla.  A ideia de usar a estrutura de “Orgulho e Preconceito” como base foi minha. As canções da dupla Chitãozinho & Xororó falam de amor, de saudade, tem uma pureza e um romantismo universais. Por que não usar um clássico da literatura como inspiração para a trama?

Por que Jane Austen e não um autor brasileiro?

Minha primeira opção foi “Orgulho e Preconceito”. Sou fascinada pela relação de amor e ódio dos protagonistas. E também no romance de Jane Austen a questão central é a diferença social como obstáculo ao amor, outro tema muito presente na música sertaneja. Os diretores Luciano Andrey e Tania Nardini abraçaram a ideia e a produtora parceira, Adriana Del Claro, também. O entusiasmo e a curiosidade que esta combinação provocou parecem indicar que vamos mexer num vespeiro de paixões. Tudo a ver com Chitãozinho, Xororó e Jane Austen.

+ Confira fotos de ensaio do musical “Nine”. 

Onde vai ser ambientada a história e de que forma você trará elementos brasileiros para a dramaturgia?

A trama se passa na zona rural de Santana do Ribeirão, uma cidade fictícia no interior de São Paulo, no início dos anos 90. As personagens e as situações serão familiares às plateias brasileiras: as Irmãs Borba vivem em um rancho com a mãe. O pai delas é caminhoneiro. Bete, a filha do meio, é a gerente da cooperativa agrícola local, mas seu sonho é ser cantora. O advogado Darcy trabalha para a maior fazenda da região, a Fazenda Jardim, e está sempre às turras com Bete e a cooperativa. Os dois logo descobrem que têm mais em comum do que gostariam de admitir, mas são muito orgulhosos para ceder e, se quiserem ficar juntos, terão que enfrentar os próprios preconceitos.

Audições de "Nuvem de Lágrimas": seleção para o elenco de 25 pessoas (Foto: Divulgação)

Audições de “Nuvem de Lágrimas”: seleção para o elenco de 25 pessoas (Foto: Divulgação)

Por que a década de 90?

Por dois motivos. Foi a época em que a música sertaneja explodiu no Brasil e virou o fenômeno pop que é até hoje. Quando penso em música sertaneja, a imagem que vem à cabeça é aquela consagrada pela dupla nos anos 90. Os cabelos de Chitãozinho e Xororó viraram referência, não? É bacana brincar com esta memória afetiva. O outro motivo é que nesta época não se usava telefone celular, internet ou redes sociais. Nem todo mundo tinha um telefone em casa. Um segundo encontro dependia de sorte ou persistência.  Alguém podia levar meses até descobrir onde o outro trabalhava, que lugares frequentava. Sem falar nos desencontros, nos mal-entendidos. Estes obstáculos aquecem o romance e tornam tudo mais saboroso.

+ O novo “tapa na pantera” de Maria Alice Vergueiro.

O livro tem dois séculos. O que mudou – ou não mudou – nas relações pessoais narradas por Jane Austen e o que pode ser considerado tão atual na história?

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“Orgulho e Preconceito” é de 1813. De lá para cá a situação da mulher mudou bastante. Ainda temos chão à beça pela frente, mas a condição feminina na época de Jane Austen era trágica. Casar era uma questão de sobrevivência. As mulheres não tinham direito à herança, então, se não fossem casadas, após a morte do pai, o parente homem mais próximo herdava a casa e as terras. Como trabalho remunerado também estava fora de cogitação para as moças de família, Jane Austen morreu de tuberculose, aos 32 anos, sem dinheiro, vivendo da caridade dos irmãos, apesar de ser uma escritora reconhecida. É uma condição que ela narrou detalhadamente em “Orgulho e Preconceito” e “Razão e Sensibilidade”, sempre com um viés de esperança que ela mesma não pôde experimentar.

O casamento continua sendo tão importante para uma mulher diante da sociedade?

Em “Nuvem de Lágrimas” as irmãs Borba não veem o casamento como a única solução para escapar de um destino miserável, mesmo porque todas trabalham. Elas têm desejos diferentes. E todos os sonhos são válidos. Pessoalmente, vi neste projeto uma oportunidade para reposicionar as personagens femininas como agentes de suas próprias vidas. Bem, as diferenças sociais seguem um obstáculo para muitos relacionamentos. Julgar o outro pela diferença e recusar oportunidades de diálogo continua em voga. A própria música sertaneja, ainda que hoje vastamente assimilada, foi menosprezada durante muito tempo.

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+ Thiago Lacerda vai protagonizar “Macbeth”.

Você vem de uma experiência bem-sucedida com o musical “Vingança”, inspirado no universo de Lupicínio Rodrigues. Ali você criou tramas e personagens relacionados às letras do compositor. Nesse musical também vai acontecer algo semelhante?

Sim. O processo de escrever um roteiro original com canções pré-existentes tem esta dinâmica: as músicas me mostram o caminho e me sugerem situações. No caso, para além da estrutura do romance, eu precisava criar cenas para justificar músicas maravilhosas, que, às vezes, não serviriam aos personagens centrais. Por sorte, o elenco é grande.

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O Chitãozinho e o Xororó acompanham seu trabalho e do Luciano de alguma forma? 

Meu sonho é encontrar a dupla e dar uma palinha com eles! Isto ainda não aconteceu, a agenda deles é desumanamente lotada. É claro, eles são parceiros no projeto, estão muito animados com a ideia de um musical e deram o aval para desenvolvermos o espetáculo com toda a liberdade. A minha ansiedade está a mil. Tentei incluir todos os hits obrigatórios da dupla, mas estamos falando de artistas com 45 anos de carreira.  Já pensou se eles me falam que ficou faltando logo a música preferida deles?

Chitãozinho & Xororó: estouro popular na década de 90

A dupla Chitãozinho & Xororó em 1996: estouro popular na virada dos anos 80 para os 90

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