“A Minha Primeira Vez” e os prazeres do sexo e do teatro
Com a diversão na ponta dos dedos, fica difícil convencer um jovem a pagar ingresso e passar um tanto de horas sentado, vendo algumas pessoas no palco fingindo que são outras. A garotada está mais interessada em cinema e balada, onde pelo menos de vez em quando pode alimentar a fissura tecnológica. O produtor e […]
Com a diversão na ponta dos dedos, fica difícil convencer um jovem a pagar ingresso e passar um tanto de horas sentado, vendo algumas pessoas no palco fingindo que são outras. A garotada está mais interessada em cinema e balada, onde pelo menos de vez em quando pode alimentar a fissura tecnológica. O produtor e diretor Isser Korik percebeu a necessidade de investir nesse público — o pagante de amanhã e ainda ausente das salas de espetáculos — e montou no Teatro Folha algo pertinente para eles.
Adaptação de uma peça do americano Ken Davenport, a comédia “A Minha Primeira Vez” traz um assunto que obceca adolescentes e jovens adultos: a perda da virgindade e o deslanchar da vida sexual. Uma turma bonitinha e relativamente conhecida foi escalada. Os atores Emiliano d’Avila, Ronny Kriwat e Luana Martau vieram de uma novela de grande sucesso, “Avenida Brasil”. A bela Tammy Di Calafiori também fez bonito nas novelas “Ciranda de Pedra” e “Passione”. Menos conhecido e, no entanto, mais versáteis, Ian Soffredini e Gabriella Vergani completam o sexteto. Mas o principal atrativo é um texto baseados em depoimentos reais colhidos em um site criado para este fim (www.aminhaprimeiravez.com.br), assim como feito nas outras versões internacionais.
O elenco protagoniza cenas que vão do divertido ao romântico, do trágico ao emotivo, diante de um cenário virtual que reproduz imagens no fundo do palco. Está lá o casal flagrado pelo porteiro no elevador, a menina difícil que perde o namorado, o último virgem da turma, a garota violentada, a jovem da cidade grande encantada com o filho do caseiro da fazenda e por aí vai… Nada muito surpreendente.
Fiel as suas intenções, Isser Korik concebeu um encenação dinâmica, visual e disposta a estabelecer uma interação. Na chegada, o espectador preenche um questionário sobre sua iniciação. O que parece mera indiscrição vira recheio entre os esquetes. Tal agilidade faz a montagem resultar um tanto recortada — e coerente com sua proposta de cativar a juventude internauta -, também disfarçando a irregularidade do elenco. Mas quando o depoimento fica mais pesado, o espetáculo se justifica. O monólogo protagonizado por Luana Martau sobre a moça que tira a virgindade do irmão condenado para que ele não morra sem conhecer o sexo provoca, confunde e emociona. E se algum garoto que estiver pela primeira vez no teatro mergulhar nessa sensação, ele vai voltar outras vezes e começar a entender o quanto pode ser legal ver pessoas no palco fingindo que são outras.